Sob o mistério do islã: o
caminho dialogal de Georges Anawati
Faustino Teixeira
PPCIR-UFJF
“Quanto mais se avança
na mística,
tanto mais se encontra
os outros
das outras religiões”
(G.Anawati)
Introdução
No
âmbito do diálogo que envolve o cristianismo e o islamismo, há uma série de
buscadores que ainda são desconhecidos ou pouco trabalhados no Brasil. Dentre
eles há que destacar o cristão egípcio Georges Anawati (1905-1994), que dedicou
toda sua vida ao encontro com o islã e o seu mistério. Na trilha aberta por
Louis Massignon (1883-1962), esse singular dominicano foi um dos grandes
pioneiros do diálogo islamo-cristão ao longo do século XX. Como assinalou com
razão Maurice Borrmans, “ninguém pode hoje interrogar-se sobre o que ocorreu no
diálogo islamo-cristão no decorrer do século XX sem encontrar em seu coração, o
padre Georges Chehata Anawati”[1].
Ele contribuiu, com outros buscadores, para vencer o “trauma duradouro” que o
islã sempre respresentou para a Europa e o Ocidente. Dedicou-se, com sua personalidade
singular, a abrir portas para a comunhão com o islã em seu dom e mistério. Essa
abertura veio favorecida pela sua capacidade peculiar de estabelecer contato
humano e firmar amizades. Como um bom dominicano, esteve sempre animado por
insaciável curiosidade intelectual e um grande amor pela verdade, acima de
tudo. Trata-se de um intelectual marcado por grande envergadura no campo dos
estudos árabes e islâmicos, mas isento de ambição acadêmica ou política. Sua
vida traduz, sobretudo, o “exigente esforço de um homem de Deus na busca de
compreensão e amizade do outro”[2].
Dentre aqueles que mais o estimularam a tal trabalho interreligioso, destaca-se
Maria-Dominique Chenu (1895-1990), que foi regente das faculdades de Saulchoir
desde 1932, onde estudou Anawati. Em texto de outubro de 1964, Chenu menciona o
trabalho exercido pelos dominicanos no Cairo (Egito), todos engajados no estudo
do pensamento e do mundo islâmico. Recorda que tais buscadores, seguindo os
passos de São Francisco e São Domingos, realizaram ali um rico testemunho, não
de proselitismo, mas de “conhecimento cordial do islã”[3].
Ali fundaram o Instituto Dominicano de Estudos Orientais (IDEO), que ficou
internacionalmente reconhecido por suas importantes contribuições para o estudo
do islã, do diálogo islamo-cristão e mística comparada, sem desconhecer ainda o
seu papel protagônico nas reflexões do Concílio Vaticano II acerca dos
muçulmanos.
1. Traços Biográficos
Georges
Anawati nasceu em Alexandria, no Egito,
no dia 06 de junho de 1905. Passou parte de sua juventude nessa cidade
cosmopolita, conhecida como uma “pequena Paris”, marcada por identidades
múltiplas e grande abertura. Sua família era de origem síria. O avô, grego
ortodoxo, originário de Homs, teve que emigrar para o Egito em razão de
conflitos em sua terra natal[4]. O
pai, Shahâta Bek Anawati, nasce em Alexandria no ano de 1869. Reconhecido como
um homem culto, que dominava bem as línguas inglesa e francesa, atuou como
funcionário do governo egípcio na administração portuária. Com sua esposa, Marie Tawa, de origem síria,
tem oito filhos, sendo Anawati o sexto. O pequeno Georges teve, como seus
irmãos, uma educação tipicamente francesa. Sua formação inicial ocorreu no
colégio Sacré-Coeur de Beirute (Frères des Écoles Chetiennes), e o prosseguimento
dos estudos secundários no Colégio Santa Catarina de Alexandria, onde concluiu
o baccalauréat, no ano de 1922. No
ano anterior, tinha ocorrido sua passagem da ortodoxia ao catolicismo, com
repercussões dolorosas no âmbito familiar[5].
Em 1923 parte para o Líbano, onde seguirá os estudos na prestigiosa
universidade Saint Joseph de Beyrouth, sob a direção dos jesuítas. Sua intenção
era de se tornar um farmacêutico especializado. Em continuidade a seus estudos,
passa dois anos em Lyon, entre 1926 e 1928, especializando-se em química
industrial. Ao retornar para a Alexandria, assume uma farmácia e um laboratório
de química, em parceria com dois de seus irmãos médicos. Seu interesse não se
restringe às ciências exatas, mas volta-se também para a filosofia e para o
aperfeiçoamento em línguas, e para dar conta do desafio impõe-se uma rígida
disciplina de vida[6]. Animado
por uma busca interior inesgotável, não se satisfaz com suas atividades
profissionais e engajamentos intelectuais. Durante os anos de 1932 a 1934
aprofunda sua leitura em novos campos, que abrem horizontes para a sua vida.
Ambiciona um programa de vida distinto. Dentre suas leituras: os livros de
Maritain[7], a
Imitação de Cristo e os Exercícios Espirituais de Santo Inácio.
Uma obra em particular marca sua vocação: La
vie intellectuelle, do dominicano Antonin-Dalmace Sertillanges (1863-1948).
