As plantas e a indiferença
Faustino Teixeira
No poema Fonte Romana, de Rilke, ele fala das águas que correm pelas duas velhas bacias, fluindo devagar, "constantemente impassível e sem nostalgia". Nos debates da "virada vegetal", nos deparamos como o dado impressionante da criatividade e artimanha das plantas em se irradiar, mesmo sem a interferência humana. Um dado exemplar de ressurgência por todo canto.
Nos textos ou poemas que abordam o tema, nos deparamos com essa ideia singular de que "as plantas não ligam", diferentemente das pessoas, como mostrou Ana Martins Marques em poema. As plantas "nunca pedem e nunca reclamam", mas nós homens-humanos atuamos sobre elas, muitas vezes com violência e impiedade, e elas sobrevivem... Estão também "sempre mudando" e ao mesmo tempo "nunca se mudam". São lindos aprendizados da "fitopoesia", para utilizar uma expressão de Evando Nascimento.
Os vegetais, como diz Evando, "nunca são percebidos como verdadeiros indivíduos" e menos ainda como "sujeitos". Eles, porém, sobrevivem, apesar de... Aos nossos "gestos", eles respondem com "absoluta indiferença", com seu "mutismo enigmático". Mas estão sempre aí, irradiando-se como o dente de leão, que se espalham e como "num sopro se soltam" e dispersam sua presença.
Assim como Ana Marques, também Djaimilia Pereira de Almeida, no seu livro "A visão das plantas", toca nesse tema da "indiferença vegetal em relação aos humores humanos", interessando-se exclusivamente pelo "húmus, a agua, o gás carbônico e a luz solar".
A cada ano, ou nos períodos determinados, nos deparamos com o espetáculo de acompanhar o florescimento das plantas que florem sempre, "indiferente aos acontecimentos", mas que às vezes deixam de fazê-lo, seja por esquecimento ou envelhecimento, livres, finalmente, daquela obrigação definida.
Tudo isso levanta para nós, mesmo para os vegetarianos e veganos, a questão de nossa intervenção ou pegada no mundo vegetal. São temas muito ricos para a reflexão, nesse nosso tempo desprovido de atenção e reverência à vida.
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