O canto espiritual de Rilke
Faustino Teixeira[i]
Resumo: Partindo de uma compreensão
ampla de espiritualidade, relacionada a qualidades fundamentais do espírito, e
distinta de uma perspectiva restrita sobre religião, o presente artigo busca
resgatar alguns dos traços que pontuam a espiritualidade de Rainer Maria Rilke
(1875-1926). O trabalho vem realizado com base na obra Elegias de Duíno (1912), visando sublinhar em particular os passos
de sua espiritualidade do cotidiano, bem consciente dos limites da
temporalidade, mas endereçada ao horizonte mais amplo do Aberto.
Palavras-Chave: espiritualidade;
mística; modernidade; literatura;
cotidiano.
Introdução
Um dos mais expressivos testemunhos espirituais da literatura
moderna é Rainer Maria Rilke (1875-1926). Sua exemplaridade serviu de
referência para muitos autores, entre os quais Martin Heidegger, que vislumbrou
nas Elegias de Duíno (1912) a
expressão poética do que ele gostaria de ter dito na sua clássica obra Ser e Tempo (1927).[ii] O
poeta e místico trapista, Thomas Merton, sinalizou que as Elegias de Duíno e os Quatro
Quartetos falam na verdade de sua própria vida, de seu ser e destino, de
sua vocação e relação com o mundo de seu tempo e lugar. O que antes tinha
apenas “espiado pelas janelas”, em leituras fragmentadas, passa a ganhar corpo
em sua vida quando novas condições de leitura se apresentaram para ele: “Creio
precisar deste morro, deste silêncio, deste frio gélido para entender realmente
esse grande poema, para viver nele.”[iii]
Dentre o legado incontestável da produção literária de
Rilke, envolvendo uma diversidade de contribuições, vamos nos concentrar aqui,
prioritariamente, na busca do resgate dos traços místicos e espirituais
presentes numa de suas obras mais conhecidas e relevantes, as Elegias de Duíno, concluídas em 1912,
mas que teve um processo redacional que durou cerca de 10 anos, em tempos e
lugares distintos. É, sem dúvida, sua obra mais impressionante e impactante,
com uma ressonância que se espraia nas diversas áreas do saber, e de forma
muito peculiar na mística.
O processo redacional das Elegias de Duíno
As Elegias de Duíno inserem-se num momento particular da produção
literária de Rilke, como o centro de uma terceira etapa em seu itinerário
criativo, que poderia ser identificada como visionária, dando sequência às duas
anteriores: sentimental e objetiva[iv].
A obra vem dedicada à princesa Marie von Thurn und Taxis, com quem estabeleceu
uma rica correspondência ao longo de sua vida[v].
Ela era a proprietária do castelo de Duíno, um belo castelo medieval, situado
no alto de uma península sobre o Adriático. Ele tinha sido destruído durante a
Primeira Grande Guerra e reconstruído posteriormente. A visão que favorecia era
das mais belas, e o próprio Rilke a descreveu em carta a Hedwig Fischer, em 25
de outubro de 1911: “Um imenso castelo elevado ao pé do mar que como uma
saliência da existência humana, domina com suas inúmeras janelas – entre elas a
minha -, o espaço marinho mais aberto, um espaço que se defronta com o Todo (...).”[vi]
A chegada de Rilke na majestosa
fortaleza de Duíno ocorreu em outubro de 1911 e ali permaneceu por quase sete
meses. Foi um período importante na vida do poeta, que junto com a princesa
Marie dedicava-se, entre outras coisas, a traduzir a Vita Nuova de Dante. Nesse castelo viveu uma experiência epifânica
em certa manhã, ao final de janeiro de 1912. Aborrecido com uma correspondência
de negócios, que lhe exigia uma resposta imediata, o poeta resolveu sair do
castelo em busca de ar fresco. Era por volta de meio dia; o vento soprava forte
e o sol refletia-se no mar produzindo incríveis tons prateados. De repente, vem
envolvido pelo canto de um rouxinol, e embalado pelo rugir do vento julgou
ouvir uma voz que se irradiava pelas gretas das rochas:
“Quem, se eu gritasse, entre
as legiões dos Anjos me ouviria?”
O poeta olha ao redor, e avista ao
alto o castelo na sua transparente quietude. E ali, diante da lâmina iluminada
do mar, buscou um caderno e logo escreveu aquela frase que penetrara o seu
mundo interior, e logo foram jorrando outras tantas que lhe ocorreram no
momento. Na noite do mesmo dia, já em seus aposentos, concluía a primeira elegia
de Duíno, que nasce, assim, de forma gratuita e inesperada. E como assinala o
poeta, a elegia nasce não por “impulso de sua força criadora, mas por sua
própria força, pela força do poema mesmo, ou seja, por um impulso exterior ao
poeta.”[vii]
O impulso revelador ganhou
continuidade nos dias seguintes, quando então o poeta escreve a segunda elegia
e os passos iniciais da terceira, da sexta e da nona, bem como o arranque
singular da décima elegia:
“Que
um dia, ao emergir da terrível intuição, ascenda
meu
canto de júbilo e glória até os Anjos aprovadores!