Ele encontra nas reflexões de Sertillanges traços de grande sintonia com o seu
projeto de vida: a vocação intelectual, as virtudes que animam um intelectual
cristão, a organização e método do trabalho intelectual etc.
Os
primeiros sinais de sua vocação dominicana surgem por ocasião de um retiro
espiritual, organizado pelos Irmãos das Escolas Cristãs, em setembro de 1932.
Vem tocado especialmente pela pregação do frei Boulanger, então superior do
convento dominicano de Abbasiah, no Cairo. Na ocasião, assinala em seu diário
que sua vida não poderia continuar na mesma linha. Depois de um novo encontro
com Boulanger, em outrubro de 1933, para “estudar sua vocação”, a decisão ganha
corpo, e escreve em seu diário: “Eu serei dominicano”[8].
Parte para o noviciado em janeiro de 1934, e o destino é a província dominicana
da França[9].
Ainda no navio que o levou do Egito à França, escreve a Maritain: “Eu não diria
que você me converteu... A verdade é mais simples e concreta: você tornou o meu
catolicismo coerente e inteligente (...)”[10]. Recebe o hábito religioso em 4 de maio de
1934, e ganha um novo nome: frei Marie-Marcel[11].
A província de Paris era conhecida por sua tradição intelectual. A ela estavam
ligados o prestigioso centro de estudos, Le Sauchoir, bem como um importante
periódico: a Revue des Sciences
Philosophiques et Théologiques. A província adaptava-se bem ao projeto
intelectual de Anawati, de adentrar-se nas questões muçulmanas, munido com o
potente instrumental do tomismo. Ali podia saciar sua sede, marcada por dois
traços essenciais: a abrangente curiosidade intelectual e o amor profundo pela
verdade[12].
Com
a entrada no noviciado dominicano tem início um longo período de estudos para
Anawati: sete anos de formação filosófico-teológica e três anos de estudos do
árabe e de iniciação ao islã. A primeira etapa, de formação
filosófico-teológica (1935-1939), foi cumprida no convento de estudos de
Saulchoir de Kain (Bélgica), que na ocasião vinha dirigido por Chenu[13].
Ali ordenou-se padre dominicano, em 16 de julho de 1939. A continuidade da
formação teológica ocorreu no convento de estudos de Saulchoir em Étiolles[14],
nas proximidades de Paris. Ali permaneceu até 1940.
No ano de
1941, tempos difíceis da guerra, foi para a Argélia, onde passou três anos[15]. Obteve a licença em língua e literatura árabe
e estabeleceu ricos contatos com os estudiosos do Instituto de Línguas
Orientais da Universidade da Argélia. Visitou ainda na ocasião a fraternidade
do Sacré-Coeur dos discípulos de
Charles de Foucauld (El-Abiodh Sidi
Cheikh), onde por três meses aprofundou seus conhecimentos de teologia e
mística islâmica. No contato com frei André e o padre Voillaume aprofundou a
dimensão contemplativa da missão e o ritmo da oração. Ao escrever sobre a
experiência, em 1947, relata que entre os irmãozinhos de Foucauld firma-se o
desejo de conhecer a alma muçulmana por dentro. Indica que sua estadia entre
eles favoreceu o aprofundamentos de temas preciosos como a filosofia árabe e as
questões de mística comparada. Revela que ali é, certamente, “um dos lugares do
mundo onde melhor se conhece a mística muçulmana”[16].
Estabeleceu também outros importantes contatos na Tunísia, junto a pesquisadores
do Institut des Belles Lettres Arabes. Foram dez anos de preparação para o seu
ministério dialogal com o islã, que se deu na sequência de seus estudos.
2. O desafio do islã
Em
passagem de seu diário, datada de 18 de fevereiro de 1956, Anawati dizia que o
objeto de sua missão era buscar a “alma da verdade na civilização muçulmana”[17].
E assim firmou o seu projeto de vida depois do período de sua formação. O seu
trabalho vai assumir um toque pioneiro, num contexto católico ainda marcado
pela idéia de conquista e conversão dos “infiéis”. Até meados dos anos 1950, a
igreja católica apoiava-se na tradicional apologética secular formulada por
João Damasceno (675-753), segundo a qual o islã vinha enquadrado de forma bem
negativa. Em espírito de independência, Anawati aponta outro caminho: “Oh, eu
sei das prevenções contra o islã; elas são numerosas e tenazes. Eu me reservo o
direito de retomar essa questão tão interessante e que até hoje me tem atraído
irresistivelmente”[18].
Para essa perspectiva contribuíram o apoio de Chenu, Massignon e Abd-el-Jalil.
O impulso vem dado por Chenu, com a sua proposta de convocar os dominicanos ao
precioso trabalho de “conhecer o islã, sua história, sua doutrina, sua
civilização e suas fontes” mediante estudos sérios e prolongados[19].
Com Massignon vem reforçada a idéia de uma abertura hospitaleira: ir ao outro
não com o intuito de conquista, mas de encontro. Nos contatos realizados com
Massignon surgem pistas importantes para o trabalho de Anawati, como o estímulo
para o estudo pormenorizado dos fundamentos do tomismo em Avicena e Averróis e
o conhecimento da estrutura do islã, sob os pontos de vista filosófico e
teológico. Veio também com ele a perspectiva de um novo olhar sobre o islã,
pontuado pela simpatia. E ainda a advertência decisiva: “jamais minimizar o
islã”[20].
