sábado, 29 de março de 2025

Carlos Drummond de Andrade e o sentimento do mundo

 Carlos Drummond de Andrade e o sentimento do mundo

Entrevista ao IHU-Notícias, 24/03/2025

  

“Penetra surdamente no reino

das palavras”

 

CDA

 

“Vivemos tempos muito difíceis nesse século XXI, em que os horizontes estão bem embaçados. Em tempos de crise, a poesia entra como um poderoso dossel de reação e esperança (...) para reafirmar significados que são essenciais, promover desenhos de esperança e facultar nossa capacidade de sonhar, tão essencial”. É com esta motivação que Faustino Teixeira iniciou, na semana passada, o curso livre A poesia de Carlos Drummond de Andrade, promovido em parceria com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU. O evento aborda os livros do poeta brasileiro que cobrem o período de 1930 a 1962. Teixeira também deu prosseguimento a mais uma edição do ciclo Filmes em Perspectiva, que mescla filmes clássicos e contemporâneos, na última quarta-feira, 19-03-2025.

A poesia, que forjou o desenvolvimento pessoal do pesquisador desde a infância, é e tem sido, assegura, a “porta e janela para outros lugares, alternativos e sadios”.

Nesta entrevista, concedida ao IHU por e-mail, o teólogo comenta a relação entre poesia e teologia, com ênfase para os traços espirituais na obra de Drummond. “Os traços espirituais de Drummond não estão concentrados em um ponto específico, mas estão presentes como fragmentos ao longo de seus poemas. Não há dúvida sobre o interesse de Drummond com respeito ao mistério do mundo. Sua espiritualidade, se assim podemos dizer, está contida na dinâmica de sua atenção ao cotidiano”, resume.

Teixeira comenta ainda a carta do Papa Francisco sobre o papel da literatura na educação. “Na visão de Francisco, com a qual concordo, a literatura é vista como ‘algo não essencial’. Essa carência das humanidades no campo da formação teológica é algo mesmo problemático. Os estudantes ficam restringidos ao pequeno circuito teológico, com carência evidente de disciplinas que possibilitem uma ampliação do olhar. Daí a advertência precisa e fundamental de Francisco em sua carta. A literatura é, sem dúvida, um essencial ingrediente na tessitura do mundo pessoal”, observa.


1. Qual é a proposta do curso A poesia de Carlos Drummond de Andrade? 

Desde que me aposentei na UFJF, em 2017, venho me dedicando a trabalhar os temas da literatura e do cinema. Encontrei aqui no Instituto Humanitas da Unisinos (IHU) um dos espaços fundamentais para atuar na área, com os cursos longos e os Filmes em Perspectiva. No campo da literatura, comecei com os cursos sobre Guimarães Rosa, iniciando com Grande Sertão: Veredas e depois os contos. Em seguida dei quatro cursos longos sobre Clarice Lispector: Crônicas, Contos, Romances e Cartas. Na sequência dei ainda dois outros cursos, sobre Graciliano Ramos e Fernando Pessoa. Agora, no primeiro semestre de 2025, resolvi tratar a poesia de Carlos Drummond de Andrade.

A proposta é navegar com calma por todos os livros fundamentais de Carlos Drummond de Andrade, de forma particular os livros que cobrem o período de 1930 a 1962, ou seja: Alguma Poesia, Brejo das Almas, Sentimento do Mundo, José, A rosa do Povo, Novos Poemas, Claro Enigma, Fazendeiro do Ar, A Vida Passada a Limpo, Lição de Coisas. Resolvi ainda acrescentar outros três livros de poemas: Menino Antigo, Impurezas do Branco e Farewell. A obra de referência para o trabalho é o precioso livro: Carlos Drummond de Andrade. Poesia 1930-1962. Edição crítica (São Paulo: Cosac Naify, 2012). 

Procurei mergulhar nos poemas de Drummond com paciência, carinho e muita dedicação, recorrendo a obras de apoio que considero fundamentais, e que estão na bibliografia que acompanha o cronograma divulgado no IHU. Dentre os trabalhos consultados estão livros preciosos, como os organizados por Eucanaã Ferraz. Utilizei também outras obras de referência, como as de Afonso Romano de Santanna, José Guilherme Merquior, Alcides Villaça, John Gledson, Sonia Brayner, Murilo Marcondes Filho e José Miguel Wisnik. Há também os preciosos artigos de Silviano Santiago, Paulo Rónai, Antonio Houaiss, Antonio Candido e Alfredo Bosi.

Aproveitei os últimos meses para trabalhar com calma essas obras e artigos e montar o curso, que espero possa favorecer aos alunos e acompanhantes uma boa entrada nesse poeta que é considerado, com razão, um dos mais importantes da literatura brasileira.

 2. Por que escolheu trabalhar este poeta no curso livre deste semestre? 

Tomei uma decisão importante no meu trabalho no IHU, ao escolher abordar autores brasileiros para os cursos ministrados. A escolha de Drummond foi essencial para inaugurar a sessão dos poetas. Como mostrou com pertinência Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima), Drummond “é o maior poeta brasileiro moderno e talvez de todos os tempos”. Há também uma outra razão que motivou minha escolha. Vivemos tempos muito difíceis nesse século XXI, em que os horizontes estão bem embaçados. Em tempos de crise, a poesia entra como um poderoso dossel de reação e esperança. Como mostrou com pertinência a antropóloga Michèle Petit, em seu livro “Somos animais poéticos”, em tempos sombrios há sempre o risco de crises que envolvem o fundamento da vida em sociedade, daí entrar a poesia como recurso importante para reafirmar significados que são essenciais, promover desenhos de esperança e facultar nossa capacidade de sonhar, tão essencial. A poesia é como porta e janela para outros lugares, alternativos e sadios, e que potencializa a nossa teimosia em permanecer atentos e fortes diante das ruínas, fortalecendo a dinâmica de ressurgência. No posfácio de seu livro, As impurezas do branco, Bruna Lombardi traduziu belamente o significado da poesia de Drummond. A seu ver, a poesia do itabirano “penetra sorrateira em lugares inesperados. Desperta novos tons e afia os nossos sentidos. Aponta a luz do humor e de uma ironia particular. É solitária e se abriga dentro de nós, precisando desse acolhimento. Sua poesia confessa sua carência e sua necessidade”.

Como sinalizou José Guilherme Merquior, em obra sobre Drummond, a poesia emerge “quando o universo se torna insólito, enigmático, embaraçoso – quando a vida não é mais evidente”. Nesse sentido, nada mais singular do que abrir espaço para esse poeta tão atento ao mundo cotidiano e tão crítico diante das mazelas do mundo. Como cantou Drummond em poema sublime, “o tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”.

3. Que aspectos da obra ou poemas de Drummond serão abordados em cada aula? Pode nos apresentar um breve itinerário do curso? 

Meu grande interesse nesse curso é sinalizar essa atenção precisa de Drummond ao mundo cotidiano, e também “a grande dor das coisas”. Através da leitura e apresentação de seus poemas, pretendo tocar em sete nervuras essenciais da reflexão do itabirano, que já estão contidas em seu poema que abre a obra Alguma poesia: o seu desajeitamento existencial, o seu espanto diante do mundo, o amor que transfigura o sujeito, a dinâmica do eu e a convocação do outro, a solidão do sujeito face ao Mistério Maior e a atenção face ao momento. Todos esses temas estão no foco de atenção desse homem “atrás do óculos e do bigode”. 

