sábado, 17 de dezembro de 2022

A beleza do círculo inclusivo

 A beleza do círculo inclusivo


Faustino Teixeira

UFJF/IHU


Uma das grandes alegrias no Simpósio sobre Ibn ´Arabi na PUC-MG, em 16/12/2022, foi conhecer Cecilia Twinch. Ela falou para nós sobre o tema precioso do "Círculo Inclusivo".
Cecília é da Muhyiddin Ibn Arabi Society, de Oxford. Falou para nós num espanhol claro e delicado. O que mais marcou em sua pessoa, como em seu companheiro, foi a simpatia, delicadeza e acolhida. Um sorriso encantador, de quem está habitada a lidar com o Mistério sempre Maior.
O tema de sua fala foi também publicado no livro organizado por Pablo Beneito e Pilar Garrido: El viaje interior entre Oriente y Occidente. La actualidad del pensamento de Ibn ´Arabi. Madrid: Mandala Ediciones, 2007.
O seu texto exerceu em mim uma influência poderosa nas minhas reflexões sobre a dimensão dialogal do sufismo, e em particular de Ibn ´Arabi (1165-1240).
Em sua bela reflexão, Cecilia faz menção ao belo capítulo sobre Hûd no Fûsus de Ibn ´Arabi, quando o místico aborda o tema da proximidade do ser humano a Deus. O humano está profundamente vinculado a Deus, em laços que são ainda mais estreitos de sua ligação com a própria veia jugular.
Com o tema do "Círculo Inclusivo", Cecília nos abre a uma visão universalista e acolhedora do mística andaluz. Com ele, recebemos um convite dialogal único: evitar partilhar uma visão reduzida da realidade, e deixar-se tomar por uma visão mais ampla, com perspectiva universal.
Com esse convite tentador, o impulso criador para uma visão que esteja para além das ataduras das crenças particulares. Mas claro que temos sempre um referencial de pertença, que nos é essencial, mas essa domiciliarão não pode ser uma prisão, que nos impossibilite de captar e perceber a presença do Mistério também alhures.
Se nos apegamos a uma única crença, deixamos escapar bens preciosos do Mistério sempre maior. É o que afirma de forma maravilhosa e livre. É clássica a frase de Ibn´Arabi em seu Fusûs (Os engastes da sabedoria), ao falar do profeta Hûd: "Cuide-se de não te ligar a um credo particular rejeitando todo o resto, pois perderás um bem imenso".
Para onde quer que voltemos o nosso olhar, diz Ibn ´Arabi, com base em passagem do Corão, estamos sempre diante do Misericordioso. A essência do Deus que louvamos está viva e atuante em todas as direções e orientações.
O Mistério sempre maior, que é simultaneamente Tansih e Tashbir (distância e proximidade), rechaça qualquer proposta de limitação. Como diz Cecília, "A Realidade rechaça tal limitação". O lugar privilegiado de aproximação desse Mistério é o coração, capaz de acolher toda as formas.
Ibn´Arabi fala de um "Círculo Inclusivo", capaz de acolher com fraternura todas as "variações da Verdade". Aí está o traço fundamental que caracteriza o Mistério: "Ele possui todas as formas sem estar confinado a nenhuma delas".
Isso não significa, em hipótese alguma, a adesão a um relativismo, mas como eu disse na minha reflexão ontem em BH, O servidor perfeito consegue equilibrar com tranquilidade e confiança o seu "exercício de fé tradicional" com a receptividade à "realização metafísica da Palavra".
Em síntese, foi um simpósio maravilhoso, e fiquei encantado de poder conhecer pessoalmente Cecília, essa dama do diálogo e da abertura ao outro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário