quarta-feira, 22 de março de 2023

Vandré e seu "duplo desembarque" no Brasil em 1973

 Vandré e seu “duplo desembarque” no Brasil em 1973


Faustino Teixeira

 

Por sugestão da leitura do livro de Dalva Silveira sobre Geraldo Vandré (A vida não se resume a festivais – 2011), fui ler o artigo de Maria Rita Kehl, publicado no livro: Anos 70 – Televisão (Edição Europa, 1979-1980). Dalva tinha indicado essa leitura para poder entender o momento em que vivia a sociedade brasileira em 1973, quando Geraldo Vandré retornou ao Brasil, depois do exílio. 

 

A polêmica maior em torno da volta de Vandré relaciona-se com “o duplo desembarque” do compositor ao Brasil. As pessoas em geral imaginam que ele chegou ao Brasil em 18 de agosto de 1973, e em seguida deu seu trágico depoimento no Jornal Nacional. 

 

Na verdade, Vandré já tinha desembarcado no Brasil um mês antes, em julho de 1973, tendo sido imediatamente preso. Ele ficou, assim, 33 dias recolhido e incomunicável no I Exército do Rio de Janeiro e também na carceragem da Polícia Federal em Brasília. Só depois veio o depoimento no Jornal Nacional.

 

Em seu artigo sobre a televisão no Brasil na década de 1970, Maria Rita Kehl destaca o ano de 1973. Por força das imagens da TV, e das mensagens repassadas, a imagem que se passava do Brasil era a de “um novo tempo”, celebrado pelos atores da Globo naquela tradicional mensagem de fim de ano, que até hoje vem ocorrendo.

 

A TV buscava transmitir para todos a imagem de um novo Brasil, de um Brasil Grande, que atravessava com garbo suas crises econômicas. Foi em 1973 que, segundo Kehl, firmou-se o “Padrão Globo de Qualidade”, e que coincidiu com a chegada da TV a cores no Brasil. E aqui cito Kehl:

 

“A opulência visual eletrônica criada pela emissora contribuiu para apagar definitivamente do imaginário brasileiro a ideia da miséria, de atraso econômico e cultural; e essa imagem glamourizada, luxuosa ou na pior das hip

óteses antisséptica (quando é imprescindível mostrar a pobreza convém ao menos desinfetá-la: em vez de classes miseráveis, um povo ´humilde mais decente` para não chocar ninguém) contaminou a linguagem visual de todos os setores da produção cultural e artística que se propõem a atingir o grande público”.

 

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