IHU On-Line - A recente notificação da Congregação para a Doutrina da Fé sobre duas obras de Jon Sobrino coloca novamente em pauta a Teologia da Libertação. Por que motivo esta teologia, que alguns chegam a considerar defunta, continua provocando tanta inquietação?
Faustino Teixeira – É importante ressaltar que a recente notificação das obras de Jon Sobrino insere-se num quadro recorrente de desconfiança do magistério católico-romano com determinados expoentes da Teologia da Libertação. Com base na lista das notificações realizadas pela Congregação para a Doutrina da Fé (CdF) ao longo desses últimos 25 anos, duas atingiram teólogos da libertação: Leonardo Boff (1985) e Jon Sobrino (2006). Vale também registrar a Instrução da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a Teologia da Libertação (TdL), de 1984, que assinalava como um de seus objetivos “chamar a atenção dos pastores, dos teólogos e de todos os fiéis, para os desvios e riscos, perigosos para a fé e para a vida cristã, presentes em certas formas da Teologia da Libertação”. Na ocasião, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé era o cardeal Ratzinger, hoje papa Bento XVI. Este mesmo cardeal, em conferência realizada em Guadalajara, em 1996, para os presidentes das Comissões Episcopais da América Latina para a Doutrina da Fé, mencionava o risco representado pela Teologia da Libertação nos anos 1980. A seu ver, nas suas expressões mais radicais, a Teologia da Libertação “constituía a provocação mais premente contra a fé da Igreja”. O que ocorre agora com Jon Sobrino é apenas mais uma manifestação da dificuldade, resistência e oposição de segmentos romanos contra esta forma profética de reflexão teológica. O próprio Sobrino menciona, em sua carta ao Padre Geral dos jesuítas, que suas dificuldades com Roma acontecem desde 1975. Mas há que sublinhar que esta forma de expressão teológica talvez tenha sido a contribuição mais original da América Latina para todo o mundo, e uma provocação radical para a igreja universal. O teólogo alemão Johann Baptist Metz reconheceu a importância providencial das igrejas latino-americanas para toda a igreja universal: e, em particular, a provocação que trazem consigo, de luta em favor da libertação e da afirmação da justiça. A Teologia da Libertação vem exercendo ao longo dos anos esta tarefa de aquecer a “memória perigosa” de Jesus e sua causa de afirmação da vida, e isto certamente incomoda. Como sublinhou Ernesto Balducci , as caravelas retornam das Índias com os novos anunciadores do Evangelho. Na verdade, o que causa de fato inquietação são as condições requeridas para a herança no Reino de Deus: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, e acolher os mais necessitados (Mt 25, 31-46).
IHU On-Line - Uma das grandes dificuldades da ortodoxia católica com respeito à Teologia da Libertação é a afirmação de uma “nova hermenêutica” que envolve uma ortopraxis. Jon Sobrino fala em “hermenêutica da práxis”. Para ele, não há como compreender Jesus fora da prática de seu seguimento. Qual o alcance dessa reflexão teológica e em que medida ela provoca uma mudança na reflexão cristológica em curso?
Faustino Teixeira – Não há dúvida sobre a novidade da reflexão cristológica de Jon Sobrino, que é também partilhada por outros teólogos da libertação. O que ele se propõe é resgatar a imagem de Jesus Cristo libertador e de seu anúncio do reino, que é o núcleo de sua pregação. De fato, Jesus nunca foi cristocêntrico, mas teocêntrico. O que incomoda Sobrino é a constatação de que “séculos de fé em Cristo não foram capazes de enfrentar a miséria da realidade nem sequer de suspeitar que, neste continente, há algo de escandaloso na coexistência entre miséria injusta e fé cristã”. O que ele se propõe é resgatar a dignidade da cristologia, da imagem histórico-libertadora de Jesus de Nazaré, enquanto “desmascaramento e superação do acristão ou anticristão de imagens anteriores”. A teologia hermenêutica reconhece hoje com clareza que o cristianismo, antes de ser uma mensagem na qual se deve crer, é uma “experiência de fé que se torna uma mensagem” (Schillebeeckx ). É esta experiência de fé, fundada na práxis de Jesus, que Sobrino busca recuperar: do Jesus como mistério que dá vida. Ele assinala a necessidade de se voltar a Jesus, pois “sem sua historicidade concreta o Cristo se transforma num ícone”. Trata-se, a seu ver, de um retorno à práxis de Jesus, mas também ao espírito que animou esta prática, marcado pela honradez para com a realidade, pela acolhida aos mais fragilizados, pela misericórdia fundante e pela fidelidade ao mistério de Deus. O alcance desta reflexão teológica é novidadeiro e desestabilizador. Instaura-se a exigência de uma nova hermenêutica, que não é simplesmente existencial, mas práxica. Para que haja um adequado conhecimento de Jesus faz-se necessário uma “prática para se relacionar adequadamente com ele: o seguimento”.