O franciscano Abd-el-Jalil também contribuiu para a abertura de Anawati. Foi
ele quem o incentivou a aprofundar seus estudos na Argélia, a buscar em seu
estudo uma objetividade realista e nunca perder de vista a hospitalidade
compreensiva. O franciscano é hoje reconhecido como um “testemunho excepcional
e um ator maior na evolução do pensamento católico com respeito ao islã e aos
muçulmanos”[21]. Em
clássica conferência realizada em Louvain, em 1964, Abd-el-Jalil alerta sobre a
importância de acercar-se ao islã com muito “tato e delicadeza”, pois é uma
tradição religiosa que nasceu sob o signo da defensiva. A seu ver, há que mudar
a perspectiva: “em lugar de erigir fronteiras para abrigar a Verdade, é
necessário abrir as portas, para utilizar uma expressão de Paulo VI”. Na
verdade, “o islã é autorizado por Deus”[22].
Não
há dúvidas sobre as sensíveis mudanças que foram ocorrendo no campo católico,
antes mesmo de 1950, com respeito ao tratamento do islã. Há que mencionar o
trabalho de congregações religiosas, como a dos Padres Brancos, dos
Franciscanos, Dominicanos, Jesuítas e Irmãozinhos de Jesus. Mas também as
mudanças se fazem sentir em Roma, com a atuação da Congregação para a Igreja
Oriental, e de modo particular, a presença do cardeal Eugène Tisserant
(1884-1972). Com sólida formação, firmada na Escola Bíblica de Jerusalém e no
Instituto Católico de Paris, e grande conhecimento das línguas semíticas
(hebraico, siríaco e árabe), ele vem designado por Pio XI para assumir em 1937
a direção da Sagrada Congregação para a Igreja Oriental. Ali realiza um
importante trabalho voltado para a dinamização missionária. Dentre suas
iniciativas, o desafio de melhor preparar os missionários nos países do islã,
bem como a criação de um comitê de estudos sobre o islã. É nesse sentido que
buscar articular as diversas congregações religiosas capazes de operar uma tal
reflexão, incluindo aí os dominicanos[23].
3. Deixar-se hospedar pelo outro
Em
seu caminho de conhecimento do islã, Anawati sempre buscou pautar o seu método
pela abertura, empatia e simpatia pelo outro. Para utilizar uma expressão cara
a Monchanin, seria uma “inteligência simpática”. Dentre as regras dialogais
adotadas por ele, podem ser mencionadas: a amizade sincera, a abertura desarmada
ao patrimônio do outro e a busca autêntica da verdade. Não há como dialogar com
o outro quando se está encerrado numa “verdade” auto-centrada e preconceituosa,
que impede captar e apreender o mistério da alteridade. Há que ter um “mínimo
de simpatia” para adentrar-se no mundo do outro[24].
Anawati exercita em sua vida uma máxima querida e apreciada por Massignon:
“Para conhecer o outro, é necessário tornar-se seu hóspede”. Em seu cotidiano,
Anawati aproximou-se com delicadeza dos muçulmanos sinceros em sua fé e com
eles partilhou experiências de um diálogo de vida. Participou ativamente em
grupos como “Os irmãos da pureza” (Ikhwân
al-safâ´) e a “Fraternidade religiosa” (Al-ikha´al-dînî).
Num
tempo marcado pelo clima de desconfiança contra a mística islâmica, envolvendo
mesmo membros de sua ordem, Anawati coloca-se em defesa do valor da experiência
religiosa que irradia entre os muçulmanos. Assinala em conferência realizada no
Angelicum, em 1963: “Sempre existiu
no islã almas ´sedentas de Deus`, almas generosas que buscam encontrá-lo
mediante a interiorização vivida do Mistério divino. O seu estudo enriqueceria
a elaboração de certos capítulos da teologia mística”[25].
Com
respeito ao diálogo com o islã, Anawati busca uma via média, equidistante de
uma perspectiva minimalista ou maximalista. No primeiro caso, estariam aqueles
que privilegiam o campo das tensões entre as duas tradições. No outro, os que
expressam posições mais arrojadas, como o caráter revelado do Alcorão e o
profetismo de Mohammad (Maomé). Como bom dominicano, Anawati prefere adotar o
caminho da via média, sem desconsiderar em momento algum a grande simpatia
pelos muçulmanos e a disposição dialogal com eles. Via na abertura sincera ao
islã um testemunho do espírito do grande mestre Tomás de Aquino. Dizia: “A
cultura islâmica existe em si mesma. Eu não estudo a cultura islâmica para
destruí-la. Porque destruí-la? É uma coisa bela em si mesma. Ocorre, então,
valorizar tudo o que há de belo nos outros, quer sejam as coisas chinesas,
taoístas ou outras. Apreciar os verdadeiros valores que habitam em todos os
homens, este é o espírito de São Tomás”[26]. A seu ver, o verdadeiro caminho dialogal
passa pela disponibilização ao outro, deixando-se hospedar pela sua presença
amiga. Há que buscar compreender profundamente esse outro, aprendendo sua
língua, sintonizando com sua linguagem, cultura, história e espiritualidade.