Que
nenhum claro golpe dos malhos do coração
desentoe
sobre cordas frouxas, vacilantes ou
desgarradas!
Que meu rosto se ilumine sob o pranto!
Que
a obscura lágrima floresça! Oh, como então vos amaria,
noites
de aflição! Por que não me ajoelhei mais contrito,
inconsolável
irmãs, para vos acolher,
para
me perder em vossos cabelos desfeitos
com
mais abandono? Nós, dissipadores da dor.”[viii]
Iniciadas
em Duíno, em 1912, as elegias serão compostas em tempos e lugares
diversificados ao longo de dez anos. Elas ganham continuidade na Alemanha,
Espanha e Paris, com interrupção durante
o período da guerra. A complementação
vai ocorrer em fevereiro 1922, na torre de Muzot (Suiça), quando por força de
uma forte inspiração elas ganham finalização. Em carta redigida à princesa
Marie Thurn-Taxis no mesmo mês, Rilke fala desse “bendito dia” em que conclui o
seu trabalho, tudo ocorrido em “pouquíssimos dias”, como uma “tempestade sem
nome, um furacão do espírito”, quando fibras e tecidos explodiam, não deixando
sequer espaço à alimentação.”[ix]
Ao explicar o sentido de suas elegias,
em carta que ganhou notoriedade, Rilke assinala: “Nós somos as abelhas do
invisível. Sugamos desesperadamente o mel do invisível para acumulá-lo na
grande colmeia de ouro do visível.”[x] As
Elegias traduzem, em verdade, um “canto que celebra o existente”, um convite
duradouro de disponibilização humana ao mundo do “Aberto”. Em sua rica reflexão
sobre o tema, Antonio Pau nomeou cada uma das elegias: a primeira é a elegia
dos anjos, a segunda é a do vazio, a terceira é a do sexo, a quarta é a da infância,
a quinta é a da vida, a sexta é a do herói, a sétima é a do homem, a oitava é a
da despedida, a nona é a das coisas e a décima é a da alegria.[xi]
Os versos das elegias traduzem
intuições fundamentais. Não podem ser aprisionados como exposições lógicas. São
versos que refletem experiências, que apontam sugestões ou alusões, que
desentranham questões que tocam a nervura da dinâmica humana em sua sede
insaciável de Mistério. São versos que estão intimamente ligados à língua de
sua produção, daí a dificuldade de Rilke com as traduções, pois cada palavra
encontra o seu lugar definido, o seu tom determinado, e de forma exata e
segura. Tanto os efeitos fonéticos como rítmicos “são absolutamente essenciais,
e esses efeitos, em caso da tradução das elegias, perdem-se por completo.”[xii]
E a poesia intraduzível deveria ser lida em voz alta, reiterava Rilke, para
assinalar seus efeitos sonoros e rítmicos. Não há, porém, como escapar das
traduções, inclusive para favorecer o acesso de toda essa riqueza aos leitores.
Partilho aqui, com Marco Lucchesi, o direito da tradução, desde que “não se
perca a centelha misteriosa do texto de origem, mesmo que seja um breve fio de
luz.”[xiii]
Tendo em vista o recorte escolhido
para a abordagem das elegias de Duíno, visando captar ali os traços da mística
de Rilke, o caminho seguido não é o da reflexão sequencial das distintas
elegias, mas a captação de alguns temas que são nodais e que perpassam a reflexão
do autor como aqueles que tratam a questão da temporalidade, do caminho interior,
da busca do divino, da melodia das coisas e da alegria.
A fluidez da temporalidade
Tem razão Luiz Felipe Pondé ao
assinalar que a vida espiritual é um universo complexo e denso, e sua tessitura
escapa aos que se conformam em viver na dinâmica da superficialidade. A
espiritualidade “é uma travessia do deserto”, e o seu canto só se torna
acessível aos que carregam na alma um forte desassossego.[xiv]
O olhar atento aos poemas de Rilke favorece claramente esta percepção, de um
buscador insaciável. As Elegias, em particular, expressam o canto ardente do
humano face aos grandes desafios da existência: os encontros e desencontros
diante da experiência do amor, da morte, da dor e da felicidade.[xv]
Também da sede infinita para adentrar-se nas espessuras do real e captar a
melodia das coisas.