 Estarei igualmente atento à sua sensibilidade com respeito ao mundo animal. Drummond foi outro dos poetas brasileiros que abriu caminhos para a zooliteratura. Lembro aqui um de seus poemas característicos sobre o tema, quando lamenta a incapacidade dos seres humanos de escutar “o canto do ar” e os “segredos do feno”, como fazem de forma admirável os bois[1]. Seguindo uma pista revelada num poema singelo, quando Drummond nos convida a penetrar “surdamente” no universo das palavras, pretendo igualmente acercar-me de algo que preocupou o poeta mineiro nas suas últimas duas décadas de vida: “procurar o ponto misterioso e aparentemente inacessível (...) que desse conta da diversidade rebelde da vida ao nascedouro dela” (Silviano Santiago).

Poderia ainda acrescentar que outra razão que motivou a minha escolha foi a liberdade do poeta, e igualmente sua audácia de lidar com os imprevistos. Seus poemas são portadores de um alcance para além das palavras, com ressonâncias magnéticas. Como diz o poeta, 

 

“as palavras não nascem amarradas, 

elas saltam, se beijam, se dissolvem, 

no céu livre por vezes um desenho,

são puras, largas, autênticas, indevassáveis”[2].

4. Que relações há entre a vida e a obra poética de Drummond? 

A vida de Drummond foi sempre caracterizada pelo recolhimento e pelo trabalho interior do eu. Não foi alguém afeito ao sucesso e à fama. Evitou dobrar-se aos convites da notoriedade e procurou reiteradamente viver de forma simples e humilde a dinâmica de seu cotidiano. Jamais angariou desejos de pertencer à Academia Brasileira de Letras. Sua vida foi tecida pelo desejo de irradiar vida e ser um testemunho profético do tempo. Procurou a todo momento fazer uma leitura lúcida do mundo ao seu redor, equilibrando a concentração interior e a abertura cosmopolita. Como apontou Silviano Santiago, Drummond foi um “extraordinário leitor”, que conseguiu reverberar para nós sua ocular do mundo. Não leu apenas livros e jornais, mas também filmes, obras de arte, fotografias. O seu olhar volta-se de forma muito particular para os pequenos detalhes e para o canto das coisas. Concordo com Antonio Candido quando sublinha que o “alargamento do gosto pelo cotidiano” constitui um principais fulcros de sua obra.  Em poema de Farewell, ele revela que guarda em si um “bicho subterrâneo”, sempre atento a mostrar sua face, quando a dor se instaura:

 “Às vezes o tigre em mim se demonstra cruel

como é próprio da espécie.

Outras, cochila

Ou se enrosca em afago emoliente

mas sempre tigre; disfarçado”[3].

5. Quais são os traços espirituais identificados na obra poética de Drummond?

 Os traços espirituais de Drummond não estão concentrados em um ponto específico, mas estão presentes como fragmentos ao longo de seus poemas. Não há dúvida sobre o interesse de Drummond com respeito ao mistério do mundo. Sua espiritualidade, se assim podemos dizer, está contida na dinâmica de sua atenção ao cotidiano, que o acompanhou até o final:

 “Que ainda sinta cheiro de fruta,

de terra na chuva, que pegue,

que imagine e grave, que lembre,

o tempo de conhecer mais algumas pessoas (...).

 E de olhar esta folha, se cai.

Na queda retê-la. Tão seca, tão morna (...)”[4]

Assim como no Zen Budismo, sua atenção não se volta para o além, para o transcendente exterior, mas para a terrenalidade do tempo, para a imanensidade. Há algo nele que o faz aproximar-se da visão de Hilda Hilst, para quem é esse mundo presente o espaço da celebração da vida. É o único mundo que temos acesso. É o que pensa também Drummond, e que celebra todo o tempo em sua poesia. Não perde, porém, a capacidade de maravilhamento com o mistério que está por toda parte: 

 “Eu também já fui poeta.

Bastava olhar para mulher,

pensava logo nas estrelas

e outros substantivos celestes.

Mas eram tantas, o céu tamanho,

minha poesia perturbou-se”[5]

No dicionário Drummond, organizado por Eucanaã Ferraz e Bruno Cosentino, há um verbete sobre o ateísmo em Drummond, de autoria de Antonio Cícero. Ele fala, sim, em agnosticismo em Drummond, expresso em poemas de livros como Brejo das Almas, José e Claro Enigma. Cito aqui como exemplo, o poema “Um homem e seu carnaval”, de Brejo das Almas (1934). O poeta descreve ali o humano que vem abandonado por Deus entre fitas, cores e barulhos, como raspões em sua poesia. A celebração do cotidiano, como experiência de imanência, aparece em poema do mesmo livro, “Coisa miserável”, onde o poeta sinaliza que não vale a pena gemer ou chorar, nem mesmo “erguer mãos e olhos para um céu tão longe, para um deus tão longe”, ou quem saber para um “céu vazio”. Mais vale é celebrar o presente com sua viva materialidade: o aquém e não o além.

6. Dos poemas dele, qual o senhor mais gosta e por quê? 

Não é tarefa nada fácil destacar de forma particular um poema de Drummond. Ao longo de seus livros encontramos poemas magníficos ou trechos de poemas exemplares. Eu destacaria aqui, de forma específica dois poemas que estão presentes no livro Sentimento do Mundo, de 1940. É o momento onde se adensa para Drummond a temática da poesia social, sem romper, entretanto, com a preocupação com a temática do eu. Escolho os poemas “Sentimento do Mundo” (1935) e “Mãos dadas” (1938). A razão de minha preferência é conjuntural, sobretudo em razão do momento difícil em que vivemos em nossa epocalidade. Drummond consegue, como poucos, com sua intuição criadora trazer para nós uma poesia que não se fecha num momento determinado, mas que lança sua ocular para situações complexas que se repetem, com a dura marca do homem humano. Nada mais fundamental do que dizer: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”. Nesta breve passagem encontramos a marca singular da profecia de Drummond e de sua sensibilidade face ao mundo real. Igual sentimento emerge em outro poema do mesmo livro, quando Drummond celebra o grande e essencial desafio do presente: “O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”. O que encanta em Drummond é o seu compromisso com o tempo, pois é aqui e agora, na materialidade do mundo, no tempo presente, que o poeta e sua mensagem se inserem de forma única e singular.