Recorrendo à pista evangélica, assinala que o caminho a ser seguido é o do
amor: “Nossa apologética deve ser inteiramente revisada. Torna-se necessário
recorrer à única arma que o Senhor nos deixou, o amor; é ele que nos permitirá
atingir os corações dos muçulmanos”[27].
4. A presença dominicana no Cairo
O
primeiro idealizador de uma casa dominicana de estudos no Cairo foi o padre
Marie-Joseph Lagrange (1855-1938), que foi o fundador da Escola Bíblica e
Arqueológica de Jerusalém, em 1890. Esse grande renovador da exegese bíblica e
estudioso das disciplinas linguísticas e arqueológicas modernas, cultivou
também o sonho de implantar no Cairo um instituto de egiptologia e de estudos
árabes. Isso ocorreu por volta de 1911[28].
O sonho foi ganhando corpo com a proposta feita a Chenu pelo cardeal Eugène
Tisserant, antigo aluno da Escola Bíblica de Jerusalém, e então prefeito da
Congregação para a Igreja Oriental, de uma fundação dominicana no Cairo visando
o estudo científico do islã[29].
Tomando a frente do projeto, Chenu, então reitor das faculdades de Saulchoir,
redige em julho de 1945 algumas proposições
sobre o “Grupo de estudos do Cairo” endereçada ao capítulo geral da
província da França. Ali resume de forma clara o projeto da criação do IDEO
(Instituto Dominicano de Estudos Orientais), que estaria voltado, não para a
conquista do islã, mas para o seu aprofundamento. As notas de Chenu serão reconhecidas
como a carta de fundação do novo Instituto.
O
IDEO foi criado em 07 de março de 1953, tendo como seu diretor Georges C.
Anawati, e como outros colaboradores os padres Jacques Jomier (especializado em
exegese corânica) e Serge de Beaurecueil (estudioso da mística muçulmana).[30]
As primeiras articulações da equipe já ocorreram antes, com a formação do grupo
de estudos islâmicos. Anawati estava no Egito desde agosto de 1944. Jomier e
Beaurecueil chegaram um pouco depois, respectivamente em 1945 e 1946. A
formação do grupo era bem especializada. Anawati dedicou-se mais ao estudo da
filosofia. Jomier (1914-2008), estudioso de exegese corânica, fez sua formação
de estudos árabes na Escola de Línguas Orientais, concluindo mais tarde, em
1954, o doutorado de estado na Sorbonne, tendo em sua banca, Louis Massignon. E
Beaurecueil (1917-2005), dedicou-se também aos estudos islâmicos,
particularmente à mística sufi, tendo como objeto de estudo Ansârî (1006-1089)[31].
A
força e competência dessa equipe inicial deu a consistência necessária para a
afirmação do grupo de estudos. O trabalho trazia uma novidade no campo
católico: “A Igreja católica, em sua história, não soube jamais estudar o islã,
sua origem, seu desenvolvimento religioso, político e cultural, a ´civilização`
que o encarna segundo um plano de conjunto. A capital do Egito presta-se a tal
aproximação, em razão de seu significado central para o mundo muçulmano”[32].
O trabalho realizado pelo IDEO cobriu um vasto campo de reflexão, em torno da
cultura árabe: filosofia, teologia, mística comparada, história e literatura.
Para possibilitar a reflexão, o Instituto possuía uma das melhores bibliotecas
do Oriente Médio e um importante canal de expressão, que foi a revista MIDEO (Mélanges de L´Institut Dominicain d´Études
Orientales), cujo primeiro número foi publicado em 1954. O trabalho
possibilitou ainda uma singular interlocução com o mundo acadêmico islâmico no
Egito.
Há que
registrar, por fim, o influxo do IDEO nos textos do Concílio Vaticano II
(1962-1965), particularmente ao que toca às questões relacionadas aos
muçulmanos. Segundo Régis Morelon, no prefácio da obra de Dominique Avon, o
texto do Vaticano II envolvendo o islã, “deve o essencial de seu conteúdo aos
membros do IDEO, que tinham participado nas comissões ad hoc para que esta declaração pudesse afirmar-se, declaração
muito bem acolhida tanto por muçulmanos como cristãos”[33].
Foi essa presença no Concílio que proporcionou ao IDEO uma credibilidade ampla
no campo do diálogo islamo-cristão, tanto entre católicos como muçulmanos.
Segundo Dominique Avon, “o IDEO, por intermédio de seu diretor, adquiriu uma
visibilidade, uma autoridade e um reconhecimento nos meios romanos”[34]
5. Anawati e o Vaticano II
Os
ecos do trabalho do IDEO começavam a se irradiar. Anawati vem convidado para
participar no Concílio Vaticano II por ocasião da visita ao Egito de Jean
Willebrands, em 1962. Ele ocupava o cargo de secretário do Secretariado para a
Promoção da Unidade Cristã desde 1960. Em agosto de 1963, Anawati vem nomeado
oficialmente por Willebrands como membro do Secretariado para a Unidade dos
Cristãos, e já começa ali um importante trabalho de sensibilização em favor do
diálogo islamo-cristão. No início de setembro do mesmo ano, vem recebido por
Paulo VI em Castelgandolfo. Ainda em 1963, ao final de novembro, Anawati
profere uma importante conferência no Angelicum,
sobre o tema do “Islã no tempo do Concílio”. Entre a assistência, composta por
mais de 200 pessoas, estavam autoridades do Concílio, como os cardeais Tisserant,
Duval, Sidarous, Nasrallah e Ghattas,
alguns bispos da África do Norte e também do Oriente, bem como alguns
teólogos de renome como Lyonet, Henri de Lubac, Martelet, Moubarac e outros.