O limite da temporalidade vai ser
objeto da segunda elegia, cujo grande tema é o vazio. Logo no início, um mote
recorrente na reflexão de Rilke, que assinala que “todo Anjo é terrível”. Este
é um dos principais habitantes das elegias, e são vistos como terríveis porque
o traço de sua transformação de visível em invisível já ocorreu, pontuando a
dura distância que ainda separa os humanos do além tão ansiado. Os humanos
ainda padecem dos limites do tempo, ainda estão suspensos no visível,
dependendo das realidades que os circundam, enredados nas armadilhas do amor.
Faz parte dessa dinâmica o “dissipar-se” e
o “desvanecer-se”, que são experiências tremendas e dolorosas. Ninguém
escapa desse itinerário. Mesmo os que são brindados com a beleza deparam-se,
com o tempo, com o desgaste e a entropia:
“A aparência transita sem
descanso em seu rosto e se dissipa. Tal o orvalho da manhã e o calor do
alimento, o que é nosso flutua e desaparece. Ó sorrisos, para onde? E tu, olhar
erguido, fugitiva onda ardente e nova do coração? Ai de nós, assim somos.”[xvi]
No
preciso comentário de Dora Ferreira da Silva, a tradutora brasileira, nesta
segunda elegia
“o poeta denuncia a
temporalidade que corrói todos os esforços humanos de realização e plenitude
ontológicas: a beleza, os gestos de fervor, os impulsos do coração, os momentos
de êxtase e comunhão, tudo isto que é nosso, ´flutua e desaparece`. O próprio
esforço de pensar e compreender não basta para nos subtrair a essa inquietante
fluidez, isto é, não há salvação possível pelo conhecimento.”[xvii]
Nem
os amantes, tomados pelo êxtase um do outro, escapam da derradeira dissolução:
“Olhai, as árvores são; as casas que habitamos, resistem. Somente nós passamos”[xviii].
Por mais que eles se esforcem, com suas carícias, em ocultar esse limite,
mediante a alegria e o gozo, nada consegue deter o impetuoso ritmo da “duração
pura”. Ou nas palavras do poeta: “Quando um no outro pousais os vossos lábios,
como taças, oh, como se evade então, estranhamente, o embriagado.”[xix]
No momento do tresloucado êxtase é como se os amantes escapassem de sua órbita
precária para visitar a pátria do Anjo, o que também ocorre nos momentos
sublimes da criação artística. Mas logo em seguida, são despertados pela dura
realidade – e gritam basta! - pois
nenhum intercâmbio é possível entre o finito e o infinito.
Na riquíssima antropologia
existencial de Rilke, ele pontua com destreza o traço da provisoriedade humana.
Há um “ar de despedida” em todo labor humano, como diz Rilke na oitava elegia[xx]. Não
há inscrição definitiva, mas passagens, pois o ser humano está comprometido “na
fuga do tempo”. Em poema de rara beleza, Rilke aborda a Fonte Romana, onde a água flui devagar de uma bacia à outra:
“ela mesma a
escorrer na bela pia,
em círculos e círculos, constante-
mente,
impassível e sem nostalgia,
descendo pelo
musgo circundante
ao espelho da
última bacia
que faz
sorrir, fechando a travessia.”[xxi]
Nas ondas que se propagam
silenciosamente, as aguas fluem escapando a qualquer nostalgia. Ao contrário do
que ocorre com o ser humano, não há apego algum. A imagem oferecida pelo poeta
revela-se inspiradora, enquanto símbolo de uma “serena aceitação do continuado
despedir-se que é imposto ao homem por sua própria condição de ser transitório,
proibido de aspirar a qualquer forma de permanência.”[xxii]
Um caminho que se revela a Rilke ao
longo de sua trajetória poética, e que ganhará consistência na última etapa de sua
obra é a busca interior. Na sétima elegia ele afirma: “Em parte alguma,
bem-amada, o mundo existirá, senão interiormente.”[xxiii]
Nada mais essencial do que encontrar esse “espaço interior do mundo” (Weltinnenraum). Isso requer, porém,
renúncia. Uma dinâmica que supere a superficialidade e a distração. Segundo
Rilke, o que confere realidade ao que existe, as coisas e os seres, a amizade e
o amor, é esse alojamento na intimidade. Essa é uma tarefa que se abre ao ser
humano, de conversão do mundo visível em invisível, mediante a interiorização.
Sem deixar de ser terrenal, o ser humano aproxima-se, assim, do Anjo,
participando do mundo invisível.[xxiv]
Numa das cartas ao jovem poeta,
Rilke tinha assinalado esse caminho interior como passo fundamental de
sensibilização ao mundo da arte. Insistia na superação de um olhar meramente
exterior e a busca da entrada em si mesmo. É a partir do trato interior que as
coisas podem ganhar sua beleza.[xxv]
Dizia ao jovem poeta: “Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se
fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde.”[xxvi]
Há uma infinita solidão nas obras de arte, diz em outra carta. O acesso a elas
requer muito amor, mas também paciência: “Mesmo que se engane, o desenvolvimento
natural de sua vida interior há de conduzí-lo, devagar, e, com o tempo, a outra
compreensão.”[xxvii]
A paciência é o caminho, ela “é tudo”, tanto na trajetória de acesso às obras
de arte, como no itinerário místico.