7. Que relações estabelece entre poesia e teologia? Como a poesia pode ser um caminho para o encontro com o mistério? 

 Em introdução ao livro, A teologia no exílio (Vozes, 2006), o teólogo francês, Christian Duquoc, abordou o instigante tema do desafio da sobrevivência da teologia na cultura contemporânea. Ele lembrou que por muito tempo, a teologia “dedicou-se à defesa intelectual das verdades que a igreja proclamava como reveladas”. Ainda hoje, são muitos os teólogos que reduzem a sua missão a essa tarefa repetidora. Ele sublinha, com razão, que “os tempos mudaram: não é tanto a racionalidade de suas argumentações que nossos contemporâneos exigem dos teólogos e sim a liberdade de suas opções”. O que marca hoje a credibilidade da teologia é o seu potencial de ousadia e autonomia. Trata-se do desafio kantiano para os teólogos: “ousarem pensar por si mesmos”. Nessa perspectiva, inserem-se teólogos importantes que buscam dialogar com outras ciências, como no caso a literatura. Cito os exemplos de Karl-Josef Kuschel, um teólogo alemão, nascido em 1948, que sempre abriu espaços singulares para a literatura em sua reflexão, por exemplo em seus estudos sobre Philip Roth. Outro caso singular, é o do teólogo belga, Adolphe Geshé, que sempre se serviu da literatura em suas abordagens teológicas. A meu ver, a teologia sai sempre enriquecida quando se deixa hospedar pelas reflexões e também pela sensibilidade que irrompe do mundo da literatura. Com base nesses e outros exemplos, é que busquei dedicar-me nos últimos anos ao estudo da literatura. E vejo, com alegria, o mesmo acontecer com teólogas como Maria Clara Bingemer. Percebo com muita clareza, como esse caminho proporcionou uma linda ampliação do olhar. A teologia sai sempre enriquecida quando evita fechar-se em seu domínio particular. A literatura e a arte como um todo proporcionam ao teólogo um clima arejado para a reflexão, criando condições possíveis para uma liberdade que só engrandece.

Não há dúvida sobre o desafio que a literatura representa para a teologia. A leitura atenta da produção literária fornece ao teólogo instrumentos essenciais para sua aproximação do Mistério. Minha experiência pessoal nesse campo é enriquecedora. Posso perceber isso de forma muito clara nas abordagens de Guimarães Rosa e Clarice Lispector, que vêm me inspirando há tempos, e favorecido uma abertura inédita e bonita sobre o nosso tempo e também sobre o mundo espiritual. Carlos Drummond de Andrade é outro dos autores que vão suscitando caminhos de abertura para mim. Cito aqui um de seus poemas onde percebo pistas fundamentais para o entendimento dos caminhos da mística. É o que vislumbro, por exemplo, no maravilhoso poema, “Procura da poesia”, que está no livro de Drummond, A rosa do povo:

 “ (...) Penetra surdamente no mundo das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.

Estão paralisados, mas não há desespero,

há calma e frescura na superfície intata.

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.

Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.

Espera que cada um se realize e consume

com seu poder de palavra

e seu poder de silêncio (...)”

Com base nesse trecho do poema de Drummond podemos perceber, com nitidez, os campos de aproximação entre os que habitam o mundo da literatura e da arte e aqueles que buscam, também através das palavras, acercar-se do Mistério Maior. Percebo a presença de uma mútua e rica alimentação. Do mesmo reino das palavras, a presença de um estupor que suscita novos caminhos e percepções.

8. Qual a importância da poesia no seu desenvolvimento e amadurecimento pessoal e espiritual? 

 Minha ligação com a poesia acompanha o meu processo de vida. Desde muito cedo tenho a poesia a meu lado. É algo que vem do berço. Minha mãe foi alguém que nos educou com a poesia, que adornou nossos sonhos com a poesia. Uma de suas maiores virtudes foi sempre a declamação. O seu amor à poesia se irradiou para nós como tatuagem. O mesmo ocorreu com meu pai, um humanista exemplar, que igualmente sempre apreciou a literatura e a poesia. Em nossa casa, em Juiz de Fora, dois cômodos estavam destinados à biblioteca, e grandes poetas estavam ali à disposição de todos: Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mário Quintana, Adélia Prado. Lembro-me que levamos Adélia Prado duas vezes em Juiz de Fora, e ela falou para os amigos, com sua peculiar emoção, no Instituto Cultural Santo Tomás de Aquino, do qual meu pai foi um dos fundadores. Depois da infância, a poesia continuou bem junto de mim, envolvendo a minha vida amorosa, o meu aprimoramento acadêmico e o meu trabalho docente. Reguei minha amizade e namoro com Teita, minha companheira de décadas, com os poemas de Menino Antigo e Impurezas do Branco, ambos de Drummond. No meu trabalho com a mística comparada, pude descobrir a profunda e enigmática relação entre a mística e a poesia. E foi mais um salto de qualidade na minha trajetória. E agora, depois da aposentadoria, esse mergulho bonito no mundo da poesia ganhou um lugar de destaque no meu trabalho pessoal. Sinceramente, não sei viver sem esse carinho especial das palavras. 

9. Quais suas impressões da carta do papa Francisco sobre o papel da literatura na educação? 

Eu escrevi um artigo sobre esse tema, que será publicado na Revista Vida Pastoral (Paulus) em julho/agosto de 2025. Eu fiquei pessoalmente muito tocado pela iniciativa do papa Francisco em escrever esse carta sobre a importância da literatura, datada de 17 de julho de 2024. Achei de grande pertinência a sua posição crítica, convocando os seminários teológicos a uma maior atenção ao tema da literatura. Como diz de forma precisa Antonio Candido num vídeo disponível no Youtube, a literatura tem um papel fundamental na melhoria do ser humano, e todos aqueles que passaram por esse crivo revelam de forma viva um grande enriquecimento pessoal. Francisco em sua carta lamenta a carência literária nos ambientes de formação sacerdotal, com prejuízo preciso na formação de todos. Lamenta que o lugar destacado para a literatura em tais ambientes é empobrecido. A literatura vem vista muito mais como um “passatempo”, e a ela vem dedicada, em geral, as horas noturnas. Na visão de Francisco, com a qual concordo, a literatura é vista como “algo não essencial”. Essa carência das humanidades no campo da formação teológica é algo mesmo problemático. Os estudantes ficam restringidos ao pequeno circuito teológico, com carência evidente de disciplinas que possibilitem uma ampliação do olhar. Daí a advertência precisa e fundamental de Franscisco em sua carta. A literatura é, sem dúvida, um essencial ingrediente na tessitura do mundo pessoal.

10. O senhor também dará continuidade a mais uma edição do ciclo de filmes em perspectiva. Qual é o fio condutor de análise que perpassa os filmes a serem comentados neste semestre? 

Sim, já saiu a programação para o primeiro semestre de 2025, com início em 19 de março. Os filmes programados para apresentação são os seguintes: Estamos todos bem (Giuseppe Tornatore – 19/03); O quarto ao lado (Almodovar – 02/04); A substância (Coralie Fargeat – 16/4); Má educação (Almodovar – 30/04); Era uma vez em Tokio (Ozu – 07/05); Também fomos felizes (Ozu – 21/05); Dança comigo? (Masayuki Suo – 04/06); Julia (Fred Zinnermann – 18/06); Camille Claudel (Bruno Nuytten – 02/07). 

O meu interesse reflexivo depois de minha aposentadoria na UFJF, em 2017, voltou-se para a literatura e o cinema. O projeto “Filmes em Perspectiva”, começou no Paz e Bem, com Mauro Lopes, e depois firmou terreno no IHU-Unisinos. São encontros quinzenais para apresentações de filmes que considero importantes para a sensibilização do momento. Há uma preocupação de mesclar filmes mais clássicos com lançamentos contemporâneos, sem haver intenção de uma apresentação mais técnica, mas a oferta de um olhar específico, com o toque do coração. Sobre o tema, lancei um livro em 2024: Filmes em Perspectiva (Appris, 2024). No livro apresento 20 filmes escolhidos dentre os quase oitenta já apresentados no IHU.