Havia ainda muitas autoridades muçulmanas presentes. A conferência foi um
sucesso, tendo o dominicano recebido muitas felicitações. A abordagem foi bem
pedagógica, tendo em vista as dificuldades que a temática encontrava nos meios
católicos. Em sua conferência, Anawati tratou a questão do islã como religião e
civilização, insistiu também nos pontos de aproximação e distanciamento com
respeito ao cristianismo. Falou ainda das instituições religiosas católicas
empenhadas em processos de colaboração e amizade com as “elites muçulmanas”, e
da riqueza da mística muçulmana. Os estudiosos do tema acreditam que o conteúdo
da conferência repercutiu, chegando ao conhecimento de Paulo VI.[35]
Talvez
o trabalho mais decisivo de Anawati no tempo do Concílio foi sua atuação junto
ao Secretariado para os Não-Cristãos. Sua participação nesse Secretariado,
criado por Paulo VI em maio de 1964 foi bem relevante. Dentre os participantes
desse dicastério romano, no que tange à temática islâmica, estavam nomes
conhecidos, como: Abd-el-Jalil, Anawati, Roger Arnaldez, Louis Gardet, Arnolf
Camps, Robert Caspar, Abdallah Dagher e James Kritzeck. Deste grupo, dois
expoentes – Anawati e Rober Caspar – participaram ativamente na preparação do
famoso parágrafo sobre os muçulmanos na Declaração Nostra Aetate[36].
O texto é rico e inovador:
A Igreja olha com estima
para os muçulmanos que adoram o Deus uno, vivo e subsistente, misericordioso e
onipotente, Criador do céu e da terra[37],
que falou aos homens. Procuram submeter-se de todo o coração aos decretos mesmo
ocultos de Deus, como a Deus se submeteu Abraão, a quem a fé islâmica se refere
com simpatia. Ainda que não reconheçam Jesus como Deus, veneram-no no entanto
como profeta. Honram Maria sua Virgem Mãe e chegam mesmo a invocá-la com
devoção. Além disso, aguardam o dia do juízo final, quando Deus retribuirá
todos os homens ressuscitados. Têm estima pela vida moral e rendem culto a
Deus, sobretudo com a oração, esmolas e jejum[38].
Na
segunda parte do mesmo parágrafo, emerge o tema específico do diálogo entre
cristãos e muçulmanos:
Se no correr dos séculos, existiram
não poucas discórdias e inimizades entre cristãos e muçulmanos, o sacrossanto
Concílio exorta todos a que esqueçam o passado e ponham em prática sinceramente
a mútua compreensão, defendam e promovam conjuntamente, em favor de todos os
homens, a justiça social, os valores morais, a paz e a liberdade[39].
Para
os católicos engajados no processo de diálogo com os muçulmanos, o texto da Nostra Aetate marcava uma mudança
epocal. Um novo caminho se abria para um diálogo autêntico com a aprovação da
Declaração pelo Concílio, em outubro de 1965. Ao comentar sobre a Declaração,
assinalou Anawati: “O Concílio Vaticano II fez uma declaração que marca uma
mudança nas relações entre os muçulmanos e a Igreja”[40].
Em carta de Louis Gardet para Anawati, com data de 24 de dezembro de 1964, ele
expressava sua alegria: “Sim, o texto conciliar de que você é grandemente
devedor é muito bom. É uma alegria pensar que o diálogo com o islã torna-se
verdadeiramente possível”[41].
No ano seguinte, também em carta para Gardet, Anawati revela com o seu bom
humor egípcio: “Caro amigo, nós contribuímos para ´islamizar` e ´arabizar` uma
parte da inteligência cristã ocidental. Que grave responsabilidade!”[42].
6. Produção intelectual e atuação
acadêmica
O
vasto trabalho intelectual de Anawati no campo dos estudos islâmicos resultou
numa diversificada gama de publicações. De acordo com a pesquisa divulgada por
Maurice Borrmans, são 11 livros pessoais, 11 livros em colaboração, 6 livros de
edição de textos árabes e cerca de 277 artigos, que cobrem o período que vai de
1939 a 1995[43]. Dentre
os artigos citados, alguns foram publicados em importantes dicionários ou
enciclopédias, como a Encyclopédie de
l´islam, Encyclopaedia Universalis, Encyclopedia Britannica, Encyclopedia Iranica, The Encyclopedia of Religion, Dictionnary of Scientific Biography
etc.[44].
Deixou sem publicar um trabalho de fôlego, com cerca de 800 páginas, sobre o
tema do Al-Tawhîd – O Deus um:
existência, atributos e nomes divinos, criação.
Vale
registrar que Anawati foi um reconhecido intérprete e tradutor de Avicena[45],
tendo publicado em 1960 no Cairo, em parceria com Simone Van Riet (especialista
do autor em Louvain), a edição crítica dos livros 1 a 5 da Metafísica. Publicou
ainda o Ensaio de bibliografia Aviceniano, com data de 1950, e uma edição
crítica do Isagogè, em colaboração
com Mahmoud el-Khodeiry, Fouad el-Ahwani e Said Zayed, além de outros trabalhos sobre o tema[46].