O artista é como um dançarino,
adverte Rilke, “o que não tem espaço em seus passos e no impulso limitado de
seus braços, vem na extenuação de seus lábios, ou precisa arranhar nas paredes,
com dedos feridos, as linhas ainda não vividas de seu corpo.”[xxviii]
O artista deve
“amadurecer como a árvore que
não apura seus sumos e se consola nas tempestades da primavera, sem medo que
por trás delas o sol possa não aparecer. Mas ele aparece. Mas só aparece para
os pacientes, que existem como se a eternidade estivesse diante deles, tão
despreocupadamente quietos e distantes.”[xxix]
Insiste sempre Rilke em dizer que a
“paciência é tudo”. O artista não nasce de um momento para o outro. O despertar
da “chispa” pode ocorrer em um ano, mas também em dez anos. Há que ter muito
calma, e também disponibilidade interior. E muita atenção para poder perceber
ao que há de mais simples na natureza, aquilo que quase ninguém vê. Tudo pode
de improviso “tornar-se grande e incomensurável”. Os conselhos que dedica ao
amigo Franz Kappus são muito ricos:
“O senhor é tão moço, tão no início
de tudo, e gostaria de lhe pedir da melhor maneira possível, estimado senhor,
que tenha paciência com tudo o que é insolúvel em seu coração e que tende se
afeiçoar às próprias questões como quartos trancados e como livros escritos
numa língua bem desconhecida. Não busque agora as respostas; não lhe podem ser
dadas porque não poderiam viver. E se trata de viver tudo. Viva agora as
questões. Viva-as talvez aos poucos, sem notar, até chegar à resposta um dia
distante.”[xxx]
A busca agônica do divino
O traço que acompanha o poeta Rilke
em toda a sua trajetória é a busca. É também a sede de transcendência. Mas sua
busca não tem nada de ortodoxa, é marcada pelo traço agônico. Seu percurso vem
acompanhado pela agonia, entendida em seu sentido nobre de embate com um
irredutível que remove as entranhas intelectuais e afetivas. Depara-se com o
drama do ser humano, que por um lado pertence ao mundo visível, mas que por
outro anseia roçar o infinito, beber de sua seiva. Daí a sedução dos anjos,
esses seres que traduzem em profundidade a busca metafísica do humano e riscam
com sua vitalidade o mundo dos vivos e dos mortos:
“Olha.
Os anjos espalhando no espaço
seus
raros sentimentos incessantes.
Nosso
ardor lhes seria congelante.
Olha,
esses anjos queimando o espaço.
Se
a nós, que tudo resta ignorado,
algo
se opõe e algo ocorre em vão,
eles
seguem, impassíveis, voltados
a
seus domínios de perfeição.”[xxxi]
Os
anjos, esses personagens que participam dos dois mundos, representam para Rilke
o modelo e a meta do caminho humano. Daí a sedução que provocam. O poeta
rasgou-se de encanto com a presença desses anjo-pássaros em Toledo[xxxii],
e isto repercutiu vivamente na sexta elegia. Como sublinha Antonio Pau, “a
visão deste anjo faz estremecer o poeta, porque seu abraço mata: tão intensa é
a sua vida.”[xxxiii]
As elegias expressam uma cosmologia.
Há uma intenção de resgate da unidade cósmica perdida, que irmana a vida e a
morte. Os contrastes ganham sintonia no ponto mais íntimo do mundo interior, o
coração. E Rilke busca resgatar esta paisagem (Herzenlandschaft). As elegias
“nos mostram a aplicação deste
trabalho, do trabalho destas contínuas transformações do amado visível e
tangível na invisível oscilação e excitação de nossa natureza, que introduz
novas frequências de vibração nas esferas de vibração do universo.”[xxxiv]
No
grito do poeta, a sede de um anseio infinito: “Terra, não é este o teu desejo:
renascer invisível em nós?”[xxxv]
Esta é a tarefa do homem verdadeiramente criador, de redimir a terra, de
“transformar tudo em canto, ferir a melodia potencial das coisas simples,
configuradas de geração em geração.”[xxxvi]
Há no canto de Rilke um lamento, da
perda de uma unidade cósmica. O ser humano, infelizmente, perdeu o contato com
a natureza, perdeu a pureza de uma ligação original, e também a lucidez de um
olhar. Este é o tema da oitava elegia. Desligado assim do “ritmo original das
fontes que fluem sem perguntas para a eternidade”, o ser humano perdeu a
dinâmica do “Aberto”, deixou escapar o “espaço puro”. O animal, ao contrário,
vive a intensidade do instante, está em contato intensivo com a vida, numa
relação de imediatidade. Ele “simplesmente vive”[xxxvii],
radicalmente alheio ao desamparo que acompanha a consciência da morte. Como
sublinha o poeta, “o animal espontâneo ultrapassou seu fim; diante de si tem
apenas Deus e quando se move é para a eternidade, como correm as fontes.”[xxxviii]
Não sem razão, Thomas Merton
reconheceu nesta oitava elegia uma intensa aspiração pela consciência pura, que
também seduziu alguns grandes nomes da Escola de Kyoto, como Nishida. Essa
consciência pura, como lembra Merton, “não olha para as coisas, não as ignora,
não as aniquila nem as desmente. Aceita-as integralmente, em completa unidade
com elas.”[xxxix]
A nostalgia diante do “Aberto” (das
Offene), que recobre toda esta elegia, implica este inefável estado de
identificação do sujeito com o objeto.