IHU On-Line - Na recente notificação sobre as obras de Jon Sobrino há um questionamento aos pressupostos metodológicos utilizados pelo teólogo de El Salvador, em particular a idéia da “Igreja dos pobres” como lugar teológico fundamental. Como situar a centralidade da questão dos pobres na Teologia da Libertação?
Faustino Teixeira – De fato, na visão de Jon Sobrino a igreja dos pobres constitui “o lugar eclesial da cristologia por ser uma realidade configurada pelos pobres”. Para entender esta afirmação, torna-se necessário captar a essencial relação que existe entre o reino de Deus e os pobres, um tema que foi objeto da brilhante tese doutoral de Inácio Neutzling. Este autor mostra, com pertinência, que no Sermão da Montanha Jesus declara os pobres bem aventurados não por uma razão secundária, mas porque deles é o reino de Deus. Na visão de Neutzling, “as bem-aventuranças significam na boca de Jesus a proclamação de um ‘rotundo não’ da parte de Deus sobre a ordem de valores morais, religiosos, sociais, econômicos e jurídicos vigentes”. Um dos autores que melhor destacou esta relação, e que influenciou profundamente a Teologia da Libertação, é Jacques Dupont . Em sua volumosa obra sobre as bem-aventuranças, assinalou que os pobres são acolhidos preferencialmente por Deus não pelo fato de serem melhores que os outros, ou estarem melhor preparados para receber o reino, mas porque Deus quer fazer de seu reino uma demonstração magnífica de sua justiça e de seu amor em favor dos desvalidos. Para Dupont, “proclamar que os pobres são bem-aventurados é simplesmente uma outra maneira de dizer que o reino de Deus está próximo”. Esta atenção para com a igreja dos pobres não é exclusividade da Teologia da Libertação. Estava já presente na radiomensagem de João XXIII em setembro de 1962, nas vésperas do Concílio Vaticano II e foi objeto de calorosas discussões de um grupo de bispos e peritos agrupados em torno do Colégio Belga, durante o Vaticano II (do qual fez parte ativa Hélder Câmara , então arcebispo auxiliar do Rio de Janeiro). Ecos expressivos desta discussão sobre a igreja dos pobres ocorreram na aula conciliar, sobretudo com a intervenção do cardeal Lercaro no dia 06 de dezembro de 1962, ao final da primeira sessão conciliar. Sua intenção era de introduzir, no núcleo do ensinamento doutrinal do Concílio, um aspecto essencial do mistério de Cristo na igreja, que é o “mistério de Cristo nos pobres”. E, para ele, este não seria um entre outros temas do Concílio, mas o “único tema de todo o Vaticano II”. Semelhante sensibilidade animou os bispos latino-americanos em Puebla, quando falaram da opção preferencial pelos pobres: “os pobres merecem uma atenção preferencial, seja qual for a sua situação moral ou pessoal em que se encontrem. Criados à imagem e semelhança de Deus para serem seus filhos, esta imagem jaz obscurecida e também escarnecida. Por isso Deus toma a sua defesa e os ama” (n. 1142). Como podemos observar, Jon Sobrino e a Teologia da Libertação não dizem nada diferente do que vem sendo afirmado pela boa tradição teológica e conciliar. Se é correto dizer que ubi Christus, ibi ecclesia, também é verdade acrescentar, como diz Sobrino, que ubi pauperes ibi Christus.
IHU On-Line - Ainda na notificação sobre as obras de Jon Sobrino há uma inquietação sobre a ênfase dada pelo autor no Jesus histórico, bem como na sua relacionalidade. Na visão de Sobrino, torna-se problemática a “absolutização absoluta de Cristo”, ou seja, o esquecimento da dupla relacionalidade de Jesus: “com o reino de Deus e o Deus do reino”. Está havendo um certo risco de cristomonismo, na tendência em curso de questionamento do "reinocentrismo” da Teologia da Libertação e o que isso significa para a Igreja na América Latina?