Outros
trabalhos de fôlego no campo da filosofia, teologia e mística islâmica foram
realizados em parceria com o grande amigo Louis Gardet. Com ele empreendeu
pesquisas no campo da filosofia e teologia comparadas (cristã e muçulmana), bem
como traduções comentadas de um manual de teologia muçulmana clássica: La glose sur la Jawharat al-Tawhîd. O
reconhecimento mais amplo dos dois aconteceu depois da publicação de um livro
feito em parceria, publicado em 1948: Introduction
à la theologie musulmane (Paris: Vrin), com prefácio de Louis Massignon.
Como indica Dominique Avon, foi essa obra que proporcionou aos seus autores “um
reconhecimento internacional no meio dos especialistas do islã (...). A Igreja
católica não possuía até então nenhum estudo desta qualidade a propósito do
pensamento muçulmano e o islã contemporâneo não tinha produzido uma tal
síntese”[47]. Outra
importante obra feita em conjunto com Gardet foi Mystique musulmane: aspects et tendances – expériences et
techniques, publicada pela mesma editora Vrin, em 1961.
Entre
os anos de 1921 a 1985, Anawati produziu um precioso diário, de mais de duas mil
páginas, preenchidas em cerca de 50 cadernos. Há ali um registro precioso de
suas andanças, encontros e reflexões pessoais. Aborda com intimidade a dinâmica
de seus projetos e dos encaminhamentos de sua vocação ao estudo e aproximação
do islã. Os escritos ocorrem em intervalos irregulares, mas as informações mais
detalhadas estão nos cadernos que abordam os seus anos de estudo na Argélia e o
tempo do Concílio Vaticano II. Os cadernos serviram de base para a redação da
volumosa obra de Dominique Avon, sobre a presença dos dominicanos no Cairo. Há
também a rica correspondência de Anawati com amigos e intelectuais, entre os
quais Louis Gardet, Jomier, Beaurecueil
e Youssef Karam[48].
Destacam-se também as cartas que registram o seu contato com Massignon. Mas poucas
restaram nos arquivos dos dominicanos, pois ao que parece, no final de sua vida
Anawati mesmo as destruiu por considerá-las muito pessoais. Restaram apenas
cerca de 50 cartas nos arquivos disponíveis.
Quanto
às atividades acadêmicas de Anawati, são também diversificadas. Atuou como
professor visitante na Universidade de Montreal (Canadá) junto ao Instituto de
Estudos Medievais, entre os anos de 1950 e 1956. Ali concluiu seu doutorado, em
1950. Foi também professor visitante na Universidade de Califórnia (UCLA), em
Los Angeles, nos anos de 1967 a 1977. Atuou ainda como professor convidado no Angelicum e na Urbaniana (Roma – entre
1963 e 1965), bem como na Universidade de Louvain (Bélgica – 1959 e 1964)[49].
Contribuiu também com ensinamentos no Pontifício Instituto de Estudos Árabes e
Islâmicos (PISAI – Roma). Tem ainda participação destacada em diversos
congressos internacionais, apresentando os resultados de suas pesquisas no
campo dos estudos islâmicos.
Conclusão
Ao
traçar os passos da atuação e presença de Anawati não há como ficar impassível.
É impressionante a sua vitalidade e a força de seu testemunho em favor de um
novo olhar sobre o islã e a urgência de um compromisso dialogal dos cristãos
com os muçulmanos. É um buscador que abriu fronteiras inusitadas nesse campo,
deixando pistas fundamentais para o aprofundamento dessa imprescindível questão
que pontua o século XXI. Para os estudiosos da temática, constata-se a riqueza
que acompanha a vida desses buscadores cristãos no diálogo com o islã. Anawati
é um dentre tantos que dedicaram sua vida ao desafio dialogal, sendo que muitos
deles morreram martirizados, como é o caso de Pierre Claverie e Christian de
Chergé. Os biógrafos de Anawati dizem que ele morreu docemente na manhã do dia
28 de fevereiro de 1994, no dia da festa de são Tomás de Aquino. Deixou um belo
exemplo e um grande desafio para os que buscam, como ele, acolher o mistério da
alteridade.
(Publicado na Revista Dominicana de Teologia (RDT), v. 7, n. 12, jan/jun 2011, pp.55-67)
(Publicado na Revista Dominicana de Teologia (RDT), v. 7, n. 12, jan/jun 2011, pp.55-67)
[1] Maurice BORRMANS. Prophètes du dialogue islamo-chrétien.
Paris: Cerf, 2009, p. 113.
[2] René Pérez, apud Maurice
BORRMANS. Prophètes du dialogue
islamo-chrétien, p. 130. O testemunho de Pérez encontra-se no livro
organizado por Régis MORELON. Le Père
G.C.Anawati, o.p. Parcours d´une vie. Le Caire: IDEO, 1996.
[3] Marie-Dominique CHENU.
Regard sur cinquante ans de vie religieuse. In: L´hommage différé au Père Chenu. Paris: Cerf, 1990, p. 268.
[4] Isso ocorreu na época do
massacre dos cristãos por parte dos drusos.
