terça-feira, 13 de abril de 2010

Entrevista na revista Ultimo Andar PUC/SP

ÚLTIMO ANDAR 
caderno de pesquisa em ciências da religião 
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências da Religião/PUC-SP 
n. 15 – 2006 

ÚLTIMO ANDAR

caderno de pesquisa em ciências da religião

Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências da Religião/PUC-SP

n. 15 – 2006

 

FAUSTINO LUIZ COUTO TEIXEIRA (Entrevista)

 

Dialogando para dialogar: a caminho de uma escuta

sensível da musicalidade do outro

 

Faustino Teixeira foi conferencista no seminário promovido pelo Fórum

Nacional Permanente do Ensino Religioso (Fonaper) em parceria com a PUC-

SP em outubro de 2006. Na ocasião, concedeu-nos esta entrevista, momento

que consideramos especial pelo prazer do diálogo e pela delicadeza no trata-

mento das questões abordadas. Pesquisador do CNPQ em Mística Compara-

da, Faustino é docente no PPCIR – Programa de Pós-Graduação em Ciência

da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Ao tratar de temas

como teologia do pluralismo, diálogo inter-religioso, ciências da religião, en-

sino religioso e teologia da libertação, faz-nos atentar para o cuidado com as

pretensões totalizantes do saber ocidental, defendendo um pluralismo religio-

so de princípio e a importância do diálogo. Convida-nos, ainda, à via do cora-

ção, que nos permitirá captar a singularidade e a especificidade do religioso.

Afirma que seu coração bate mais forte pela pesquisa em mística comparada

e destaca os seminários que têm acontecido uma vez por ano, em Juiz de Fora,

com pesquisadores de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, entre eles o

professor do nosso programa, Luiz Felipe Ponde, e alguns de nossos colegas

mestrandos e doutorandos.

 

Faustino Teixeira was lecturer at the seminary promoted by Religious Teaching

Permanent National Forum (FONAPER) in association with PUC/SP in october

2006. At the occasion he granted us an enterview, a moment which we

considerated very special because of the pleasure of the dialog and the

politeness about the approached questions. Faustino is a researcher at CNPQ

in Compared Study of Mystical, and teacher Science of Religion Postgraduation

Program at Federal University of Juiz de Fora. By dealing with subjects like

pluralism theology, inter-religious dialogue, Science of Religion, religious

teaching and liberation theology, he suggest us to be careful about the totalizing

pretentions of the occidental knowledge, defending religious pluralism as a

principle and the valuableness of the Dialogue. Inviting us to the heart way

which will allow us to captivate the religious singularity and uniqueness. He

assert that his heart beat louder for the research of Compared Study of Mystic

and detach the seminaries that happens once a year at Juiz de Fora, with

researchers from Minas Gerais, Rio de Janeiro and São Paulo, among them,

our program teacher, Luiz Felipe Pondé and some of our mastership and

doctorate students.

 

1 Entrevista realizada por Viviane Cândido, doutoranda em Ciências da

Religião pela PUC-SP e Angela Maria Lucas Quintiliano, mestranda em

Ciências da Religião pela PUC-SP.

 

  1. Fale-nos um pouco sobre você. Atualmente o que está fazendo? A que pesquisas tem se dedicado?

 

