terça-feira, 13 de abril de 2010

O catolicismo no Brasil

O catolicismo no Brasil 

 

Faustino Teixeira

PPCIR/UFJF

 

Nas vésperas da visita do papa Ratzinger ao Brasil, o catolicismo continua sendo a religião majoritária do Brasil. Com base no Censo de 2000, o número de brasileiros que se declaram católicos gira em torno de 125 milhões, ou seja, três quartos da população brasileira (73,8%). Mas se os números absolutos mostram essa presença massiva, o olhar atento sobre os dados comparativos de censos anteriores favorece perceber a realidade de uma progressiva redução de seus membros. Há um declínio moderado mas constante verificado nos censos de 1940 (95,2%), 1950 (93,7) e 1960 (93,1%). Mas é a partir dos anos 80 que a porcentagem de católicos foi declinando cada vez mais, como também indicam os dados dos censos demográficos: 89,2% em 1980, 83,3% em 1991 e 73,8% em 2000. Algumas projeções estatísticas indicam uma continuidade neste refluxo, com previsão de um percentual de 65% para o próximo censo.

Os dados apontam que o crescimento do catolicismo no Brasil ocorre de forma mais lenta do que o ritmo de ampliação da população total do país. O catolicismo apresenta uma taxa média de crescimento anual em torno  de 1,3%, enquanto a taxa da população total chega a 2%. O Censo de 2000 revelou ainda o significativo crescimento do número de declarantes evangélicos (15,4%) e dos “sem religião” (7,3%). Esta diminuição do ritmo de crescimento dos católicos no Brasil é motivo de grande preocupação das instâncias eclesiásticas, que vislumbram um horizonte de perda progressiva da influência da Igreja Católica no país. Causa também inquietação o fato do catolicismo firmar-se como o “doador universal” de fiéis que passam a engrossar as fileiras do pentecostalismo e dos “sem religião”; bem como a situação crescente daqueles que mantém sua crença religiosa desvinculada de qualquer instância religiosa tradicional: daqueles que crêem sem pertencer.

Ocorre no campo religioso brasileiro um progressivo crescimento do pluralismo religioso, acompanhado por um processo de “desinstitucionalização crescente”. Os dados confirmam que o atual revigoramento religioso “se fez em detrimento do catolicismo”. Na avaliação dos antropólogos Ronaldo de Almeida e Paula Montero, “o catolicismo tornou-se o principal celeiro no qual outros credos arregimentam adeptos”. Esta é uma situação que vem suscitando efetiva preocupação de segmentos do catolicismo oficial, que se lançam com vigor em projetos de recatolicização da sociedade. Vale registrar as campanhas de evangelização promovidas da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos últimos anos, e em particular, o Projeto Nacional de Evangelização “Queremos ver Jesus”. A próxima Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, a ser realizada em maio de 2007 na cidade de Aparecida (SP), visa igualmente enfatizar uma “ação missionária mais incisiva, organizada e constante”, no sentido da reconquista do “substrato católico” latino-americano.

Em sintonia com esta preocupação de “readesão” ao catolicismo, atuam novos movimentos eclesiais, em particular a Renovação Carismática Católica (RCC). São movimentos que agem numa linha distinta de outros núcleos eclesiais que estiveram particularmente ativos nas décadas de 70 e 80, como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e as pastorais sociais. A RCC centra sua vida religiosa na “esfera da intimidade”, no incremento a grupos de oração centrados na emotividade. Mas também organiza e promove eventos litúrgicos massivos, visando apresentar um catolicismo que seja mais sedutor e atraente para a população. É visível o crescimento do números dos católicos carismáticos no Brasil, ou das pessoas que estão envolvidas com atividades relacionadas ao movimento. Fala-se em 12,6% da população total do país. A estratégia evangelizadora carismática, de reavivamento da fé, vem corroborada pelo crescimento das Comunidades de Aliança e Vida, como a Canção Nova, Shalom e Toca de Assis, e também pela intensificação de sua proposta evangelizadora nos meios de comunicação de massa, como as redes de televisão Canção Nova e Século XXI. Trata-se da emergência de um “catolicismo mídiatico” que traduz um novo estilo de atuação missionária.

O catolicismo no Brasil revela uma grande complexidade. Trata-se de um campo religioso caracterizado por grande diversidade. A pluralidade é um traço constitutivo de sua configuração no Brasil. Nesta “religião multifacetada e compósita” podemos identificar uma rica plasticidade nos modos de exercer sua pertença, que não excluem dinâmicas singulares de conjugação e trânsitos internos. Mas verifica-se nas últimas década uma acentuada tendência de alinhamento da Igreja católica com a dinâmica restauradora vigente na conjuntura eclesiástica mais ampla. A lógica da ação evangelizadora vem agora concentrada no anúncio explícito de Jesus Cristo e da Igreja, no sentido da reconstituição do tecido eclesial enfraquecido por sangramentos diversificados. Não há lugar destacado, neste novo contexto, para pastorais mais críticas ou para a experiência eclesial das CEBs, que enfatizam a centralidade do testemunho profético e transformador. Estas experiência tornam-se “invisibilizadas” e deixam de ganhar o aporte que recebiam em outros momentos.

 

Publicado na Revista do Brasil, n. 11 – abril de 2007

http://www.revistadobrasil.net/opiniao.htm

 

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