[5] Ver a respeito: Dominique
AVON. Les frères prêcheurs en Orient. Les
dominicains du Caire. Paris: Cerf, 2005, pp. 290-291. Sua conversão ocorreu
quando tinha 16 anos. Praticava o catolicismo de forma reservada, como ele
mesmo relata, “para não aborrecer o seu pai, que era membro da comunidade
ortodoxa”: Georges ANAWATI. L´ultimo
dialogo. La mia vita incontro all´islam. Venezia: Marcianum Press, 2010, p.
56.
[6] Ibidem, p. 291. O seu
interesse pela filosofia vinha desde o tempo do liceu.
[7] Em particular: Religion et culture (Paris: Desclée de
Brouwer, 1930), Primauté du spiritual (Paris:
Plon, 1927) e posteriormente Humanisme
integral (Paris: Aubier, 1936).
[8] Dominique AVON. Les frères prêcheurs en Orient, pp.
296-297.
[9] Também conhecida como
província de França ou de Paris. A ordem dos dominicanos contava ainda com
outras duas províncias na França: de Lyon e Tolouse.
[10] Jean-Jacques PÉRENNÈS. Georges Anawati (1905-1994). Un chrétien
égyptien devant le mystère de l´islam. Paris: Cerf, 2008, p. 49. Depois de
três anos com os dominicanos relata sua alegria: “Estava como um peixe n´água,
muito feliz. Se é possível consagrar toda a vida à oração, ao trabalho, ao
estudo, este era o meu ideal e o ápice da felicidade”: Georges ANAWATI. L´ultimo dialogo, p. 59.
[11] Em razão de uma variação
das iniciais em sua bibliografia, passa de M.-M à G.C.Anawati. Ver a respeito:
Jean-Jacques PÉRENNÈS. Georges Anawati
(1905-1994). Un chrétien égyptien devant le mystère de l´islam, p. 52.
[12] Dominique AVON. Les frères prêcheurs en Orient, p. 288 e
308.
[13] Em seu diário, Anawati
relata os dois contatos que teve com Chenu após sua chegada em Saulchoir, e o
apoio que dele recebeu logo de partida. No segundo encontro, ao final de 1935,
Chenu indica que os dois terão “belas perspectivas de futuro” e um grande
trabalho a ser realizado em conjunto: Dominique AVON. Les frères prêcheurs en Orient, p. 306.
[14] No final de julho de 1939,
Le Sauchoir vem transferido da Bélgica para a França, nas redondezas de Paris.
[15] A decisão pela Argélia foi
suscitada pelo padre franciscano Abd el-Jalil (1904-1979), outro grande
pioneiro do diálogo islamo-cristão, que no período lecionava islamologia no
Instituto Católico de Paris. Em correspondência travada entre os dois, Anawati
pede aconselhamento sobre o local onde poderia realizar o seu sonho de se
consagrar aos estudos árabes. Em sua resposta, Abd el-Jalil orienta Anawati, em
acordo com Massignon, para realizar seus estudos na Universidade da Argélia, em
razão de sua rica biblioteca e de seus grandes mestres: Jean-Jacque PÉRENNÈS. Georges Anawati (1905-1994). Un chrétien
égyptien devant le mystère de l´islam, pp. 84-85.
[16] Marie-Marcel ANAWATI. À
El-Abiodh, chez les Petits Frères du Sacre Coeur. Apud Dominique AVON. Les frères précheurs en Orient, p. 420.
Ver ainda pp. 418-420.
[17] Durante o retiro de sua
ordenação, em julho de 1939, já havia falado do islã como sua vocação, o que
está expresso em seu diário (14/07/1939): Jean-Jacque PÉRENNÈS. Georges Anawati (1905-1994). Un chrétien
égyptien devant le mystère de l´islam, pp. 60-61.
[18] Ibidem, p. 61 (diário,
16/03/1933).
[19] Ver a respeito a carta de
Chenu a Gillet, em 8/7/1939: Dominique AVON. Les frères précheurs en Orient, pp. 340-341. Quanto ao estímulo
dado por Chenu a Anawati cf. Georges ANAWATI. L´ultimo dialogo, p. 70.
[20] Ibidem, pp. 312-313 e 368;
Jean-Jacque PÉRENNÈS. Georges Anawati
(1905-1994). Un chrétien égyptien devant le mystère de l´islam, pp. 62-63.
Os contatos de Anawati com Massignon se iniciaram em 1934, dando início a uma
correspondência episódica mas intensa.
[21] Oissila SAAÎDIA. Clercs catholiques et oulémas sunnites
dans la première moitié du XX siècle. Paris: Geuthner, 2004, p. 121.
[22] ABD-EL-JALIL, A la
rencontre de l´âme musulmane (XXXIV semaine de missiologie de Louvain), apud
Jean-Jacque PÉRENNÈS. Georges Anawati
(1905-1994). Un chrétien égyptien devant le mystère de l´islam, p. 239.
[23] Oissila SAAÎDIA. Clercs catholiques et oulémas sunnites
dans la première moitié du XX siècle,
pp. 83-84; Jean-Jacque PÉRENNÈS. Georges
Anawati (1905-1994). Un chrétien égyptien devant le mystère de l´islam, p.