O meu trabalho acadêmico atual está concentrado em pesquisas na área de mística comparada, teologia do pluralismo religioso e diálogo inter-religioso. Mas tenho também algumas inserções no campo das ciências sociais da religião. Foi em torno deste campo que organizei junto com a antropóloga Renata Menezes o livro “As religiões no Brasil”, que acaba de sair publicado pela editora Vozes. Foi o fruto de um seminário promovido pelo ISER-Assessoria (onde participo como consultor) em Juiz de Fora, e que reuniu cientistas sociais da religião de várias partes do Brasil. E estamos organizando um outro livro sobre catolicismo, com previsão de publicação para o ano próximo, pela mesma editora Vozes. Mas minhas pesquisas principais vêm se concentrando na área de mística comparada. É em torno deste campo que se insere uma pesquisa minha, enquanto pesquisador do CNPQ, sobre os “buscadores do diálogo”. Trata-se de um trabalho de fôlego, que envolve a pesquisa sobre místicos cristãos que fazem uma experiência de fronteira com outras tradições religiosas: Henri le Saux (com o hinduísmo), R.Panikkar (com o hinduísmo), Thomas Merton (com o budismo), Louis Massignon (com o islamismo). Esta pesquisa vem sendo ampliada com a inserção de outros importantes nomes como Simone Weil e Ernesto Cardenal. Tem sido um trabalho muito instigante e animador. Acabou se transformando num dos cursos que tenho dado regularmente no nosso programa de pós-graduação em ciência da religião (PPCIR), e que tem provocado grande interesse entre os alunos. E dele tem nascido instigantes temas de dissertação de mestrado. No âmbito da teologia do pluralismo religioso tenho escrito vários artigos nos últimos anos, que buscam favorecer a irradiação no Brasil de uma reflexão que vem ganhando cada vez mais força no exterior. Vale registrar minha colaboração no singular trabalho desenvolvido pela Associação Ecumênico dos Teólogos e Teólogas do Terceiro Mundo (ASETT) em torno da teologia do pluralismo religioso na América Latina. Já foram publicados 4 volumes sobre o tema (em português e espanhol) e o primeiro número de 2007 da revista internacional de teologia – Concilium – vai ser inteiramente dedicado ao tema. E para este numero escrevi um artigo sobre o pluralismo religioso como um novo paradígma para a teologia. Mas é no campo da mística comparada que o meu coração bate mais forte. Tenho um carinho muito especial por esta área de pesquisa e de experiência. Não posso deixar de destacar os cinco seminários sobre o tema que realizamos em Juiz de Fora, tendo acabado de acontecer o último, neste mês de novembro de 2006. São seminários muito especiais, que congregam pesquisadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Juiz de Fora. É impressionante verificar a riqueza e qualidade dos trabalhos que vêm sendo apresentados nesses seminários de Juiz de Fora, bem como a generosidade de pesquisadores como Luis Felipe Pondé, Marco Lucchesi, Maria Clara Bingemer e tantos outros, que têm contribuído de forma muito especial para a afirmação dos estudos nesta área nem sempre levada na devida consideração no âmbito da academia. Foi a partir destes seminários que nasceu a idéia de um ciclo de publicações sobre o tema, e que foi acolhido com grande carinho pela editora Paulinas (São Paulo). O primeiro livro, “No limiar do mistério: mística e religião”, foi publicado em 2004 (e nele escrevi um artigo sobre a mística de Rûmî); o segundo acaba de sair, pela mesma editora, e tem como título: “Nas teias da delicadeza: itinerários místicos” (onde também tem um artigo meu sobre a mística de João da Cruz). Nos meus estudos sobre a mística, tenho dedicado muita atenção às pesquisas sobre João da Cruz, Thomas Merton e Ernesto Cardenal (no âmbito do cristianismo); e Ibn ´Arabi e Rûmî (no âmbito da mística islâmica). Para o próximo ano, quando serão celebrados os 800 anos de nascimento de Rûmî (setembro de 2007), estamos programando a publicação de um livro sobre esse grande místico sufi, pela editora Fissus (Rio de Janeiro).

 

  1. Quais as suas publicações mais recentes?

 

No campo das ciências sociais da religião posso destacar duas obras que organizei recentemente: Sociologia da Religião: enfoques teóricos. Petrópolis: Vozes, 2003 e As religiões no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2006. No campo da teologia do pluralismo religioso tem o livro que publiquei em português, catalão e espanhol. A segunda edição deste livro, revista e aumentada, foi publicada recentemente: teologia de las religiones. Quito: Abya-Yala, 2005. Há também nesta área alguns artigos publicados recentemente: O desafio do pluralismo religioso para a teologia latino-americana (2003); Karl Rahner e as religiões (2004); O Concílio Vaticano II e o diálogo inter-religioso (2004); Uma cristologia provocada pelo pluralismo religioso (2005); Sonhos e esperanças de cortesia espiritual (2005); Eclesiologia em tempos de pluralismo religioso (2006); A teologia do pluralismo religioso na América Latina (2006);  Uma teologia de amor ao pluralismo religioso e O pluralismo inclusivo de Jacques Dupuis (artigos que estão no prelo e que deverão sair em livro pela editora Paulinas em 2007 – num livro de homenagem a Jacques Dupuis); O pluralismo religioso como novo paradigma para a teologia (no prelo da revista Concilium); Substância catolica e religiões (artigo sobre Paul Tillich e que está no prelo da revista eletrônica Correlatio, da UNIMEP). No campo da mística comparada há os dois livros que organizei recentemente e que já foram mencionados na resposta anterior. Pode-se também destacar o livro de orações, organizado junto com Volney Berkenbrock: Sede de Deus: orações do judaísmo, cristianismo e islã. Petrópolis: Vozes, 2002. E também um artigo meu sobre a a experiência de Deus no Islã, publicado num livro organizado por Marco Lucchesi: Caminhos do Islã. Rio de Janeiro: Record, 2002.