 11. Deseja acrescentar algo?

 Gostaria de expressar a minha alegria de poder estar no IHU, contribuindo com minhas reflexões sobre literatura e cinema. Chamo a atenção dos leitores para o curso que se iniciou em 12 de março sobre a poesia de Carlos Drummond de Andrade. São ao todo 9 encontros gratuitos, sempre nas quartas feiras, às 14:00, revezando com os Filmes em Perspectiva. Os cursos são oferecidos on-line no portal do IHU. Para os próximos semestres estou pensando nos seguintes autores: Manuel Bandeira, Maria Quintana, Adelia Prado, Manuel de Barros, Adriana Lisboa e Mariana Ianelli. 



[1] Poema “Um boi vê os homens” – Claro enigma.

[2] “Considerações do poema” – A rosa do povo.

[3] Poema “Fera” – Farewell.

[4] Poema “Os últimos dias” – A rosa do povo.

[5] Poema “Também já fui brasileiro” – Alguma poesia.

sábado, 1 de março de 2025

Bob Dylan, uma voz profética

 Bob Dylan: uma voz profética

 

Pude este ano acompanhar com empenho e atenção os filmes que são candidatos ao Oscar 2025. Ontem, 28 de fevereiro, pude assistir, com muita emoção o filme dirigido por James Mangold: A Complet Unknown (Um completo desconhecido). Trata-se de uma produção norte americana, de 2024, já prenunciada em janeiro de 2020, num tempo difícil, prenunciando a pandemia da COVID 19. O título do filme veio tomado de um trecho de clássica música de Bob Dylan: Like a Rolling Stone:

 

“How does it feel

How does it feel

To be without a home

Like a complete unknown

Like a rolling stone?”

 

O filme aborda o início da carreira de Bob Dylan, desde o momento inicial, marcado pela dinâmica folk, até a histórica decisão de recorrer a instrumentos elétricos para adornar suas canções. Há na base do filme, o influxo do livro de Elijad Wald: Dylan Goes Electric (2015). O filme teve sua estreia em Los Angeles em dezembro de 2024, sendo em seguida lançado nos Estados Unidos.

 

A produção de Mangold recebeu oito indicações para o Oscar de 2025: Melhor filme, melhor diretor (James Mangold), melhor ator (Thimothée Chalamet), melhor ator coadjuvante (Edward Norton) e melhor atriz coadjuvante (Monica Barbaro), melhor roteiro adaptado (James Mangold e Jay Cocks), som (Tod A. Maitland, Donald Sylvester, Ted Caplan, Paul Massey e David Giammarco) e figurino (Arianne Phillips). 

 

O enredo é cativante, envolvido por canções maravilhosas, que fizeram e fazem história. Traz também como elemento elucidativo, algumas presenças que marcaram a trajetória de Bob Dylan no início da carreira. Sublinho aqui as figuras de Woody Guthrie (1912-1967) e Peter Seeger (1919-2014). O primeiro foi das mais importantes e influentes figuras da música folk americana, com forte densidade política. O segundo foi também um músico americano, cuja carreira teve início na década de 1940, com auge em sua participação na banda The Weavers. Teve também, como Guthrie, um papel importante na canção de protesto, sobretudo contra a guerra e em favor dos direitos civis.

 

No início do filme,  Bob Dylan, ainda com vida precária, viaja de carona para Nova York, visando conhecer o seu grande ídolo, Woody Guthrie. O cantor está internado, padecendo de uma doença hereditária incurável, que leva a uma perda progressiva da coordenação motora, locomoção, movimento e fala: doença de Huntington. Ele morreu cedo, com 55 anos.  Quando chega ao hospital depara-se também com a presença de Peter Seeger, que fazia uma visita ao amigo. Durante o encontro dos três, Bob Dylan toca uma canção dedicada ao ídolo, que encanta os dois que estavam ali, diante dele. Na linda Canção para Woody, Dylan assinala: “Salvem as mãos e os corações de quem surgiu com a poeira e se foi com o vento”. Daí começa uma carreira, no mundo do folk, sob o incentivo de Peter Seeger.

 

Merece igualmente destaque no filme, a maravilhosa trilha sonora, que já saiu em CD: A complete Unknown (Original Motion Picture Soundtrack), com 20 músicas, a maioria de Bob Dylan, mas também de Juan Baez e Johny Cash. 

 

Nos trajetos da música folk, Dylan acaba conhecendo Sylvie, que será um grande amor em sua vida; bem como Juan Baez, com a qual também viveu um envolvimento afetivo. A relação intensa de Dylan com Sylvie vai acompanhar todo o filme, mas sempre pontuada por dúvidas e angústias, sobretudo quando a fama começa a se instaurar na carreira de Dylan. Sylvie sofreu, sobretudo, com a atitude distante de Dylan , seu tom misterioso e inalcançável. Ela não conseguia entender e aceitar a recusa recorrente de Dylan em desvendar o seu passado para ela. Apesar de tudo, Sylvie foi uma grande incentivadora para o voo autônomo de Dylan, rompendo com o caminho das gravações covers. Na medida em que Dylan se aproxima de Juan Baez, a relação vai tomando um rumo diferente, até o rompimento ocorrido em 1965.

 

Em cena singela do filme, Sylvie acompanha Dylan em viagem para o Newport Folk Festival, em 1965, quando Dylan seria a grande atração. Ao assistir a apresentação de Dylan com Baez, ela pressente não haver futuro seguro com o grande amor de sua vida. É o momento no filme em que o Dylan-Baez interpretam de forma linda a canção It Ain´t Me, Babe, quando ele revela não ser aquele que ela procura, o que vai abrir “todas as portas. O amor para Dylan, está sempre envolvido por uma neblina, como bem expressa em outra canção - Don´t Think Twice, It´s All Right:

 

“(...) Não adianta nada acender a luz, amor

Aquela luz que eu nunca vi

E não adianta nada acender a luz, amor

Eu estou no lado escuro da rua (...)” – 

 

Dos traços positivos do filme, destaco aqui as impressionantes atuações de Timothée Chalamet (no papel de Bob Dylan) e Monica Barbaro (no papel de Juan Baez). Gostei também muito da atuação de Edward Norton, no papel de Pete Seeger. O diretor conseguiu traduzir de forma muito feliz a personalidade volátil de Bob Dylan, sua angústia permanente, sua ojeriza à fama, sua solidão e os percalços nos relacionamentos. No fundo, alguém marcado por uma busca insaciável, de um viajante que jamais se contenta com o adquirido. Quer sempre mais. Nós o encontramos durante todo o filme, em noites insones, buscando a perfeição para as suas composições, sempre com o traço de sua insatisfação social e o seu protesto permanente. Destaco alguns trechos de músicas apresentadas no filme:

 

Em Blowin´ in the Wind:

 

“… Quantas vezes voarão as balas de canhão

Antes de serem proibidas para sempre?

A resposta, meu amigo, sopra no vento (...).

Quantos anos pode um povo existir

Antes do direito de ser livre (...).

Quantas mortes há de haver antes de ele saber

Que gente demais já morreu...”

