Igreja: carisma e poder (Resenha)
Publicada no cadernos Idéias do JB - 14 de maio de 2005
Faustino Teixeira
PPCIR-UFJF
Acaba de ser reeditado no Brasil pela Record o importante livro de Leonardo Boff, Igreja:carisma e poder, cuja primeira edição apareceu em 1981, publicado pela editora Vozes. Uma segunda edição veio a público no ano de 1994, pela editora Ática, retomando o texto original e acrescentando um longo apêndice contendo a documentação do processo doutrinário que se seguiu à publicação do livro. Na nova edição nacional segue-se o padrão anterior, com a adição de um novo prefácio do autor, um sucinto histórico e um balanço final sobre o significado do livro.
O livro Igreja: carisma e poder não é um livro unitário, mas recolhe uma série de ensaios elaborados por Leonardo Boff ao longo dos anos 70 e início de 80 e que foram publicados em diversas revistas teológicas nacionais e internacionais. Dos treze artigos que acompanham esta coletânea de ensaios, apenas dois eram inéditos na ocasião da publicação, e um deles parte da tese de doutorado do autor, defendida na Alemanha em 1970 e publicada em livro em 1972.
Não há como entender o significado do livro em questão senão situando-o no rico contexto eclesial do período. Os anos 70 e 80 foram os mais ricos na vida da igreja brasileira e latino-americana. É neste período que firma-se a teologia da libertação e irradiam por todo canto as comunidades eclesiais de base (CEBs). O livro de Leonardo Boff expressava uma demanda viva de novas forças eclesiais que brotavam das bases e suscitavam a sede de uma nova reestruturação da igreja católica, que pudesse favorecer uma maior participação dos pobres e dos leigos. Este foi o objetivo fundamental do livro: fornecer uma expressão teológica articulada da irrupção de um novo modo de ser igreja, que ficou conhecido internacionalmente como eclesiogênese, e que ganhava vida na experiência das comunidades eclesiais de base. Um traço marcante no livro Igreja: carisma e poder é a linguagem profética, que vem retomar um gênero que tem larga tradição teológica. Ela traduz um esforço vibrante, com toques de iracúndia sagrada, de recuperar um equilíbrio perdido entre instituição e carisma na igreja católica. Em todo o livro respira-se um clima de retomada urgente da dimensão carismática e profética da igreja, e a busca de correção de dois desequilíbrios altamente problemáticos: o cristomonismo unilateral da tradição latina, marcada pela anemia do Espírito, e a hipertrofia do hierárquico institucional, que reforça o centralismo romano. Os diversos ensaios expressavam uma luta de anos encetada por Leonardo Boff em favor de uma organização mais participativa na igreja. Em artigo posterior, publicado em 1999 na revista Numen, da UFJF, sublinhava: “O que mais me dói é que este tipo de instituição nega a essência íntima do Deus-Trindade que é comunhão e pericórese. O que é verdadeiro na Trindade não pode ser falso na Igreja”.
Logo depois da publicação do livro, em 1981, começaram a surgir os questionamentos e críticas. Algumas reações foram violentas e cruéis, como a do franciscano Boaventura Kloppenburg, antigo professor e colega de cátedra de Leonardo Boff. Outras resenhas foram também desfavoráveis, como as de Ubano Zilles e Estevão Bettencourt. Na ocasião, a Comissão Arquidiocesana para a Doutrina da Fé do Rio de Janeiro, presidida por Dom Karl Josef Romer, entra no debate e dá o veredicto crítico final ao livro: “Na fé um não ao livro: todavia uma palavra de confiança no homem de fé”. A polêmica atravessa o Atlântico e ganha dimensões inusitadas. Entra em ação o cardeal Ratzinger, então prefeito da poderosa Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício). Sua crítica vem expressa em carta em maio de 1984. Em seguida ocorreu o famoso colóquio entre Boff e Ratzinger no Vaticano, que tratou dos problemas eclesiológicos em torno ao livro de Boff. No debate emergiu uma divergência essencial entre os dois sobre a interpretação dada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) à questão da verdadeira Igreja de Cristo. Não satisfeito com as explicações fornecidas pelo autor, o cardeal Ratzinger publica em 1985 uma notificação sobre o livro e submete o autor a um “silêncio obsequioso”. Haverá uma reabilitação da punição na páscoa de 1986, mas Boff continuará sob severa vigilância das autoridades. O cerco aperta por ocasião da Eco-92, no Rio de Janeiro, quando Boff vem novamente inquirido a recolher-se ao silêncio, devendo inclusive deixar de lecionar teologia e de dar entrevistas. Desta vez, a decisão de Boff foi diferente. Resolveu “trocar de trincheira” e começar um novo tempo. Não deixou a igreja, como alguns sublinham, mas apenas uma função, a do presbítero. Continuou e continua firme na sua atuação teológica, de pesquisa e inserção eclesial, marcando sua perspectiva cristã em espaços que dificilmente chegaria um teólogo comum.
O livro Igreja:carisma e poder continua sempre atual, pois a conjuntura eclesiástica de centralização e de exclusão da participação mais ativa dos leigos foi sendo cada vez mais reforçada ao longo destes dois últimos decênios. Nos anos 80 os teólogos mais abertos podiam contar com o apoio de seus bispos, como aconteceu com Boff, que teve ao seu lado nos momentos mais difíceis a presença de importantes cardeais brasileiros como Dom Aloísio Lorscheider e Dom Paulo Evaristo Arns. Mas assim como os teólogos mais comprometidos, também a CNBB sofreu o impacto das espessas e inibidoras nuvens da restauração romana. Hoje os teólogos estão mais solitários e desarmados diante de um temor da “relativização” que se espalha e abafa qualquer ousadia mais profética e de abertura plural. Mas alguns,teimosamente, como Leonardo, continuam a mostrar uma fé grandiosa e uma esperança num tempo novo e numa igreja mais solidária e hospitaleira.
Finalmente tenho o prazer de me aproximar de você e de tentar estabelecer um diálogo contigo. Descobri você por acaso. Minha mania, minha fixação pelo protestantismo fez eu descobrir você nas bibliografias que andei lendo. Tentei lhe encontrar através do livro: ”As religiões no Brasil: continuidades e rupturas da editora vozes”, mas sem sucesso, pois está esgotado. Eu continuo procurando um jeito de obter esse seu maravilhoso livro que me encantou apenas com os fragmentos de citações que pude degustar ou como diz Rubem Alves: canibalizar. Faustino, para começar, poderia eu ter a honra de tê-lo como um colaborador do meu blog? Você colaboraria quando pudesse e quisesse, sem cobranças da minha parte. Pois, a simples aparição do seu nome como um dos colaboradores poderia agregar valor a ele e aumentar sua credibilidade. Penso que você vai gostar dele, pois uma das suas características é a livre manifestação do pensamento. O blog se chama: Blog do DesProf.Peixoto. Seu link é: http://moisespeixoto.blogspot.com Mas, Faustino, para que eu possa fazer um convite formal, preciso do seu e-mail. Por favor, envie-o para peixoto50@yahoo.com.br ou seupeixoto@gmail.com Vamos começar uma amizade? Por fim, gostaria muito que você me ajudasse a obter esse seu livro, se possível, gostaria de comprá-lo de você. Se puder me ajudar, por favor, responda ao meu apelo. Obrigado. Peixoto.
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