Segundo Rilke, alguns humanos conseguem se aproximar dessa
consciência pura, ou desse inefável. É o caso das crianças, dos moribundos e
dos amantes:
“Uma criança aí se perde, às
vezes em silêncio, mas é despertada. Ou alguém que morre, nisso se transforma.
Pois os que da morte se aproximam não mais a podem ver, fixando o infinito com
o grande olhar do animal. Os amantes – não estivesse o outro a ofuscar-lhe a
visão – sentem a obscura presença e se espantam...”[xl]
Grande
é a aventura que envolve a proximidade a este “em-parte alguma, sem nada”. É o
“puro” e “inesperado” ponto de que fala Rilke, “que se sabe infinito”. Os
poucos que ali se aproximam vivem a força de um momento essencial. É o que
ocorre, por exemplo, com os amantes, que captam por momentos essa presença, mas
“se espantam”. E logo logo, “o mundo já retorna”, com sua pulsação ordinária. Depois
da perda da unidade, no tempo da segunda pátria – distante do ventre – o que
impera é a incerteza e o desabrigo: “Tudo aqui é distância.”[xli]
A melodia das coisas
A paixão pela melodia das coisas vai ganhando vida no
itinerário do poeta, e nos vários passos de sua biografia captamos esse
reflexo: a presença de Lou Andreas Salomé[xlii]
e o incentivo ao ritmo da observação da natureza; os estímulos provocados por
Rodin, para que o poeta aprendesse a ver; o impacto de sua presença nas estepes
russas, onde compõe poemas de extraordinária serenidade; a estupefação diante
de Toledo, e a nova atenção para com a paisagem envolvente. São tantos os
exemplos que expressam esse traço de delicadeza do poeta em sua abertura ao
canto das coisas. Num de seus poemas se diz assustado com as palavras dos
homens, tão arrogantes em sua pretensão de clareza. Nada escapa a seu domínio:
sabem tudo o que é e o que foi. E o poeta reage, opondo-se a eles: “estão
longe”. Prefere apreciar o canto das coisas.[xliii]
Em reflexão de 1898, sobre a melodia das coisas, sublinha:
“Seja o canto de um candeeiro
ou a voz da tempestade, seja o respirar da noite ou gemido do mar que o rodeia
– sempre desperta por trás de você uma vasta melodia, tecida por mil vozes, na
qual só aqui e ali há espaço para você fazer um solo. Saber quando é a sua vez
– eis o segredo da solidão.”[xliv]
Num de seus clássicos Sonetos a Orfeu o poeta assinala que
as coisas têm “o dom da eterna infância”. Há um dado sagrado na tarefa poética,
de colher a palavra pura. Isto reverbera na nona elegia:
“Estamos aqui talvez para
dizer: casa, ponte, árvore, porta, cântaro, fonte, janela – e ainda: coluna,
torre... Mas para dizer, compreende, para dizer as coisas como elas mesmas
jamais pensaram ser intimamente.”[xlv]
Dizer
as coisas, poetar sobre as coisas (Dinggedicht)
é algo que vai ganhando força na reflexão e na arte de Rilke, também sob o
influxo de grandes artistas como Cézanne e Rodin. O que o poeta almejava era
criar uma poesia que de fato pudesse pertencer ao mundo das coisas, capaz de
adentrar as “superfícies vivas”. Bem na linha de uma mística do cotidiano,
Rilke busca com vigor captar e fazer ressoar a dinâmica do instante:
“Não somente as manhãs de
estio, não só a sua metamorfose em dias e o seu fulgor em auroras, não só os
dias que se fazem ternos junto às flores e no alto, junto às árvores, fortes,
poderosos. Não só o ardor das forças desencadeadas, não só os caminhos, não só
os campos nas tardes, não só a luz que respira após as tormentas tardias. Não
só a proximidade do sono e um pressentimento ao crepúsculo... mas as noites! As
grandes noites de verão, e as estrelas, as estrelas da terra!”[xlvi]
O instante é chama que convoca a
atenção e a sensibilidade. O poeta indica que mesmo a morte valeria a pena se
abrisse o espaço para “conhecer infinitamente todas as estrelas”. O que para
ele importa é perceber com cuidado e delicadeza a simplicidade de cada coisa, e
isto já valeria o infinito. Há algo de infância nesse aprendizado de percepção.