 

Master of War

 

Venham, seus mestres da guerra

Vocês que fabricam as armas todas

Vocês que fabricam os aviões da morte

Vocês que fabricam as grandes bombas

Vocês que se escondem por trás de muros

Vocês que se escondem por trás de mesas

Só quero que vocês saibam

Que eu enxergo por trás dessas máscaras (...).

Vocês brincam com o meu mundo

Como seu fosse seu brinquedinho (...)”.

 

The Times They Are A-Changin` 

 

“ (…) Se vocês acham que vale a pena salvar o seu tempo

Então é melhor começar a nadar pra não afundar como pedra

Porque os tempos, eles estão mudando (...).

 

When The Ship Comes in

 

“Ah, vai chegar o tempo

Em que os ventos vão parar

E a brisa vai deixar de respirar (...)

Ah, os mares vão se abrir

E o navio vai tocar

E as areias da praia vão estremecer

E a maré vai soar

E o vento, surrar

E a manhã começa a irromper (...)”

 

Ao final do filme, saímos com a grata sensação de ter experimentado uma das mais grandiosas forças musicais do século XX, cuja arte e inspiração, continuam a mover os nossos sonhos. Mesmo sem saber bem, com a sensação de que estamos “sem casa”, num mundo a ruir, percebemos que, como desconhecidos, podemos testemunhar o rolar das pedras. E a cada momento podemos convocar o “Senhor Pandeiro” para tocar uma canção inusitada e esperançosa, levando-nos numa viagem no navio mágico que gira. Temos que estar prontos, como diz Dylan, para “ir a qualquer lugar”.

 

Não há dúvida alguma sobre o merecimento de Bob Dylan em ganhar o Oscar de Literatura, em 1993. Ele não foi receber o prêmio, confirmando um traço típico de seu temperamento reticente e avesso às burocracias. No seu lugar, a presença luminosa de Patti Smith, numa interpretação magnífica da canção: A Hard Rain´s A-Gonna Fall. Com sua límpida e generosa voz, Patti pode evocar naquele momento solene o recado de Dylan, de que uma chuva pesada vai cair; uma chuva que vem acompanhada de uma onda que pode afogar o mundo todo.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Antonio Candido, anotações finais

 Antonio Candido, anotações finais 

 

Consegui, finalmente, assistir ao documentário de Eduardo Escorel abordando os dois últimos cadernos de anotação de Antonio Candido (1918-2017). Fui tomado de emoção do começo ao fim do filme, uma peça extraordinária, que consegue trazer para nós, leitores, uma imagem precisa e terna desse professor de grandeza única. Antonio Candido deixou 74 cadernos inéditos, que se encontram sob a guarda de suas três filhas. Escorel escolheu abordar os cadernos finais, que cobrem o período de 2015 a 2017. Antonio Candido morreu em maio de 2017, com 98 anos de uma vida fascinante.

 

O diretor conseguiu a autorização das filhas de Antonio Candido para ler os cadernos inéditos. E escolheu os dois últimos para a realização de seu filme, de 84 minutos: Antonio Candido, anotações finais. A forma escolhida para abordar o tema foi singular. Decidiu não utilizar entrevistas com outras pessoas, ou uma narração falando dele. A opção foi deixar os próprios cadernos falarem, na voz maravilhosa do ator Matheus Nachtergaele. Como sublinhou Eduardo Escorel, com essa presença de Matheus na narração, tudo transcorreu de forma extraordinária, como um “passeio no parque”.  Para Matheus foi um desafio aceitar a empreitada. Ele sublinha: “Foi um desafio bonito botar a voz em um projeto tão pessoal do Eduardo Escorel (...). Era preciso uma melancolia, mas não uma tristeza. Era preciso uma paixão educada, como é o retratado”. Matheus fala emocionado de Antonio Candido: alguém que, segundo ele, “acredita no Brasil, ainda”. Segundo Escorel, o seu filme busca retratar o ser humano extraordinário que foi Antonio Candido, como poucos no Brasil.

 

Num tempo de pouco mais de hora e meia, o documentário aborda vários temas, como a iminência da morte, a presença viva de Gilda Mello e Souza – a mulher de Antonio Candido, que tinha falecido em 2005 -, o seu processo de envelhecimento, a sua história de militância, suas reflexões sobre o Brasil e a presença do racismo. A meu ver, um dos momentos mais emocionantes do documentário é quando ele fala com carinho de sua companheira de uma vida, Gilda Mello e Souza, que foi filósofa e crítica literária. Ele ficou profundamente abalado com a morte de sua esposa, nunca se refazendo totalmente de sua perda.

 

O que se destaca no documentário é a profunda lucidez de Antonio Candido, que guardou serenidade e tenacidade até o final de sua vida. Em sua história combina-se admiravelmente a melancolia com a lucidez. Sua reflexões sobre a literatura são inspiradoras. No meu caso, suas obras são de fundamental importância para o meu trabalho de abordagem da literatura, sobretudo com os autores: Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Clarice Lispector. 

 

Num texto de Antonio Candido- “Pranto dos livros” -, que inspirou Eduardo Escorel na elaboração do documentário, o professor se imagina morto, fechado num caixão, sendo objeto de lamento de seus livros. Ele sublinha que com sua morte o mundo não deixa de existir, e continua seu movimento: “As pessoas continuam a trabalhar e a passear, os amigos misturam alguma tristeza com as preocupações da hora e lembram de mim apenas por intervalos”. Falando sobre si mesmo, Candido destaca “certa amenidade de convívio”, sendo capaz de acolher com carinho pobres e ricos. Mas gostava mesmo era de ficar só e fugia sempre da publicidade. 

 

Merece destaque especial o seu empenho em favor da justiça social e da igualdade. Ao final do filme, ele revela que sua opção primeira é em favor da igualdade, que a seu ver merece um lugar privilegiado, também com respeito à liberdade. Com verve crítica, denuncia a grave situação do racismo no Brasil, reconhecendo que o negro permanece sendo “o grande excluído até hoje”. Esteve na origem tanto do partido socialista como do partido dos trabalhadores. Reconhece o grande valor de Lula, que a seu ver teve o mérito fundamental de atenuar a situação de iniquidade econômica e social do Brasil. 

Faustino Assunção Teixeira

 Sobre Faustino Assunção Teixeira

 

Em 1985 foi comemorado em Bom Despacho o centenário de nosso avô paterno, Faustino Assunção Teixeira

 

Em documento da Prefeitura Municipal de Bom Despacho, em 1985, se diz:

 

“Estamos prestando uma homenagem ao homem que encarnou com maior densidade a figura do político bom-despachense: leal, combativo, corajoso, generoso, humanitário, desprendido, realizador e sonhador (...). Faustino Assunção Teixeira é mais do que um exemplo. É um modelo de cidadão bom-despachense. Que viva sua memória e os nossos ideais” (Célio Luquine e Equipe)

 

Ele nasceu em Bom Despacho, em 12 de fevereiro de 1885 e faleceu em Juiz de Fora, no dia 07 de janeiro de 1943.

 

Dados de sua atuação pública:

 

. Ingressou cedo na política

. Foi secretário da Primeira Câmara Municipal, empossada em junho de 1912

. Foi prefeito da cidade de Bom Despacho a partir de 1922

 

Segundo Maria Zuleika Teixeira Bezerra, em artigo de 1985, Faustino, como prefeito, deu “uma grande lição de desprendimento dos próprios interesses, cuidando com inexcedível zelo” das causas em que se manteve ligado. Em sua visão, Faustino foi um “político brilhante, honesto e empreendedor”, mas acima de tudo, “um homem bom”.