 

  1. Neste seminário, do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso, está sendo lançado o livro Ensino Religioso e Formação Docente, aliás, tema do seminário. Em seu artigo você propõe o Ensino do Religioso, qual é a razão?

 

Esta questão do “ensino do religioso” foi apontada num interessante estudo realizado na França por Regis Debray em fevereiro 2002. Era sua preocupação tentar enfrentar o problema da “incultura religiosa” dos estudantes das escolas públicas francesas, decorrente da ruptura dos canais de transmissão da memória religiosa na tradição secular francesa. E a ausência deste capital de informação estaria tendo repercussões muito negativas para a formação do estudante, e sua compreensão de fenômenos históricos e culturais. A proposta de Debray não rompe com a tradição da laicidade francesa, mas indica a sugestão de se passar de uma “laicidade de incompetência” (que desinteressa radicalmente do fenômeno religioso) para uma “laicidade de inteligência” (que indica o dever de compreender este fenômeno). A pista por ele lançada vai no sentido de uma aproximação descritiva e nocional do fenômeno religioso, tendo em vista a sua pluralidade: uma aproximação que seja “sensível, transversal e interdisciplinar”. Quando falo no meu artigo sobre o “ensino do religioso” estou buscando um posicionamento alternativo, seja com respeito ao modelo de um ensino confessional tradicional, como o adotado no estado do Rio de Janeiro em 2000 (proposto pelo deputado Carlos Dias com o apoio da Arquidiocese local), ou o modelo de uma rigidez laicista, que simplesmente exclui qualquer possibilidade do ensino da religião na escola pública. E aqui entra o contributo das ciências da religião, no sentido de facultar condições para o aperfeiçoamento do “ensino do religioso” na escola pública. Mas o profissional responsável por esse ensino deve ter uma atenção redobrada para não passar a imagem do fenômeno religioso como algo “inerte e descolorido”, ou seja, deve estar atento para não reduzir este fenômeno a uma simples “rapsódia de observações exteriores e frias”, mas saber mostrar com competência que em sua base existe um “engajamento” existencial vivido com  empenho e seriedade. É muito importante que o educador que se proponha a trabalhar o ensino do religioso desenvolva um “ouvido musical para a religião”, que desenvolva uma cognição afinada para também poder captar a especificidade do religioso vivido. Estamos aqui diante do fundamental desafio de uma nova “cultura epistemológica”, como identificou Luiz Felipe Pondé, que rompe com a posição tradicional do “ateísmo metodológico” e passa a levar mais a sério o evento do “tato religioso”. Isto na pratica significa responder ao imperativo de um “alargamento” de nosso próprio conceito de razão, bem como o esforço de atenção para outras dimensões que possam favorecer a apreensão da realidade em sua totalidade. Como apontou recentemente o filósofo e líder político e espiritual iraniano Muhammad Khatami, em critica contundente às pretensões totalizantes do saber ocidental, o intelecto – muitas vezes – só consegue alcançar as “cercanias do transcendente”.

 

  1. O tema do pluralismo religioso é recorrente tanto em Ciências da Religião quanto no Ensino Religioso e na Teologia, temas aliás de seus estudos e muito de sua produção. Como você vem tratando atualmente esta questão?

 

Toda a minha reflexão vai no sentido de defender o pluralismo religioso de princípio, ou seja, mostrar que o pluralismo religioso não é um fenômeno contingencial ou passageiro, mas que é uma realidade duradoura e portadora de um valor fundamental. A diversidade religiosa não pode ser vista como um problema, mas como um valor essencial. O reconhecimento do valor irredutível e irrevogável da alteridade é pré-requisito essencial para todo aquele que se proponha abordar de forma séria o fenômeno religioso. E também no campo do “ensino do religioso” isto é fundamental. Não há como tratar a experiência religiosa do outro como expressão unicamente de uma busca ou ânsia humana, destinada a encontrar o seu acabamento ou remate em outra experiência, considerada superior, enquanto monopolizadora da dinâmica reveladora. E para o diálogo inter-religioso isto também é muito importante. O diálogo requer, antes de tudo, abertura e reciprocidade.

 

 

 

 

  1. Em sua última entrevista para a Último Andar você tratou da Teologia da Libertação. Como você vê esta questão hoje?

 

Sobre este tema escrevi recentemente um longo artigo, que foi publicado em livro publicado pela editora do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) em 2006 (Teologia da libertação e educação popular a caminho). No meu artigo, que teve como titulo “teologia da libertação: eixos e desafios”, busquei abordar não só o resgate histórico da teologia da libertação (TdL), como também o seu método, sua contribuição aos movimentos sociais, e seus desafios no tempo atual. Dentre os desafios, apontei a espiritualidade, a abertura ao pluralismo religioso, a questão feminina e o respeito e cuidado para com a comunidade da vida. Vale destacar, de forma singular, a preocupação atual dos teólogos da América Latina com o tema do pluralismo religioso. Desde que nasceu, no final dos anos 60, a TdL vem sendo dinamizada por provocações diversificadas, e de forma bem interessante, vem buscando alargar suas cordas de forma a atender aos novos desafios do tempo.

