sábado, 11 de fevereiro de 2023

A nobreza de um grande pensador: Antonio Candido (1918-2017)

A nobreza de um grande pensador: Antonio Candido (1918-2017) 


Faustino Teixeira


Sempre comentei com meus alunos e amigos que uma de minhas maiores frustrações na vida acadêmica foi não ter sido aluno de Antonio Candido.

Sou verdadeiramente apaixonado por suas reflexões e tenho comigo grande parte de seus livros.
Quando comecei a dar aulas de literatura, no final de minha atuação como professor ordinário do PPCIR da UFJF, um pouco antes de 2017, ano de minha aposentadoria, passei a ler com grande interesse a obra de Antonio Candido (1918-2017).
Antes, quando estava iniciando minha docência na PUC-RJ, em 1978, entrei em contato com a preciosa obra “Parceiros do Rio Bonito”, que foi tese doutoral de Antonio Candido, defendida na USP no departamento de Ciências Sociais, em 1954 (ano de meu nascimento).
Na ocasião, tive também o privilégio de ver várias vezes a peça teatral “Na carreira do Divino”, baseada no livro de A.Candido.
A peça foi dirigida por Paulo Betti, com a presença de sua então mulher, Eliane Giardini, com a qual foi casado por quase 25 anos. O grupo que apresentou o trabalho estava ligado à Universidade de Campinas. A peça era maravilhosa, com trilha sonora incrível e a participação exemplar dos atores.
Esse livro de Antonio Candido foi muito importante no período em que fazia o Mestrado na PUC, dando pistas singulares para entender o mundo rural e a transição dos caipiras para a cidade. Um livro que me marcou muito, e ainda tenho o meu exemplar, comprado na época, todo marcado.
Com os cursos sobre Guimarães Rosa, Clarice e agora, sobre Graciliano Ramos, volto às leituras de Antonio Candido, com muita alegria.
Cito aqui dois livros que adoro: Tese e Antítese(1971) e Ficção e Confissão (2006). Sobre esse último livro, inspirado em Alceu Amoroso Lima, que incentivou Antonio Candido a escrevê-lo, há reflexões muito importantes para entender Graciliano Ramos, tema de meu curso no IHU, que se inicia agora em março de 2023.
Gostei muito do texto de meu amigo Leando Garcia, da UFMG, comentando as cartas entre Antonio Candido e Alceu Amoroso Lima.
Lendo aqui o livro Antonio Candido: afeto e convicção (2021), delicio-me com os vários capítulos que abordam facetas da vida desse grande estudioso e professor. Já a começar pelo capítulo de autoria de Laura de Mello Franco, sobre A.Candido como contador de histórias.
Muito rico também o capítulo redigido por Max Gimenes, abordando o tema do afeto e convicção na trajetória do estudioso carioca, nascido em 24 de julho de 1918, no Rio de Janeiro.
O autor descreve com acerto os traços do caminho de Antonio Candido, considerando-o “um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX”. Acentua, de modo particular, o traço da diversidade presente em sua vida e interesse. Trata-se de um intelectual de respeito, que sempre buscou articular em sua vida o rigor de suas análises com a vocação socialista.
Gimenes divide a vida de A.Candido em três momentos: a fase da juventude, a fase do amadurecimento e a fase da maturidade.
A primeira, vem “marcada pelo abandono e uma visão de classe dominante e por um crescente interesse pelo socialismo”. Vinha de uma família rica, tendo passado sua infância em Minas Gerais – Santa Rita de Cassia - e depois se estabelece em Poços de Caldas, em razão do trabalho do pai médico.
A família passou um perído no exterior, na cidade de Berlim, no ano de 1929. Uma experiência que vem lembrada por Cândido como muito importante na sua trajetória intelectual.
Antonio Candido ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em 1939. Sua primeira formação foi em ciências sociais. Começou cedo sua docência, em 1942, como professor assistente em Sociologia II na FFCL-USP.
Desencantou-se, aos poucos, com a sociologia, encaminhando-se para a teoria literária.
É na fase de formação, que Antonio Candido vai se aproximando do campo literário, depois de certa frustração ao não conseguir ingressar como docente catedrático na vaga aberta pela saída de Roger Bastide.
Foi quando retomou sua pesquisa clássica sobre a Formação da Literatura Brasileira, por indicação de Mário de Andrade. Os três volumes do livro foram concluídos em 1957, e marcaram o ritmo de muitas faculdades de letras no Brasil, no campo da literatura.
Na fase da maturidade, ocorre o maior engajamento de Antonio Candido, sobretudo no partido Socialista.
Ele menciona nesse campo, o influxo de Paulo Emilio Salles, responsável por sua transição de um interesse teórico para a ação prática. Teve participação ativa na Associação dos Docentes da USP (ADUSP), bem como no apoio à criação de várias associações sindicais.
Depois de sua aposentadoria na Universidade, ocorrida em 1978, sedimentou seu compromisso político, sempre marcado por muita abertura e respeito à diversidade.
Nessa época destaca-se também seu empenho na redação do livro: Vários escritos, cuja terceira edição foi publicada em 1995.
Foi um dos fundadores do PT – Partido dos Trabalhadores, em 1980, tendo participado da famosa reunião no Colégio Sion. Nessa sua transição do partido socialista para o PT foi importante o impulso dado por um antigo colega de militância partidária, Febus Gikovate.

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