 

. Entre os traços de seu legado: o alargamento das ruas da cidade, o estabelecimento de uma nova captação de água; organizou e aprovou os estatutos da Companhia Força e Luz; um carinho especial com a instrução primária da população, com a instalação de diversas escolas rurais; a ampliação dos limites territoriais da cidade, com a aquisição de uma larga faixa de terras; melhoria no sistema de comunicação rodoviária, com as benfeitorias realizadas nas estradas  que ligavam a sede do município à Moema e à Usina de Força e Luz;  organizou o Clube Bom Despacho; instalação da Vila Operária, bem como as oficinas e escritório central da Estrada de Ferro Paracatu; criação de duas colônias agrícolas.

 

. Ele foi o segundo presidente do Conselho Particular da Sociedade São Vicente de Paulo. Era um católico convicto.

 

. Ajudou no reerguimento da Santa Casa de Misericórdia, que estava fadada à ruina.

 

. Segundo o relato de Maria Zuleika, quando Faustino entrou na política, “tinha casa, farmácia, pastagens, gado, algum dinheiro e independência comercial”

 

Em carta de Alexandra Pereira Franco, de 15 anos, ela revelou que no nicho de Faustino “radiava a honra de ser honesto e jamais guardar ódios ou mágoas”. Lembrou ainda que ele mantinha sempre aberta a sua farmácia aos que não tinham recursos, e tomava sempre a defesa dos pobres.

 

. Faustino recebeu como homenagem da cidade um relógio Patek Philippe: em 06 de abril de 1924. Uma joia única. Tinha sido antes presenteado com um automóvel, que vendeu para pagar dívidas.

 

. O relógio ficou um tempo em posse de Faustino A. Teixeira. Em 04 de abril de 1944, sua esposa, Maria de Carvalho Teixeira, dedicou ao filho Rossini, “pelo muito que tem feito pelos seus”, o cuidado com o relógio. Essa guarda passou em seguida para o irmão Mozart Teixeira. Depois de estar aos cuidados de José Geraldo Teixeira, passou agora a ficar sob a guarda de Faustino L.C. Teixeira, que é, no momento, o Faustino mais novo da família. 

O brutalista

 O brutalista

 

Assisti ontem, 20/02/2025, ao filme O Brutalista, dirigido pelo americano Brady Corbet. Tive que me armar da disposição de assistir a um filme de 3 horas e meia, com intervalo de 15 minutos entre as duas partes. Trata-se de um filme precioso, e não deu para ser castigado pelo tempo. Gostei muito da direção, do roteiro, da fotografia e da magnífica atuação Adrien Brody, interpretando um arquiteto húngaro judeu, saído dos horreres de um campo de concentração nazista. O filme concorre a dez categorias no Oscar de 2025:  Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Montagem e Melhor Trilha Sonora.

 

Como mostrou Inácio Araujo em sua resenha na FSP, trata-se de “um filme do pós-guerra”, que carrega consigo as dores indizíveis do grave conflito que dizimou tantas vidas e marcou para sempre outras, dos que sobreviveram com seus traumas particulares. É o caso de László Tóth, que vive no filme o drama de uma separação dolorosa: ele e a mulher viveram experiências doídas em campos de concentração distintos. Ele conseguiu chegar aos Estados Unidos, mas ela ficou retida na Hungria, e só na segunda parte do filme é que os dois finalmente se encontram. Junto com ela, a sobrinha órfã, Zsófia.

 

O filme busca também expor duramente “a fragmentação do ´sonho americano`” e o lado sombrio do capitalismo. Como disse um cronista: “O filme olha essa noção idealizada de que você pode chegar nos EUA e fazer qualquer coisa da sua vida, mas isso não é realmente o caso. Para cada pessoa que consegue ter sucesso, existem muitas outras que não têm sucesso”. O filme aborda um “lado podre” dos Estados Unidos, exemplificado por preconceitos com os diferentes, e um sentimento de empáfia que nos causa asco.

 

Outra cena impressionante ocorre na Itália, quando László e seu poderoso patrão viajam para Carrara, visando conseguir o mármore em estado puro para compor o altar previsto no suntuoso projeto arquitetônico, cujo objetivo na visão de László permanece desconhecido pelo capitalista contratante. Como disse Guy Pearce, “o aspecto mais memorável foi a incrível beleza de poder ver esse mármore natural. Era tudo muito místico e belo, mas ao mesmo tempo era devastador ver o que nós, seres humanos, fazemos com o mundo natural só para ter uma bela bancada de cozinha”.

 

O filme nos mostra com grande maestria que as guerras não acabam simplesmente, mas deixam marcas permanentes e dores que não se apagam. É interessante observar no filme a presença silenciosa da sobrinha, Zsófia, que acompanha a mulher de László na jornada que a leva ao encontro do marido. Um silêncio de uma jovem que não consegue adaptar-se de forma alguma ao país, e que sofre com o assédio. Há algo também precioso no filme, expresso na proximidade/distância que vige na relação do casal, marcado pelas dores da guerra. Ela, a mulher, chega aos EUA de cadeira de rodas, em razão da osteoporose adquirida em razão da fome passada no campo de concentração. Ao lado de um amor profundo, a presença de um distanciamento e estranhamento que igualmente delineia a relação, numa tensão surda e complexa.

 

Tem razão o crítico Inácio Araujo, quando sublinha ser o filme uma “obra prima”, que vem traduzir um novo e inaugural momento no “imenso vácuo de quase todo o cinema americano”.

A presença da ambiguidade no perfil do brasileiro

 A presença da ambiguidade no perfil do brasileiro

 

Revendo com calma o programa de Wisnik de Nestroviski sobre Caymmy, fiquei curioso ao acompanhar a análise que faz Wisnik da canção de Caimmy, João Valentão, que nos favorece reconhecer o traço de ambiguidade que marca o caráter do brasileiro.O que igualmente nos remete à analise de Sérgio Buarque de Hollanda sobre o tal traço de cordialidade do brasileiro. Há certa imagem idílica ao identificar o brasileiro como sendo hospitaleiro, generoso e emocionalmente expansivo. Esse é um lado da medalha. Mas há também outro traço que habita o mesmo brasileiro, e que Rosa destacou com ênfase no conto “A hora e a vez de Augusto Matraga” (Sagarana). É o que Graciliano Ranmos chamou de “homem subterrâneo”. Um traço que vem revelado por poema singular de Drummond:

 

Às vezes o tigre em mim se demonstra cruel

como é próprio da espécie.

Outras, cochila

ou se enrosca em afago emoliente

mas sempre tigre, disfarçado.

 

Antonio Candido expressa essa ambiguidade do humano em sua análise de Grande Sertão: Veredas, no livro: Tese e Antítese. A ideia de uma simultânea presença no humano do “vapor do mal” e do “vozinha do bem”. Quando Rosa sublinha que o demo está presente no íntimo do humano, está ilustrando o fato da presença de um lado “crespo” ou “torvo” no humano: a ideia de um lado “avesso” que é igualmente real.