Diz: “Mostra-lhe o simples, o que através das gerações configurado vive como o
nosso no olhar e ao alcance da mão. Dize-lhe as coisas.”[xlvii]
E em momento grandioso da sétima elegia, o poeta reconhece: “Estar aqui é
esplendor” (Hiersein ist herrlich).[xlviii]
A atmosfera que envolve as elegias
no momento final é de alegria. Reconhece o poeta: “Uma caudalosa existência
transborda em meu coração.”[xlix]
A vida vem reconhecida em sua grandiosidade. Uma percepção que acompanhou Rilke
mesmo em seu leito de morte. Na visão do poeta, é a alegria transbordante que
faculta um juízo correto. A tristeza, ao contrário, “deforma a visão. A alegria
é o que permite captar com nitidez o visível – sobretudo – o invisível.”[l]
Conclusão
Estamos diante de um poeta que
irradia uma espiritualidade muito peculiar. Sabemos que a espiritualidade não é
apanágio dos que se fixam numa experiência religiosa. Ela diz respeito a
qualidades do espírito e pode brilhar no tempo em formas tão diversificadas.
Com Rilke encontramos uma espiritualidade terrenal, bem consciente dos limites
da temporalidade, mas endereçada ao horizonte mais profundo do Aberto. Em seu Livro de Horas, o poeta aborda a sua
percepção de Deus envolvido na totalidade, que acompanha o sujeito por toda
parte:
“Encontro
a ti em todas estas coisas
para
as quais eu sou bom e assim feito um irmão:
nas
mais pequenas te assemelhas à semente
e
nas maiores deixas ver tua grandeza.
Tal
é o jogo maravilhoso das forças
Que
assim servindo passam por todas as coisas:
Nas
raízes crescendo, nos troncos se escondendo
E
nos ramos como que revivendo.”[li]
O
poeta em sua relação com Deus deixa vigorar o toque cuidadoso da alteridade.
Deus é para ele “o cheio de mistério, em torno do qual vacila o próprio tempo.”[lii] Tem plena consciência da distância que
preserva o encontro:
“O
meu Deus é escuro e como uma trama
de
cem raízes que em silêncio bebem.
Apenas
sei que me ergo da sua chama,
e
mais não sei, pois todos os ramos assim
repousam
bem fundo e só ao vento acedem.”[liii]
Apesar do silêncio, o colóquio que se estabelece é pontuado
por delicadeza e leveza. O amor a Deus para Rilke é deixar-se envolver por seu
abraço:
“Agora sou teu e não sabes
quem sou
pois teus amplos sentidos
podem ver
apenas que o escuro me
transformou.
Seguras-me com estranha
ternura
e escutas minhas mãos no seu
mover
entre as tuas barbas de
alvura.”[liv]
O Livro de horas revela
também um Deus que é solitário, e que necessita do humano:
“Se a ti, vizinho Deus, eu
incomodo às vezes
com rude batimento no meio
da noite,
é que de quando em quando te
ouço respirar
e sei que estás sozinho no
salão.
E, se careces de algo, lá
não há ninguém
que te ofereça um gole às
mãos tateantes...
Sempre atento estou eu: ao
menor sinal teu
eu estou muito perto.”[lv]
A relação do humano com Deus é
tecida por tamanha intimidade que o poeta indaga sobre o destino de Deus quando
a morte interromper o enlace:
“Que
farás tu, meu Deus quando eu morrer?
Sou
o teu cântaro (quando me quebrar?)
Sou
a tua bebida (quando me estragar?)
Sou
o teu manto e o teu operar,
comigo
tu o teu sentido vais perder.
Depois
de mim não tens casa que restou
com
palavras próximas e calorosas para te saudar.
Cai
dos teus pés cansados, sem se levantar,
a
sandália de veludo que eu sou (...).
