segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

As mudanças no processo da escrita


As mudanças no processo da escrita: capturar o poder de síntese e objetividade

Faustino Teixeira


Tenho aprendido aqui no Facebook coisas bem interessantes no âmbito da redação de textos. Estamos vivendo um tempo singular, onde há um claro cansaço dos leitores com os textos habituais, longos, forjados no ritmo da academia tradicional. Tenho verificado em mim, sobretudo depois da aposentadoria, a necessidade de escrever de forma diferente, sem preocupação com longos períodos ou parágrafos que não terminam nunca. Preocupado também com as regras tradicionais de pontuação. Somos uma geração de pesquisadores que fomos moldados pelo estilo chato de redação: textos longos, que passam depois por um corredor impiedoso de avaliadores, que em geral palpitam fora do tom.

O que queria dizer aqui, é que vejo agora alguns modelos que me inspiram, como o presente na redação de Eduardo Losso, sobretudo em alguns textos, como na sua última reflexão na Revita Cult, quando aposta na novidade e nesse ritmo novo, que vai sendo abraçado com mais carinho pela geração jovem. Estamos, assim, diante de um desafio desbravador. Quebrar as trancas da academia e descobrir de novo o valor da liberdade, da ousadia e da "anarquia" na forma de escrever. Estou aos poucos aderindo ao projeto. E também buscar escrever na primeira pessoa, sem muita rigidez disciplinar.
São novos caminhos, consagrados na poesia, como no caso de Marco Lucchesi. Taí, o desafio de cortar o texto, de deixar presente o que é mais essencial, talvez como pistas de investigação e de reflexão. Algo que saiba falar com o leitor mais sintonizado com o novo tempo.
A inspiração direta para esse meu desabafo veio de leitura de um trecho de Clarice Lispector no livro A descoberta do mundo:
"Vamos falar a verdade: isso não é crônica coisa nenhuma. Isto é apenas. Não entra em gênero. Gêneros não me interessam mais"
No novo livro organizado por Júlio Diniz sobre Clarice Lispector, alguns autores fazem menção à participação de Clarice num congresso literário na PUC-RJ, onde ela ficou extremamente "aborrecida" com tanta teorização dos pesquisadores que falavam. Estava ali, convidada, mas extremamente entediada... Marina Colassanti lembra que Clarice disse: "Tanta conversa de doutos em literatura havia-lhe dado uma fome tremenda e que acabara levantando-se antes do fim do evento, para voltar para casa e devorar uma galinha assada..."
Sinceramente, é esse sentimento que sinto hoje ao participar de certos simpósios e congressos, onde os participantes estão mais interessados nas suas vaidade particulares do que na interlocução amorosa e no aprendizado...

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