 

Mas vamos à canção de Caimmy:

 

João Valentão é brigão
Pra dar bofetão
Não presta atenção e nem pensa na vida
A todos João intimida
Faz coisas que até Deus duvida
Mas tem seu momento na vida
É quando o sol vai quebrando
Lá pro fim do mundo pra noite chegar
É quando se ouve mais forte
O ronco das ondas na beira do mar
É quando o cansaço da lida da vida
Obriga João se sentar
É quando a morena se encolhe.

Se chega pro lado querendo agradar
Se a noite é de lua
A vontade é contar mentira
É se espreguiçar
Deitar na areia da praia
Que acaba onde a vista não pode alcançar
E assim adormece esse homem
Que nunca precisa dormir pra sonhar
Porque não há sonho mais lindo do que sua terra.

 

Segundo Wisnik, essa canção de Caimmy não é dramática, mas sinaliza a presença de uma ambiguidade. No início, ele aventa a figura de um ser valentão, que é brigão e dá bofetão. Alguém que a todos intimida. No decorrer da canção, há um decantamento dessa perspectiva: quando João deixa-se levar pelo ócio, ao ouvir o ronco das ondas na beira do mar, e se abandona no colo da morena, envolvido por um sonho lindo.

 

Wisnik chama a atenção para a contradição presente na canção: o valentão brasileiro – diz ele -, portador de uma violência singular,  portador de truculência, de um mandonismo típico das estruturas arcaicas, apresenta igualmente um outro lado, adornado por encanto, festa, alegria e disposição afetiva e acolhedora. Ou seja, o brasileiro, como observamos também em nossas famílias, tem seu lado de onça bravia, conjugada com uma dimensão utópica serena e alegre.

 

Isto também me faz lembrar outro conto de Rosa, Meu tio Iauaretê. A onça Maria Maria, tem seu momento de raiva, quando ela “esbarra de pensar”: “Quando algua coisa ruim acontece, então de repente ela ringe, urra, fica com raiva”. Mas no normal, ela está sempre alegre, e para ela está “tudo bonito, bom, bonito, bom, sem esbarrar”. Ela pode sair do sério, mas é coisa passageira, pois depois, quando tudo torna a ficar quieto, “ela torna a pensar igual, feito em antes...”.

 CELEBRAÇÃO EM AÇÃO DE GRAÇAS

 

70 ANOS

 DE

TEITA

 

Tiguera, 03 de fevereiro de 2025

 

“Quem sabe isso quer dizer amor”

 

Chegada: Momento de silêncio – solo de flauta (Estêvão Teixeira)

 

Acolhida:

 

Estamos hoje aqui reunidos no Tiguera, em família, para celebrarmos os 70 anos de Teita. Essa morena querida tem sido minha companheira ao longo de quase cinquenta anos. Quando nos conhecemos, eu estudava filosofia e ela estava no final do curso de medicina. Foi um encontro bonito, que vem se prorrogando com muita fragrância ao longo desses anos.

 

Passei dois dias de janeiro lendo as cartas que escrevi para a Teita durante o pré-namoro e namoro, bem como as respostas de Teita. Foram momentos de muito alegria. Poder, por exemplo, saber que ela me chamava carinhosamente de “filhote”. Foi também motivo de grande satisfação constatatar a presença forte em nossa vida dos poemas de Drummond. Em 1973, o poeta tinha lançado dois livros: Menino Antigo e As Impurezas do Branco. Esses livros pontuaram muitas de nossas correspondências.

 

Uma passagem do poema de Drummond, “Mulher vestida de homem”, do livro, Menino Antigo, era mote essencial de nossa relação:

 

“Sou seu amigo, sem desejo,

amigo-amigo puro,

desses de compreender sem perguntar”

 

Do mesmo Drummond, desta vez, do livro “As impurezas do branco, partilhávamos a convicção de que éramos sobreviventes que incomodavam. Daqueles que não adiantava sofrer ameaças. Dizia Drummond: “Volto sempre, todas as manhãs me volto, viravolto com exatidão de carteiro que distribui más notícias. Podíamos tropeçar, sem dúvida, mas podíamos garantir o nosso sorriso.

 

O que dizer sobre Teita? Está aí, algo difícil de expressar... Mas vou tentar. Queria começar fazendo referência a uma carta que a jovem filósofa mineira, Sonia Viegas, escreveu para as suas filhas gêmeas, Angela e Mônica, por ocasião de seus quinze anos. O presente que ela resolveu dar para suas filhas não foi algo material, mas valores que considerava fundamentais. 

 

Ela indicou alguns valores: 

 

(a) viver de maneira verdadeira; (b) uma existência cheia de amor (e sublinhava: uma existência cheia de amor possui um mundo, enquanto uma existência sem amor ocupa um lugar); (c) uma vida de alegria (e ela cita uma passagem de G.Rosa, colocada na boca do personagem Miguilim: “Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma”; (d) manter sempre viva a esperança (é preciso alimentar esperanças); (e) acalentar e apreciar a beleza que nos rodeia. A beleza que é a capacidade de o corpo expressar a alma).

 

Vejo como um traço essencial da vida de Teita, que me encanta e envaidece, é a sua capacidade de alegria. Mas sublinho ainda outros aspectos cruciais de sua vida: o dom da hospitalidade, da abertura aos outros e da generosidade em movimento. O que ela vem buscando me ensinar ao longo do tempo, num aprendizado difícil para mim, é o toque da gentileza e da cortesia. Assinala repetidamente que ser gentil é a forma mais nobre de existir. Teita tem o dom de tecer laços afetivos. Gosta de encontros, de muita festa e de gente por perto. Isso se manifesta em todos os seus movimentos, inclusive no trabalho. 

 

Ela sempre seguiu na risca um mote trabalhado e vivenciado por vovó Guiguita: “Que importa-me lá, ninguém me governa”. Leva a sério esse elemento fundamental, e que nos foi também aconselhado por um grande amigo, o pe Dalton, na época de nosso casamento. Dizia que o essencial para uma relação duradoura e amorosa é saber sobre aquilo que não se pode renunciar. 

 

Algo semelhante foi dito por Clarice Lispector em carta para a sua irmã Tânia, quando vivia momentos duros em Berna, na Suiça, em janeiro de 1948. Sinalizou para a irmã a importância da realização pessoal. Disse a ela que até cortar os defeitos pode ser algo perigoso, pois nunca se sabe qual é o defeito que sustenta o nosso edifício inteiro. Queria dizer com isso da importância do respeito ao nó vital de uma pessoa.

 

A mesma Clarice nos ensina sobre a importância de não resistir demais contra o ritmo das ondas, mas, mas sim aprender a subir e descer com a onda, mantendo vivas certas qualidades, como a paciência e a espera. 

 

Tudo fica mais leve quando aprendemos a navegar com serenidade e paz, apesar de tantas tensões e conflitos que habitam o nosso mundo. Com isso também tenho aprendido com Teita. Um jeito Zen de ser: simplesmente a alegria de estar aqui...

 

“As vezes basta resolver estar simples, e o milagre se realiza: tudo fica mais sereno... sutil... iluminado”. Há que deixar que o ardor e a vibração da primavera pulsem em nós: quando a vida se vê multiplicada e conseguimos perceber a beleza de cada instante.