 

  1. Falando de seu site, uma coisa que se destaca é essa sensibilidade que você insiste com relação à verdade do outro. Pensando nisso, nessa sua identidade, perguntamos: como podemos relacionar o homem e a mulher à experiência religiosa e depois essa questão da experiência religiosa dentro das Ciências da Religião e da Teologia?

 

Há hoje uma discussão acirrada no campo das ciências da religião sobre o lugar do pesquisador diante de seu objeto de pesquisa. É um debate complexo e delicado: toda essa discussão do insider e outsider. Para aqueles que, como eu, trabalham o tema da mística, coloca-se o difícil desafio de captar a singularidade da experiência vivida. Nos damos conta da precariedade que marca a perspectiva de pesquisas que buscam concentrar-se unicamente no relato, de forma fria e distanciada. É uma pesquisa que “arranha a casca”, que fica na superfície, sem tocar a substância da realidade experimentada. Muitas de nossas pesquisas sobre este tema, e teses que temos orientado a respeito, estão traduzindo uma epistemologia inovadora a respeito. Temos também observado isso nos nossos seminários de mística comparada em Juiz de Fora. Algo de novo e inusitado está nascendo no âmbito da academia, sem romper em nada com a seriedade das pesquisas. Há que ter uma sensibilidade muito peculiar ao tratar de forma honesta a experiência mística, essa “experiência radical do Sagrado”. Há que saber ampliar o olhar e alargar a razão para poder acessar essa experiência que é sensorial. O que envolve a experiência do místico não é um “conceito”, como diz Ernesto Cardenal, mas a força de uma presença que transforma e transmuta. Os místicos assinalam com uma linguagem que lhes é particular, que é no livro da experiência que se processa sua “leitura” do mistério maior, sem nome. E diz João da Cruz, no ápice de seu canto espiritual: “Na interior adega do Amado meu, bebi” (CB XXVI). Há que ter uma particular sensibilidade e um olhar trabalhado para poder captar a força estética e interior de uma experiência como a de Thomas Merton diante dos budas em Polonnaruwa (Ceilão), quando vem invadido por um senso único de beleza e de força espiritual, que o arranca de sua forma habitual de ver as coisas e favorece uma experiência singular que desentranha o enigma e o mistério. Mas para o pesquisador superficial, que reduz o fenômeno a uma mera “rapsódia de observações exteriores e frias”, uma semelhante experiência passa desapercebida, não sendo captada no que tem de mais fundamental. Os místicos, como bem lembrou Khatami em sua bela reflexão sobre o diálogo entre civilizações, nos advertem para a importância de atenção à “via do coração” e para os limites de uma percepção intelectualmente restritiva.

 

  1. No Ensino Religioso há a preocupação de perdermos o calor da experiência religiosa ao focarmos, nesta disciplina, a História das Religiões. Qual a sua opinião sobre essa proposta?

 

Esta questão já foi, em parte, respondida anteriormente. No meu artigo sobre o “ensino do religioso” faço menção aos autores que vêm lançando pistas importantes a esse respeito. O que está em jogo é o desafio do estudioso ou docente não descartar  a priori a singularidade e a especificidade do “religioso” presente no fenômeno religioso. Trata-se de um esforço substantivo de empatia, que rompe com uma tradição acadêmica objetivadora, que tem, é verdade, vantagens, mas também limitações problemáticas. Esta tradição, como bem mostrou Pondé, recusa de forma contundente o “tato religioso”, mas com isto acaba produzindo uma cognição que é empobrecedora, para não dizer “miserável”. Estamos diante da aporia de alguém que se diz “especialista” num fenômeno, mas que se recusa adentrar “numa região da experiência interna humana que simplesmente desconhece”.  No âmbito das ciências sociais da religião, Otávio Velho tem hoje questionado o excesso de “teorização” e  “escolarização”, que acabam prejudicando enormemente o trabalho de campo. Em ousada proposta de uma “antropologia apofática”, este autor sinaliza a importância de uma nova atenção ao mundo do outro, onde se possa realmente aprender a ver as coisas, a “ouvi-las e senti-las do modo como o fazem seus mentores”. Otávio assinala que o reconhecimento do outro não pode ser unicamente intelectualista, mas deve ser regado também pela “imprevisibilidade”, de forma a suscitar novas descobertas e surpresas. E para nós que estamos trabalhando com o tema da mística, sobretudo em Juiz de Fora e São Paulo, estamos bem atentos a tudo isso: ela é “o núcleo duro da experiência religiosa”, é o evento de um “tato interno”, de um “mundo além das palavras”, além do que se pode observar.

