quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Os caminhos de um novo olhar sobre as plantas

 Os caminhos de um novo olhar sobre as plantas


Faustino Teixeira


Moro muito tempo num condomínio de Juiz de Fora, Tiguera, que sempre foi caracterizado pela arborização e pelo verde. De uns tempos para cá foi tomado por alguns moradores que têm um verdadeiro horror ao verde, sempre reagindo ou reclamando sobre os problemas que a mata significa para eles: a sujeira dos jardins de concreto, o risco de algum galho cair sobre um dos carros e tantas outras questões. Tenho sempre me aborrecido com isto...
Decidi manter os meus lotes com o verde, apesar das contínuas reclamações de outros. Isso faz parte de uma filosofia minha, que vai ganhando raízes cada vez mais firmes: a defesa do mundo vegetal, assim como a defesa do mundo animal.
Lendo aqui o preciso livro do filósofo italiano, Emanelle Cocia, sobre a vida das plantas, sinto uma grande identidade com ele. Ele esteve presente na FLIP 2021, dedicada ao mundo vegetal.
Como ele diz, nós falamos pouco delas, das plantas, "e mal sabemos seus nomes. A filosofia as negligenciou desde sempre, com despreza mais do que por distração".
Elas são, na verdade, "a ferida sempre aberta do esnobismo metafísico que define nossa cultura".
Na visão de Coccia, mesmo na biologia atual, quase não se leva em conta as plantas. De fato "parece que ninguém jamais quis contestar a superioridade da vida animal sobre a vida vegetal e o direito de vida e de morte sobre a segunda: vida sem personalidade e sem dignidade".
Elas, as plantas, porém, "não se deixam abalar por essa prolongada negligência: demonstram uma indiferença soberana pelo mundo humano, pela cultura dos povos, pelas alternâncias dos reinos e das épocas".
E longe de estarem trancadas em si, aderem de forma esplêndida ao mundo circundante, num diálogo e entrelaçamento promissor.
Trata-se de um grave equívoco entendê-las como privadas de movimento: "Sua ausência de movimento é apenas o reverso de sua adesão integral ao que lhes acontece e a seu ambiente".
Segundo Coccia, "interrogar as plantas é compreender o que significa estar-no-mundo. A planta encarna o laço mais íntimo e mais elementar que a vida pode estabelecer com o mundo"
A poeta Ana Martins Marques dedicou um livro inteiro de poesia ao mundo dos jardins. Como Coccia, ela lembra num poema, que o florescimento das plantas ocorre "indiferente aos acontecimentos". É pura gratuidade!


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