terça-feira, 13 de abril de 2010

Jesus mestre e curador da vida

Jesus Mestre e “Curador da Vida”  (Mc 5,21-43)

 

Um dos traços mais significativos e sedutores de Jesus de Nazaré é o dom da cura. Como sublinha de forma muito feliz, José Antonio Pagola, em sua obra sobre Jesus (Jesús, aproximación histórica. Madrid: PPC, 2007), esse “mestre da misericórdia de Deus” revela-se “curador da vida”. Assim começa o seu ministério na Galiléia, anunciando sua missão, com base no livro de Isaías, que é a de “curar os de coração aflito” (Is 61,1). Jesus surpreende a todos ao anunciar um Deus que cura (Ex 15,26), e que se apieda de quem sofre. A passagem de Marcos, indicada nessa homilia, traduz a singularidade de Jesus curador. A mulher enferma e Jairo encontram em Jesus a força e o vigor de alguém que é capaz de suscitar uma relação nova com Deus, uma esperança de retomada da vida e de sua dignidade. A cura é uma “bendição de Deus”, e Jesus “contagia saúde”: o toque de sua presença traz alegria, esperança, cortesia e vontade de viver. Como alguém apaixonado pela vida, deixa-se tocar para que esta vida contagie o outro. Com o toque de sua mão é capaz de acordar a vida adormecida e insuflar o oxigênio de sentido. Jesus é alguém muito próximo, que habita nossa aldeia, que nos oferece sua mão e exerce o seu cuidado para com tudo o que existe (F.Pessoa). O amor ao próximo é a sua mais importante  regra de conduta, sobretudo àqueles que mais sofrem. Daí sua revolta contra a dor, a doença e o sofrimento: são realidades que expressam a enorme distância entre uma situação que é injusta e a vontade de vida que Deus quer para os seus filhos. Afirmar a vida é defender esse “mínimo que é o máximo dom de Deus”, como nos mostrou Dom Romero, bispo e mártir de El Salvador. Jesus nos envia a um Deus que nos propõe a vida e não a morte, a bênção e não a maldição (Dt 30,19). E essa vida torna-se o centro da missão de Jesus. Para que haja a cura é necessário, porém, uma sintonia e comunhão na fé. Quando inexiste confiança, não ocorre ação curadora. Como relata Marcos em seu evangelho, a incredulidade dos nazarenos obstaculizou a ação curadora de Jesus: “Não podia realizar ali nenhum milagre” (Mc 6,5). Quando, porém, existe confiança no enfermo, a cura se produz. A mulher enferma, ao tocar com despojamento e entrega as vestes de Jesus, acreditava em sua força curadora. E Jesus confirma o vigor desta fé que cura: “Minha filha, a tua fé te curou; vai em paz e fica curada desse teu mal” (Mc 5,34 e  também Mc 10,52). O mesmo acontece com Jairo, que roga a Jesus com fé o exercício sanador de suas mãos: “Vem e impõe sobre ela as mãos para que sare e viva” (Mc 5,23). O relato evangélico evidencia que a fé insere-se na dinâmica mesma do processo curador. Para aquele que crê, “tudo é possível” (Mc 9,23). O trabalho curador essencial de Jesus  é ajudar aos enfermos depositar sua confiança na bondade do Deus afirmador da vida, a acolher esse Deus vital no interior mesmo de sua experiência dolorosa. Como assinala Pagola, “Jesus trabalha o ´coração` do enfermo para que confie em Deus, libertando-se desses sentimentos obscuros de culpabilidade e de abandono por parte de Deus, que cria a enfermidade. Jesus cura-o instaurando em sua vida o perdão, a paz e a bendição de Deus”. Esse trabalho curador de Jesus é absolutamente gratuito e despretencioso: movido unicamente pela presença dinamogênica do Deus misericordioso. Daí recomendar aos curados que não divulguem o ocorrido (Mc 5,43). O que importa é ter o coração aquecido com essa Presença e transbordá-la para os outros. A realidade da paz é o destino de seu gesto curador (Mc 5,34). Essa figura de Jesus como curador, tão presente nos evangelhos (Mt 4,23; Mc 1,41-41; Mc 3, 1-5; Mc 5,21-43; Mc 6,53-56; Mc 7,31-35; Mc 8,22-26; Mc 9,17-27), vem sendo hoje destacada no Terceiro Mundo. É uma imagem muito querida e acolhida com carinho pela sensibilidade das pessoas asiáticas, africanas e latino-americanas: de um Jesus que é mestre não só da sabedoria, ou guia espiritual,  mas também mestre da cura. E os bispos latino-americanos reconhecem, em Puebla (1979) a razão que determina esta atenção privilegiada de Deus para com os pobres, independentemente de sua situação moral ou pessoal: “Criados à imagem e semelhança de Deus para serem seus filhos, esta imagem jaz obscurecida e escarnecida. Por isso Deus toma sua defesa e os ama” (Puebla n. 1142).

 

(Publicado em Adista notizie n. 64 – giugno 2009, p.15)

Nenhum comentário:

Postar um comentário