sábado, 12 de abril de 2025

Alguns pontos sobre o Labo

 Alguns pontos de reflexão sobre o Labô

 

Começo minhas ponderações falando um pouco sobre o que é o Labô – Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo. Trata-se, como vem apresentado em sua página oficial, de “um espaço de ensino e pesquisa, subordinado à Secretaria Executiva da Fundação São Paulo com a finalidade de gerar conhecimento público e institucional, atuando como instância produtora de reflexão e pesquisa livre, em diálogo com a sociedade”. Não está vinculado, propriamente à PUC-SP, mas à  Fundação São Paulo, da Arquidiocese paulista. O Laboratório está, portanto, diretamente vinculado à mantenedora da PUC-SP, a Fundação São Paulo, que tem na sua frende o cardeal Odilo Pedro Scherer. Depois de sair do Departamento de Teologia da PUC-SP, Pondé veio convidado pela Fundação São Paulo a fazer um trabalho particular junto à Fundação, e assim veio fundado o Labô, que não tem a ver nem com o Departamento de Teologia da PUC, nem com o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, do qual Pondé fez parte durante anos. O Labô vem dirigido por Pondé, tendo como assistente acadêmica Andréa Kogan, que é doutor em Ciência da Religião pela PUC-SP.

 

O Labô funciona com Grupos de Pesquisa, cujos colaboradores atuam de forma gratuita e militante. Não há recursos disponíveis para os responsáveis ou atuantes nos Grupos de Pesquisa. Estão atuantes em 2025, 17 grupos de pesquisa: Ateísmo e Apologética; Ética da Tecnologia; A crise do amadurecimento na contemporaneidade; A experiência mística e conhecimento; A palavra é imagem: arte sacra contemporânea – história e religião; Comportamento Político, Cultura do Consumo; Sociedade e Tendências; Morte e Pós-Morte; Diálogos da Diáspora – racismo e antissemitismo; Judaísmo e Filosofia da Religião; Jung e a Filosofia da Religião; Núcleo de Filosofia Medieval; Núcleo de Filosofia Política; O Vazio Existencial na contemporaneidade e as possibilidade de realizar sentido; Teologia Cristã e Religião Contemporânea; Cinema, Filosofia e Religião.

 

O Labô realiza dois seminários ao ano, quando os vários Grupos de Pesquisa se encontram para tratar de uma programação prévia, sempre coordenada por Luiz Felipe Pondé. Em 2025 começou também um Estágio de Pós-Doutorado, que tem como objetivo contribuir para o conhecimento dentro da universidade e no mercado de trabalho, promover estudos de alto nível, consolidar as linhas de pesquisa do Laboratório e reforçar os grupos de pesquisa existentes. É o que aparece na descrição oferecida pelo Labô. A iniciativa já começa em 2025 com 8 alunos aprovados.

 

Eu tenho um conhecimento razoável do Labô, tendo atuado por diversas vezes ali, a convite de amigos que fazem parte do Laboratório, incluindo Luiz Felipe Pondé. Entendo como sério e responsável o trabalho que vem sendo ali realizado desde o início. Vejo como principal valor, o trabalho gratuito que ali vem exercido por tantos colaboradores. Trata-se de missão louvável. Porém, nos últimos tempos, venho me preocupando com certos caminhos tomados pelo Labô, não por todos os membros dos vários núcleos de pesquisa, mas por algumas pessoas em particular, que estão vinculadas à coordenação geral. Isso vem me preocupando muito, pois tenho grandes amigos e amigas que atuam ali, com muita generosidade, empenho e profissionalismo. 

 

O motivo maior de minha preocupação, que venho percebendo por alguns sinais em curso, é a crescente sintonia do Labô com reflexões que defendem a atual política de Israel com respeito aos Palestinos. Vejo isto em posicionamentos bem precisos de membros do Labô, a começar pelo seu diretor, Luiz Felipe Pondé. Em artigos de jornais e entrevistas que ele vem dando na imprensa nacional, a posição pró-Israel firma-se com muita clareza. 

 

Fiquei particularmente impressionado com o artigo escrito por Pondé na FSP de 16 de março de 2025. Ali ele já mostrou ao que veio nesse tipo de posicionamento crítico à Palestina. No artigo, Pondé expressa sua preocupação com a “infiltração” de ideias problemáticas, de agentes da esquerda, que influenciam e envenenam os jovens nas universidades e redes sociais. Para ele, tudo se resume, em síntese, em práticas antissemitas. Aliás, a expressão anti-semita passou a ser lugar comum nas críticas a todos os que defendemos a Palestina e reagimos ao massacre que vem ocorrendo na Faixa de Gaza. Para Pondé, não, o que ocorre é uma justa reação de Israel ao que aconteceu em outubro de 2023, que ele identifica como um planejado pogrom. 

 

E agora, no dia 09 de abril, mais uma entrevista, a meu ver, muito infeliz de Pondé, onde ele ataca a esquerda brasileira e, ao final, aborda o tema do antissemitismo. Começa com a sua tradicional ironia, dizendo que Jesus era judeu. Complemento, porém, que Jesus era, sim, judeu, mas de uma abertura à diferença que dificilmente encontramos hoje no circuito sionista judeu, do qual Pondé partilha. 

 

Nessa entrevista, Pondé praticamente justifica a atuação desastrosa de Netanyahu, e diz que ele não é assim um desastre total, pois tem conseguido “impor uma derrota política ao Hamas”. Aliás, esse fenômeno “Hamas” é o motivo mais forte das iracúndias reações de Pondé em torno da Palestina. A seu ver, estamos numa situação precisa onde não há saída possível, a não ser matar ou morrer. Isto ele tem dito com recorrência. Trata-se de uma guerra, e a solução tem que ser militar e não dialógica. É o que ele vem defendendo por todo canto. E que pensa diferente, como eu, vem logo enquadrado no perfil de antis”semita.

 

Mas minha proposta ao Labô, na medida em que esse Laboratório define-se como um espaço voltado para a geração de conhecimento público, atuando como “instância produtora de reflexão e pesquisa livre, em diálogo com a sociedade”, é a de abrir concretamente um espaço dentre os grupos de pesquisa para um núcleo específico de reflexão sobre a temática da Palestina. Isso iria harmonizar a perspectiva em curso, onde o tema do “racismo e antissemitismo” ocupar um lugar de grande destaque.

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