Faustino Teixeira – A recuperação da relacionalidade de Jesus é um dado muito acentuado na reflexão teológica contemporânea. Um claro exemplo encontramos na “cristologia integral” defendida por Jacques Dupuis , que busca recuperar a dimensão trinitária do mistério cristológico, evitando o risco do cristomonismo. Para Dupuis, o modelo cristológico pós-calcedoniano, que enfatiza uma “cristologia do alto”, acentuou de tal forma a divindade de Jesus que incorreu no risco de comprometer a “integridade e autenticidade de sua existência humana”. Outros autores como Duquoc , Schileebeckx e Gesché , assinalam que Jesus sempre aponta para além de si, rumo ao mistério maior do Deus da vida. Para Gesché, o ponto mais misterioso de imanência do cristianismo é o que assinala a permanente distância que separa Deus de nós. Este autor sublinha, com base em Congar , a possibilidade de um cristocentrismo não cristão, ou seja, de um “cristianismo que absolutize o cristianismo (Cristo inclusive) e sua revelação”. Uma tal absolutização do cristianismo seria para ele idolatria, na medida em que rejeitaria, na prática, a distância e a inacessibilidade do mistério maior de Deus. Em semelhante direção vai a reflexão de Jon Sobrino. O que ele questiona é um Cristo “absolutamente absoluto”, desconectado de sua relação essencial com o reino de Deus e o Deus do reino. Para Sobrino, torna-se problemático absolutizar o mediador Cristo e ignorar a sua “relacionalidade constitutiva com a mediação, o reino de Deus”. Não sem razão, assinalou que o maior receio do terceiro mundo é um Cristo sem reino. Segmentos do magistério romano temem o reinocentrismo defendido pela Teologia da Libertação e vêem ali o risco de certa concentração nos valores evangélicos como justiça e paz, de ênfase secularizadora nas lutas de libertação, e de relativização do lugar da igreja. Daí acentuarem com vigor a íntima relação que vigora entre o reino e Jesus e o reino e a Igreja.
IHU On-Line - Quais são os desafios do pluralismo religioso hoje, para o fazer teológico na América Latina?
Faustino Teixeira – O pluralismo religioso tem sido um dos campos de grande interesse da Teologia da Libertação no momento atual. É o tema que tem concentrado a atenção da Comissão Teológica Latino-Americana da Associação Ecumênica de Teólogos e Teólogas do Terceiro Mundo (ASETT). Sob a coordenação desta Comissão foram publicados 4 volumes envolvendo a questão dos desafios do pluralismo religioso para a Teologia da Libertação. Ainda sob o impulso desta mesma Comissão, acaba de ser publicado um número da revista internacional de teologia, Concilium (1/2007), dedicado integralmente ao tema da teologia e pluralismo religioso, com importantes contribuições de teólogos da libertação. O grande desafio consiste em pensar o pluralismo religioso como um valor irredutível e irrevogável, como um dado de princípio e direito, e não apenas como algo conjuntural e passageiro. Como mostrou Leonardo Boff, no prefácio de um dos volumes da coleção da ASETT, “assim como existe a imensa biodiversidade da natureza como fato e como incomensuurável valor que merece ser preservado, de forma semelhante existe a diversidade das religiões, que são fatos e valores a serem apreciados, pois são manifestações do humano e da experiência religiosa da humanidade”. Esta nova perspectiva de abordagem do pluralismo provoca, necessariamente, uma profunda revisão de todos os grandes tratados da teologia.
IHU On-Line - Em recente artigo, o teólogo Clodovis Boff assinalou que a Conferência de Aparecida não poderá ser a repetição, ainda que atualizada, das Conferências de Medellín, Puebla e Santo Domingo, mas deverá, sim, inovar em sua forma e acento, face aos novos “sinais dos tempos”. Será o caso? Por quê?
Faustino Teixeira – Este artigo de Clodovis Boff , publicado recentemente na Revista Eclesiástica Brasileira (v. 67, n. 265, janeiro de 2007), tem dado o que falar. O autor é um dos mais importantes teólogos latino-americanos e sempre animado por reflexões instigadoras. Creio que ele é um interlocutor de peso para o debate atual, e sua reflexão deve ser levada em consideração, mas não necessariamente adotada. Segundo Clodovis, a Conferência de Aparecida deveria ter um respiro próprio, não necessariamente na linha da retomada da “tradição latino-americana”. Ele fala em “continuidade de fundo” e “descontinuidade de forma”. Enfatiza a importância do tratamento de outras questões, relacionadas com o novo clima de atenção aos “valores e sentidos” e, em particular, a “busca de experiência religiosa”. Sinto também em seu texto uma preocupação de firmar na pastoral o “pólo religioso” e a “identidade da igreja” num tempo marcado pela relativização. Fala também na necessidade de uma “missão intrépida” da igreja em reação à “investida proselitista” dos pentecostais. A tônica de compromisso social, que é traço da “tradição latino-americana”, seria para ele “complementar” ao pólo que ganha mais urgência no momento atual, que é o religioso. Mas discordo dele quando diz que a opção pelos pobres já parece ganha ou aceita por todos, tendo sido “interiorizada pela Igreja”. A própria notificação das obras de Jon Sobrino, na crítica à sua metodologia, é um sinal em contrário. Agora, concordo com Clodovis quando ele diz que a discussão precisa ser ampliada, inclusive na linha de um maior aprofundamento da espiritualidade. Não há dúvida de que a situação do continente é distinta em relação às décadas anteriores: novos complicadores entraram em cena, como o crescimento da violência, a banalização da morte, a “corrosão do caráter”, a “desfuturização” e o acirramento das incertezas. Em entrevista concedida ao jornal O Globo, o escritor americano, John Updike , toca num ponto que é nevrálgico: “A violência vem da falta de futuro. São jovens que não têm nada a perder. Eles já vivem no inferno. A vida para eles parece terrível demais e, o que é pior, não há saída para este inferno cotidiano. No caso do Brasil, isto vem da miséria misturada à falta total de perspectiva. Não sobra nada: não há qualquer noção do que seja dignidade, do que seja decência. Não há esperança na visão de mundo desses jovens”. Trata-se de uma situação nova que desafia o trabalho teológico: de oxigenar de sentido um tempo marcado pela desesperança e pelo nihilismo. Sobre isto, Clodovis tem razão.
