quarta-feira, 19 de julho de 2023

Dor e imaginação: Virginia Woolf

 

Dor e Imaginação: Virginia Woolf


Faustino Teixeira

UFJF / IHU / Paz e Bem

 

No nosso último encontro do núcleo de Mística e Literatura, na sexta feira, 14/07/23, tivemos a linda apresentação de Sibelius Cefas sobre Virgínia Woolf.

Foi uma apresentação muito rica, com participação bonita das pessoas presentes na sala virtual.
Virgínia não é uma autora fácil, mas de uma complexidade vital que arrebata.
Na Peça de Claudia Abreu, Virgínia, somos convidados a flanar sobre passagens vivas da vida de Virgínia. É uma peça que, como diz Ana Carolina Mesquita, participamos “de um mergulho imaginativo na mente de Virgínia”.
E era uma mente doída. Dizia que queria “deixar a loucura preencher cada átomo” de seu corpo e rir na despedida.
E sua despedida foi muito triste, na água, com pedras nos bolsos.
Tudo mudou para ela depois que perdeu sua mãe de esgotamento aos 49 anos de idade. A partir de então, Virgínia, com 13 anos, passou a “contemplar” as névoas e dores da vida.
Foi a primeira vez em que pensou em se matar. Outras vieram, até que o abraço definitivo ocorresse nas águas.
Uma de suas grandes revoltas era não poder frequentar a escola e as bibliotecas, por ser mulher. Dizia: “Até pouco tempo, a vida cotidiana da mulher, a mulher comum, não tinha relevância nos livros, muito menos seus desejos”.
Através da escrita conseguir amenizar a dor da perda de sua mãe.
A sua voz ecoava em Virgínia “todos os dias desde a sua morte”.
Encontrava uma resposta importante na imaginação. Dizia que a “vida imaginária” era “muito mais interessante e prazerosa de ser vivida”.
Virgínia tinha um prazer enorme de estar no meio das mulheres. Tinha por elas um encantamento único.
Pelos caminhos de sua dor, buscava portos de intimidade. Falava de sua vontade de “ser internada num quarto ou numa casa de repouso” para poder ter um teto todo seu e escrever sem ser interrompida.
Era alguém que gostava de caminhar com liberdade. Dizia: “Era isso que eu amava! Flanar pela cidade, observar as pessoas, encontrar os meus amigos, ir ao museu, à biblioteca, tudo isso era a minha inspiração”.
Os choques estavam presentes em sua vida, mas eram motivo de inspiração e criação.
Era alguém que amava a vida, apesar de...
Tive hoje o prazer de ler um pequeno texto de Virgínia sobre a morte da mariposa.
No caso, tratava-se de uma mariposa diurna, que diferentemente das noturnas, não despertava “a agradável sensação das noites escuras de outono”. Era, na verdade, uma “criatura híbrida”. Não era “nem alegre como as borboletas, nem sombria como as da sua própria espécie”.
Virginia relata a agonia da mariposa, que se cansa de sua dança e busca abrigo “no peitoril da janela sob o sol”.
A narradora busca ajudá-la a erguer-se com um lápis, sem sucesso.
Em verdade, “a imobilidade e o silêncio haviam substituído a animação anterior”.
A mariposa sabia que não tinha chance alguma contra a morte, mas buscava a vida. E seu último protesto foi “esplêndido”, conseguindo até se aprumar um pouco. As simpatias estavam “do lado da vida”.
Seu esforço descomunal não teve sucesso. Logo os sinais da morte se mostraram para ela e o corpo enfim relaxou.
Aquela “criaturinha insignificante” conhece então a morte. E a morte encheu de assombro a narradora: “A mariposa, agora aprumada, jazia serena com grande decência e sem se queixar. Ah, sim, parecia dizer, a morte é mais forte do que eu”.

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