Que
farás tu, meu Deus? Tremem-me as entranhas.”[lvi]
Há sempre a presença de Deus nos
poemas de Rilke. O nome vem citado quase trezentas vezes em seus inúmeros
poemas alemães. Mas Rilke busca manter este Mistério no âmbito resguardado do
silêncio. Mas sempre gira em torno de sua órbita, essa “torre antiquíssima”.[lvii]
Num de seus versos sublinha que ele foi o canto e Deus a rima. Há, assim, um
inegável toque espiritual – e religioso – na obra de Rilke. Assinalou com razão
Robert Musil num célebre discurso sobre o poeta, pronunciado em janeiro de 1927
em Berlim: “Foi talvez o poeta mais religioso que tivemos desde Novalis, porém
não estou seguro que ele teve uma religião.”[lviii]
Enfim,
estamos diante de uma espiritualidade singular, de um poeta que se deixa
atravessar por um Mistério que é sopro envolvedor, mas também enigma que não se
deixa apreender. Seus sinais, sim, estão presentes por toda parte, nas mais
pequenas e delicadas coisas que envolvem o ritmo do cotidiano.
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RILKE, Rainer Maria. Elegias de Duíno. 6 ed. São Paulo: Biblioteca Azul, 2013.
RILKE, Rainer Maria. Elegie duinesi. Trieste: Beit, 2013.
RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. 4 ed. São Paulo: Globo, 2013.
RILKE, Rainer Maria. Poesie 1907-1926. Torino: Einaudi, 2014.
RILKE, Rainer Maria & SALOMÉ, Lou Andreas. In corrispondenza – Epistolario
1897-1926. Milano: Ipoc, 2014.
(Artigo Publicado na Revista Terceira Margem, do Programa de Pós Graduação em Ciência da Literatura - UFRJ, v. 19, n. 13, 2015 (com edição em 2017)
[i] Faustino Teixeira, doutor em teologia pelo Pontifícia
Universidade Gregoriana de Roma (1985). Professor Titular do Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora e
Pesquisador do CNPQ. Últimas publicações: Buscadores
do diálogo. Itinerários inter-religiosos. São Paulo: Paulinas, 2012; Buscadores cristãos no diálogo com o islã. São
Paulo: Paulus, 2014; Cristianismos e
teologia da libertação. São Paulo: Fonte Editorial, 2014; Cristianismo e diálogo inter-religioso.
São Paulo: Fonte Editorial, 2014; Religiões
& Espiritualidades. São Paulo: Fonte Editorial, 2014.
[ii] Pierre Hadot. La
filosofia como modo di vivere. Torino: Einaldi, 2008, p. 68.
[iii] Patrick Hart & Jonathan Montaldo (Eds). Merton na intimidade. Sua vida em seus
diários. Rio de Janeiro: Fisus, 2001, p. 302.
[iv] Antonio Pau. Introducción. R. M. R. El poema como
meteoro. In: Rainer Maria Rilke. Cuarenta
y nueve poemas. 2 ed. Trotta: Madrid, 2010, p. 12 e 20.
[v] Antonio Pau. Vida
de Rainer Maria Rilke. La beleza y el espanto. 2 ed. Madrid: Trotta,
2007, p. 200.
[vi] Ibidem, p. 226.
[vii] Ibidem, p. 232.
[viii] Rainer Maria Rilke. Elegias de Duíno. 6 ed. São Paulo: Biblioteca Azul, 2013, p. 83.
[ix] Renata Caruzzi. Rilke e le Elegie. In. Rainer Maria
Rilke. Elegie duinesi. Trieste: Beit,
2013, p. 116.
[x] Antonio Pau. Vida
de Rainer Maria Rilke, p. 236.
[xi] Ibidem, p. 390-403.
[xii] Ibidem, p. 390. O tradutor espanhol de Rilke, Antonio
Pau, defende a possibilidade de uma terceira via: “buscar entre os poemas de
Rilke aqueles que, com uma maior fidelidade às palavras, poderiam conservar,
depois da tradução, alguns valores do texto original. Nunca serão os mesmos
valores, mas ao menos guardarão certa proximidade”: Rainer Maria Rilke. Cuarenta y nueve poemas, p. 13-14.
[xiii] Marco Lucchesi. Khliébnikov.
Eu e a Rússia. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2014, p. 69 (Entrevista a Zóia
Prestes).
[xiv] Luiz Felipe Pondé. Os dez mandamentos (+ um). São Paulo: Três Estrelas, 2015, p. 12.
[xv] Rainer Maria Rilke. Poesie 1907-1926. Torino: Einaudi, 2014, p. 641 (commento de
Giuliano Baioni).
[xvi] Rainer Maria Rilke. Elegias de Duíno, p. 21 (segunda elegia).
[xvii] Ibidem, p. 98-99.
[xviii] Ibidem, p. 21.
[xix] Ibidem, p. 23. Em seu comentário a respeito, assinala
Dora Ferreira da Silva: “O contato físico, a sensualidade das mãos ´que
descobrem a riqueza dos anos de vinho`, o amplexo e sua promessa de eternidade,
são ´provas` insuficientes de uma verdadeira comunhão. E à angústia da
incomunicabilidade acrescenta-se, pois, a da inconsistência de toda aproximação
física”: Ibidem, p. 100. O tema da solidão dos amantes aparece também nas Cartas a um jovem poeta, p. 54-55.