IHU On-Line - Quais são as perspectivas para a Va. Assembléia da Conferência Episcopal Latino-Americana em Aparecida, depois da “notificatio” sobre a obra de Jon Sobrino?
Faustino Teixeira – A conjuntura não é muito favorável para sonhos alternativos. A tendência que se percebe nos documentos preparatórios é de sintonia fina com o horizonte geral da conjuntura eclesiástica internacional. Tentativas de maior influência na Conferência, na linha de uma reflexão mais sintonizada com a teologia latino-americana, estão sendo feitas, como é o caso do grupo de teólogos e teólogas da Ameríndia. A recente publicação do grupo, Sinais de esperança: reflexão em torno dos temas da Conferência de Aparecida, pode ser um germe fermentador de novidade. Há que acreditar na força do Espírito. Mas não há dúvida de que a notificação das obras de Jon Sobrino criou um clima de desencanto entre muitos teólogos latino-americanos e em particular entre os brasileiros.
IHU On-Line - Quais são as possibilidades e os limites da criação de novos espaços para o exercício da reflexão teológica latino-americana, para uma teologia cada vez mais pública?
Faustino Teixeira – Sou um intrépido defensor da criação de espaços livres para uma teologia pública no Brasil. Está na hora de a teologia deixar de ser simplesmente refém do magistério eclesiástico e poder trabalhar com mais liberdade. Um dos grandes professores que tive na Gregoriana, Juan Alfaro – que também apoiou brilhantemente Jon Sobrino -, defendeu, em brilhante artigo sobre a teologia diante do magistério, o direito ao exercício da liberdade acadêmica do teólogo. No seu entendimento, a reflexão teológica deve atuar unida ao magistério, mas não identificada com ele. O trabalho do teólogo é sempre um trabalho marcado por “fidelidade criadora” e deve buscar avançar sempre mais na reflexão, em sintonia com os sinais dos tempos. E o magistério eclesiástico, por sua vez, como assevera Alfaro, deve estar consciente de sua “não identificação com a revelação e de sua subordinação à soberania da palavra de Deus”. Jon Sobrino, em sua carta a Kolvenbach mostrou a razão e o sentido da verdadeira dignidade do trabalho teológico. Discordou da notificação a ele inflingida por reconhecer ali a presença de “ignorância, preconceito e obsessão para acabar com a Teologia da Libertação”. Teve a ousadia e coragem de não subscrever a notificação da Congregação para a Doutrina da Fé, dizendo: “não é ético para mim ‘aprovar ou apoiar’ com minha assinatura um modo de proceder pouco evangélico”. Assumiu, com coragem, o que é a verdadeira obediência eclesial. Como assinalou Ratzinger, em artigo iluminado do passado, “a verdadeira obediência não é a dos aduladores (…), ou daqueles que evitam qualquer obstáculo. A verdadeira obediência manifesta-se no testemunho, muitas vezes carregado de sofrimentos. A verdadeira obediência é a que sempre busca a verdade e a que se deixa arrastar pelo verdadeiro amor”. E sabemos que o que está na base de toda a reflexão de Jon Sobrino e um amor gratuito e profundo aos pobres e ao Deus do Reino. Um dos grandes obstáculos ao exercício livre da teologia hoje no Brasil é a dependência da autorização eclesiástica para o exercício de ensino teológico nas faculdades particulares. Concordo aqui com os teólogos que assinaram em 1989 a Declaração de Colônia: identificaram neste “mandato da atividade eclesiástica competente” um “pesado e perigoso atentado à liberdade de pesquisa e de magistério”. Penso que está na hora de se pensar soluções mais criativas e abertas para a formação teológica no Brasil, com a possibilidade de criação de programas de graduação e pós-graduação em teologia que possam ser regidos por estatutos e regimentos das próprias universidades, e marcados pela sensibilidade e dinâmica multidisciplinar.
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