 

Um poeta português que muito admiro, Eugénio de Andrade, dizia: 

 

É urgente o amor

É urgente destruir certas palavras,

Ódio, solidão, crueldade (...)

É urgente inventar a alegria

Multiplicar os beijos, as searas

É urgente descobrir rosas e rios

E manhãs claras.

 

O meu singular mestre zen, Dôgen (século XIII), dizia de forma contundente, em texto de beleza única que “durante a nossa inteira existência, com a nossa força de vontade, torna-se necessário pronunciar palavras de amor. De geração a geração”.

 

Para finalizar, uma dica maravilhosa da poeta portuguesa, Adilia Lopes, que nos deixou em dezembro de 2024:

 

o amanhã
é
como o arco-íris

 

Um anjo
está contigo
quando desanimas

 

Um anjo
está contigo
quando te alegras

 

Sempre
um anjo
está contigo.

 

O texto estava pronto, mas resolvi acrescentar algo que é para todos nós. Lendo o livro de Mirian Goldenberg, sobre a bela velhice, encontrei uma pérola, que vem de Simone Beauvoir: A velhice sadia tem a ver com o projeto de vida. E neste projeto, um grande dom é a capacidade de sorrir... sorrir sempre, na alegria, mas também na tristeza. “Sorrir é coisa de gente feliz”. 

Diz Mirian que para envelhecer bem é necessário olhar a vida com bom humor e aprender a transformar tragédias em comédias.  Mirian perguntou a uma das entrevistadas de sua pesquisa, uma professora de 60 anos. Quando indagado sobre o segredo para envelhecer bem, ela respondeu, sem titubear: “Para envelhecer bem, eu sou feliz, dou muitas risadas”.

 

Obrigado, Teita, por existir e estar aqui entre nós carregando esse suave perfume.

 

DOM: Entrega de rosas vermelhas pelos netos Caetano, Iara e José (são sete rosas, simbolizando os netos e netas)

 

(ao fundo a canção Ofertório, de Caetano Veloso)

 

“Tudo que por ti vi florescer de mim
Senhor da vida
Toda essa alegria que espalhei e que senti
Trago hoje aqui
Todos estes frutos que aqui juntos vês
Senhor da vida
Eu em cada um deles e em mim
Todos teus fiéis, ponho a teus pés

Consentistes que minha pessoa
Fosse da esperança um teu sinal
Uma prova de que a vida é boa
E de que a beleza vence o mal
Tudo que se foi de mim, mas não perdi
Senhor da vida
Os que já chorei e os que ainda estão por vir, oferto a ti”

 

Recordação de Teita pelos amigos: palavra aberta (3 minutos para cada um). Falaram Teita, Pedro R. Oliveira, Ana Maria.

 

Leitura Bíblica: Cântico dos Cânticos

 

(a)

 

“Vem, minha amada

Vamos ao campo

Pernoitemos sob os cedros;

Madruguemos pelas vinhas,

Vejamos se a vinha floresce,

Se os botões estão se abrindo

Se as romeiras vão florindo:

Lá te darei meu amor”

 

(b)

 

“Meu amado põe a mão

Pela fenda da porta:

As entranhas me estremecem,

Minha alma, ouvindo-o se esvai.

Ponho-me de pé

Para abrir ao meu amado:

Minhas mãos gotejam mirra,

Meus dedos são mirra escorrendo

Na maçaneta da fechadura.”

 

Oração da Ecumene Abraâmica:

 

Em nome do Deus Omni-Misericordioso, o Misericordioso.

Louvado seja Deus, o Senhor dos mundos (...)

A Ti somente adoramos.

Somente a Ti imploramos socorro.

Gia-nos na senda da retidão.

(Corão 1-1-7)

 

Ouve, ó Israel: Iahweh é nosso Deus.

Portanto, amarás a Iahweh com todo o teu coração,

Com toda a tua alma e com toda a tua força.

(Dt 6,4-5)

 

Pai nosso que estás nos céus. 

Santificado seja o teu nome, 

venha o Teu reino. 

Seja feita a tua vontade, 

assim na terra como no céu. 

O pão nosso de cada dia nos dá hoje, 

perdoa-nos as nossas ofensas 

assim como nós perdoamos a quem tem nos ofendido. 

E não nos deixes cair em tentação, 

mas livra-nos do mal, 

pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. 

Amém.

 

Partilha do vinho e pão (Dudu para Teita e vice-versa)

(Ao fundo: a música – Cantar)

 

“Se numa noite eu viesse ao clarão do luar
Cantando e aos compassos de uma canção
Te acordar
Talvez com saudade cantasses também
Relembrando aventuras passadas
Ou um passado feliz com alguém

Cantar quase sempre nos faz recordar
Sem querer
Um beijo, um sorriso, ou uma outra ventura qualquer
Cantando aos acordes do meu violão
É que mando depressa ir-se embora
Saudade que mora no meu coração

Cantar quase sempre nos faz recordar
Sem querer
Um beijo, um sorriso, ou uma outra ventura qualquer
Cantando aos acordes do meu violão
É que mando depressa ir-se embora
Saudade que mora no meu coração”

 

Meditação – João da Cruz e Cântico dos Cânticos:

 

“Na interior adega

Do Amado meu, bebi” (João da Cruz)

 

Comei e bebei, companheiros.

Embriagai-vos, meus caros amigos

 

A voz do meu amado!

Vejam, vem correndo pelos montes,

Saltitando nas colinas...

Deixa-me ver tua face

Deixa-me ouvir tua voz...

Roubaste meu coração,

Com um só dos teus olhares

Que belos são teus amores.

 

Toque de Berimbau (João Couto Teixeira)

 

Canção Final: Amor sem limites (Roberto Carlos)

 

“Quando a gente ama alguém de verdade
Esse amor não se esquece
O tempo passa, tudo passa, mas no peito
O amor permanece
E qualquer minuto longe é demais
A saudade atormenta
Mas qualquer minuto perto é bom demais
O amor só aumenta

Vivo por ela
Ninguém duvida
Porque ela é tudo
Na minha vida

Eu nunca imaginei que houvesse no mundo
Um amor desse jeito
Do tipo que quando se tem não se sabe
Se cabe no peito
Mas eu posso dizer que sei o que é ter
Um amor de verdade
E um amor assim eu sei que é pra sempre
É pra eternidade

Vivo por ela
Ninguém duvida
Porque ela é tudo
Na minha vida

Quem ama não esquece quem ama
O amor é assim
Eu tenho esquecido de mim
Mas dela eu nunca me esqueço
Por ela esse amor infinito
O amor mais bonito
É assim nosso amor sem limite
O maior e mais forte que existe

Vivo por ela
Ninguém duvida
Porque ela é tudo
Na minha vida

Quem ama não esquece quem ama
O amor é assim
Eu tenho esquecido de mim
Mas dela eu nunca me esqueço
Por ela esse amor infinito
O amor mais bonito
É assim nosso amor sem limite
O maior e mais forte que existe

Vivo por ela
Ninguém duvida
Porque ela é tudo
Na minha vida”

 

Bênção Final. (José Geraldo Teixeira):

 

Que o Senhor te abençoe e te guarde;
que a face do Senhor brilhe por tua causa,
que ele tenha misericórdia de ti;
que mostre para ti a sua face.

E te conceda a paz (Nm 6,24-26)