[xxi] Augusto de Campos. Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2001, p. 79.
[xxii] José Paulo Paes. A luta com o anjo. Uma introdução à
poesia de Rilke. In: Rainer Maria Rilke. Poemas.
2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 29.
[xxiii] Rainer Maria Rilke. Elegias de Duíno, p. 63.
[xxiv] Antonio Pau. Vida
de Rainer Maria Rilke, p. 408.
[xxv] Num de seus belos poemas dizia Rilke: “Tudo aquilo em
que ponho afeto fica mais rico e me devora”: Augusto de Campos. Coisas e anjos de Rilke, p. 65 (O
poeta).
[xxvi] Rainer Maria Rilke. Cartas a um jovem poeta. 4 ed. São Paulo: Globo, 2013, p. 22.
[xxvii] Ibidem, p. 33.
[xxviii] Rainer Maria Rilke. A melodia das coisas. 2 ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2011, p.
138.
[xxix] Ibidem, p. 150.
[xxx] Ibidem, p. 152.
[xxxi] Georg Trakl e Rainer Maria Rilke. Poemas à noite. Rio de Janeiro:
Topbooks, 1996, p. 45 (tradução de Marco Lucchesi). Ver também: Rainer Maria
Rilke. O livro de horas. Lisboa:
Assírio & Alvim, 208, p. 85. Os mesmos anjos “impassíveis” do belo conto de
Vladimir Nabokov – A palavra -, com suas “asas dobradas apontando firmes para o
alto” e seu passar etéreo, “como nuvens coloridas em movimento”: Contos reunidos. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2013, p. 785.
[xxxii] A cidade de Toledo (Espanha) causou viva impressão em
Rilke e nela dará início à sexta elegia. Via ali a “pátria natural dos anjos”: Antonio
Pau. Vida de Rainer Maria Rilke, p.
249-250.
[xxxiii] Antonio Pau. Vida
de Rainer Maria Rilke, p. 249.
[xxxiv] Ibidem, p. 411.
[xxxv] Rainer Maria Rilke. Elegias de Duíno, p. 81 (nona elegia).
[xxxvi] Ibidem, p. 119-120.
[xxxvii] Thomas Merton. Prólogo. In: Ernesto Cardenal. Vida no amor. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1979, p. 11.
[xxxviii] Rainer Maria Rilke. Elegias de Duíno, p. 67 (oitava elegia).
[xxxix] Thomas Merton. Místicos
e mestres zen. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972, p. 261. Merton
assinala que Rilke moveu-se por essa aspiração a uma consciência pura, mas não
a encarou de fato, pois se isso ocorresse – a seu ver – “poderia ter silenciado
sua voz poética”: ibidem, p. 263.
[xl] Rainer Maria Rilke. Elegias de Duíno, p. 69 (oitava elegia).
[xli] Ibidem, p. 71.
[xlii] Rainer Maria Rilke
& Lou Andreas Salomé. In
corrispondenza – Epistolario 1897-1926. Milano: Ipoc, 2014.
[xliii] Rainer Maria Rilke. Cuarenta y nueve poemas, p. 43. Chegará a dizer no Livro de Horas: “Os homens me são mais
distantes do que as coisas”: Antonio Pau. Vida
de Rainer Maria Rilke, p. 119.
[xliv] Rainer Maria Rilke. A melodia das coisas, p. 126. Nas Cartas a um jovem poeta, Rilke chama a atenção de Kappus para esta
sensibilidade: “Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a
acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair
suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e
indiferente.”: Cartas a um jovem poeta,
p. 23.
[xlv] Rainer Maria Rilke. Elegias de Duíno, p. 77 (nona elegia).
[xlvi] Ibidem, p. 61 (sétima elegia).
[xlvii] Ibidem, p. 79
(nona elegia).
[xlviii] Ibidem, p. 61.
[xlix] Ibidem, p. 81 (nona elegia).
[l] Antonio Pau. Vida
de Rainer Maria Rilke, p. 457.
[li] Rainer Maria Rilke. O livro de horas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993, p.
38 e 141.
[lii] Ibidem, p. 63.
[liii] Rainer Maria Rilke. O livro de horas. Lisboa: Assírio & Alvim, 2008, p. 31. E
também p. 83.
[liv] Ibidem, p. 117.
[lv] Rainer Maria Rilke. O livro de horas, p. 20 (Civilização Brasileira). Sobre o Deus que
necessita do humano cf. Antonio Pau. Vida
de Rainer Maria Rilke, p. 67.
[lvi] Rainer Maria Rilke. O livro de horas, p. 101 (Assírio & Alvim).
[lvii] Rainer Maria Rilke. Cuarenta y nueve poemas, p. 47.
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