 

  1. Ao final dessa entrevista, o que você gostaria de dizer aos leitores a Último Andar?

 

Gostaria apenas de lembrar a importância do cultivo de uma atitude ou de um “espírito” de delicadeza, hospitalidade e cortesia na abordagem do fenômeno religioso. Nada mais estranho ao fenômeno religioso que a aridez e o distanciamento indiferente. É necessário cultivar a atenção, a escuta, a sensibilidade aos pequenos e “invisíveis” sinais que se apresentam no campo da religião, e que podem passar despercebidos para aqueles que transitam unicamente no âmbito da superfície das coisas familiares. Como nos mostra Heidegger em sua preciosa reflexão sobre o Caminho do campo, o nosso crescimento não se dá somente quando deitamos nossas raízes na “obscuridade da terra”, mas igualmente na nossa abertura à “amplidão dos céus”. Mas esse crescimento supõe atenção permanente ao que é Simples, pois é ele que guarda o “enigma do que permanece e do que é grande”. Mas nem todos somos capazes de ouvi-lo, pois sua linguagem está ocultada no retumbante fragor das máquinas, que marcam a dinâmica do nosso cotidiano utilitário e produtivista. É um desafio para nós que estamos trabalhando mais de perto o tema da mística e a experiência dos místicos, continuar insistindo teimosamente – também na academia – sobre a importância desta abertura ao que é Simples, único caminho de acesso a uma “serenidade que sabe”.

 

Referências

 

CONCILIUM – Revista Internacional de Teologia. Rio de Janei-

ro: Vozes, 1965.

PONDÉ, L. F. Em busca de uma cultura epistemológica. In:

TEIXEIRA, F. L. C. (org.). A(s) Ciência(s) da Religião no Brasil:

afirmação de uma área acadêmica. São Paulo: Paulinas, 2001,

pp. 11-66.

SAN JUAN DE LA CRUZ. Obras Completas. Madrid: Editorial

Biblioteca de Autores Cristianos, 2005.

SENA, L. (Org.). Ensino religioso e formação docente. São Paulo:

Paulinas, 2006.

TEIXEIRA, F. L. C. As religiões são marcadas por ambigüidades.

Último Andar: Caderno de Pesquisa em Ciências da Religião, São

Paulo, v. 4, n. 4, 2001, pp. 9-17.

_____A experiência de Deus no Islã. In: LUCCHESI, M. (org.).

Caminhos do Islã. Rio de Janeiro: Record, 2002a, pp. 69-89.

_____(org.). Sede de Deus: orações do judaísmo, cristianismo e

islã. Petrópolis: Vozes, 2002b.

_____El Desafio del Pluralismo Religioso a la Teologia Latino-

americana. In: Asociación Ecuménica de Teólogos y Teólogas del

Tercer Mundo (org.). Por los Muchos Caminos de Dios: desafios del

pluralismo religioso a la teología de la liberación. Quito: Centro

Bíblico Verbo Divino, 2003a, pp. 112-136.

_____(org.). Sociologia da Religião: enfoques teóricos. Petrópolis:

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_____Karl Rahner e as Religiões. In: OLIVEIRA, P. R. F.; PAUL,

C. (orgs.). Karl Rahner em Perspectiva. São Paulo: Loyola, 2004a,

pp. 243-262.

_____(org.). No Limiar do Mistério: mística e religião. São Paulo:

Paulinas, 2004b.

_____O Concílio Vaticano II e o Diálogo Inter-religioso. In:

GONÇALVES, P. S. L.; BOMBONATTO, V. I. (orgs.). Concílio

Vaticano II: Análise e prospectivas. São Paulo: Paulinas, 2004c,

pp. 273-291.

 

http://www.pucsp.br/ultimoandar/download/Ultimo_Andar_15.pdf

 

 

2 comentários:

  1. como faço para entrar em contato com o Nobre professor.

    Edivan

    edivan.nsc@hotmail.com

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  2. Me desculpe esqueci de colocar o proposito.
    sou seminarista do 3] ano de Teologia e pretendo fazer o TCC sobre as CEBs e lendo alguns de seus textos, tenho certeza que terei valiosas dicas.
    desde já o meu muito obrigado.

    sem mais Edivan

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