segunda-feira, 1 de maio de 2023

O eucalipto vilão

 O eucalipto vilão


O momento atual de meu condomínio Tiguera é uma expressão viva de como não fazer ao manejar uma floresta. A absoluta falta de cuidado no corte de árvores, algumas que poderiam ser plenamente podadas em vez de cortadas na raiz.
Um procedimento apressado, que não observa as árvores vizinhas e que com a queda de pesadas árvores a destruição compromete outras árvores próximas, que não são eucaliptos e que se vêem, assim, também atacadas e abalroadas.
Há também que registrar a incapacidade e despreparo da empresa contratada para os cortes, que foi justamente a empresa mais barata. O que se observa é um grande desmazelo.
Outra questão bem arriscada que está envolvida nesse desmatamento é o fato de que, se antes as árvores se protegiam uma com as outras das fortes ventanias, vemos agora árvores que ficaram isoladas, muito mais à merce de ventos que pode derrubá-las com mais facilidade.
Divulguei recentemente em meu face um interessante estudo de autoria de Marc Dourojeanni, confirmando justamente a ideia de que o eucalipto não é um vilão, como tantos pensam, mesmo aqueles que são da área da biologia ou outras áreas conexas.
Se usado corretamente, como inidica esse autor, ele não é assim nocivo ou estranho. Ainda mais o eucalipto-limão. “O eucalipto não é o demônio que alguns ambientalistas crêem. Segundo estudos recentes, suas plantações não são esterilizadores biológicos”. Diz ainda o mesmo autor, que se devidamente acompanhado, o eucalipto pode contribuir e manter “grande parte da biodiversidade original”.
Conversando com um amiga que trabalha com paisagismo, fui informado de que se os eucaliptos não estão se propagando naturalmente, com riscos para o ambiente, há que ter cuidado. Não é, porém, o caso do Tiguera, onde eles estão aqui há mais de oitenta anos, bem antes de nós, sem nunca ter causado dano maior. Alguns problemas de fato ocorreram, com galhos de árvore, mas é questão de aperfeiçoar o manejo e não eliminar pela raíz suas existência.
Temos o belo exemplo de Inhotim, perto de BH, onde as espécies exóticas, em vez de serem abruptamente tachadas de invasoras, estão lá, felizes, compondo o ambiente. E há lindos eucaliptos que estão lá, sem serem importunados por certos tipos de estranhos.
E, pasmem, soube ontem que estamos, todos os moradores do Tiguera pagando uma taxa de R$ 80,00 pelo corte desses eucaliptos, sem que no boleto de cobrança seja informado que a razão da cobrança é o corte de árvores. O que se diz no boleto é, simplesmente: cobrança de taxa extra. E basta!
Lendo aqui o quadro de novidades bibliográficas vejo o livro de Vinciane Despret, estudiosa dos animais, que levanta a séria questão de como "habitar" o mundo como um "pássaro", ou seja, como buscar "novos modos de fazer e de pensar os territórios". Diria, como habitar os territórios, sem o traço da violência contra a natureza.
Há que criar uma sensibilidade nova, de como saber habitar um ambiente, um território: "Criar mundos mais habitáveis", como forma de "honrar as maneiras de habitar, inventariar o que os territórios implicam e criam como maneiras de ser"

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