84; Dominique AVON. Les frères précheurs
en Orient, pp. 224 e 337-338. Como assinala D. Avon, o cardeal Tisserant
tinha uma particular simpatia para com a ordem dominicana e foi um grande
incentivador do trabalho realizado pelos
dominicanos no Cairo.
[24] Em nota redigida em seu
diário, em 04 de julho de 1941, Anawati assinala o risco de fanatismo que
envolve os católicos na abordagem sobre o islã, prejudicando o olhar atento
para a verdade. Indica a necessidade de quebrar os preconceitos, superar os
julgamentos apressados e deixar-se animar por um “mínimo de simpatia”: apud
Maurice BORRMANS. Prophètes du dialogue
islamo-chrétien, p. 133.
[25] Apud Maurice BORRMANS. Prophètes du dialogue islamo-chrétien,
p. 135. Há que recordar que autores católicos, como Garrigou-Lagrange,
posicionavam-se na ocasião contra a autenticidade de uma mística fora da
igreja, e reagiam contra pensadores que se posicionavam diferentemente, como
Massignon e Asin Palácios, que segundo eles estariam no limite da ortodoxia. É
o que destaca Dominique Avon: Les frères
précheurs en Orient, p. 377. Ver ainda sobre o tema: ibidem, pp. 200-218.
[27] Georges C. ANAWATI. Vers un
dialogue islamo-chrétien. Revue thomiste,
n. 2, 1964, p. 593, apud Dominique AVON. Les
frères précheurs en Orient, pp. 822-823.
[28] Oissila SAAÎDIA. Clercs catholiques et oulémas sunnites
dans la première moitié du XX siècle, pp. 66-67; Jean-Jacque PÉRENNÈS. Georges Anawati (1905-1994). Un chrétien
égyptien devant le mystère de l´islam, pp. 116-118.
[29] Georges C. ANAWATI. Le père
Chenu et l´institut dominicain d´études orientales du Caire. In: L´hommage différé au Père Chenu, p. 64.
A mensagem do cardel Tisserant foi encaminhada ao capítulo geral dos
dominicanos, reunido em Roma, no ano de 1938, onde Chenu tinha sido destacado
pelo padre geral para cuidar do assunto.
[30] Foram os três dominicanos
que iniciaram o trabalho no Cairo. Depois a equipe veio ampliada com outros
membros, entre os quais Jacques-Dominique Boilot (1912-1989, especialista em
ciências árabes aplicadas) e Reginaldo de Sá (1918-1994), esse brasileiro. Para
a biografia desses dois dominicanos cf. Dominique AVON. Les frères précheurs en Orient, pp. 453-455 e 451.
[31] Depois de sua estadia no
Cairo, Beaurecueil seguiu para o Afeganistão, vivendo em Kaboul cerca de 20
anos, ocupando-se sobretudo dos meninos de rua, num trabalho que foi registrado
no belo livro: Mes enfants de Kaboul (Paris:
Cerf, 2004).
[32] Dominique AVON. Les frères précheurs en Orient, p. 438.
Era uma constação que servia de eixo para algumas proposições feita por Anawati,
em novembro de 1943, a respeito das possibilidades científicas do trabalho no
Cairo.
[33] Régis MORELON. Préface. In.
Dominique AVON. Les frères précheurs en
Orient, pp. 12-13. Trata-se aqui da Declaração Nostra Aetate, sobre as relações da Igreja com as religiões não
cristã, no seu número 3, dedicado à religião muçulmana.
[34] Dominique AVON. Les frères précheurs en Orient, p. 792.
[35] Dominique AVON. Les frères précheurs en Orient, pp.
785-787; Jean-Jacque PÉRENNÈS. Georges
Anawati (1905-1994). Un chrétien égyptien devant le mystère de l´islam, pp.
209 e 213-214.
[36] Michael L. TITZGERALD.
Préface. In: Maurice BORRMANS. Louis
Gardet (1904-1986). Philosophe chrétien des cultures et témoin du dialogue
islamo-chrétien. Paris: Cerf, 2010, p. II. Na direção desse Secretariado estava
o cardeal Paolo Marella (1895-1984), e como secretário, o padre Humbertclaude,
religioso marianista francês.
[37] A Declaração faz menção
aqui a um dos textos pontifícios pioneiros no campo do diálogo com o islã.
Trata-se do carta do papa Gregório VII
ao sultão Al-Nasis. Ali ele diz: “Nós reconhecemos e confessamos – de modo
diferente, é verdade – o Deus Um, que louvamos e veneramos a cada dia como
criador dos séculos e mestre deste mundo...”.
[38] DECLARAÇÃO Nostra Aetate, sobre as relações da
Igreja com as religiões não-cristãs. In: DOCUMENTOS do Concílio Ecumênico
Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997, p. 342 (NA 3).
[39] Ibidem, p. 342 (NA 3).
[40] Georges C. ANAWATI. Islam e cristianesimo. L´incontro tra
due culture nell´Ocidente medievale. Milano: Vita e Pensiero, 1994, p. 81.
[41] Apud Dominique AVON. Les frères précheurs en Orient, p. 805.
[42] Apud Jean-Jacque PÉRENNÈS. Georges Anawati (1905-1994). Un chrétien
égyptien devant le mystère de l´islam, p. 13.
[43] Para a lista completa das
produções de Anawati cf. Maurice BORRMANS. Prophètes
du dialogue islamo-chrétien, pp. 211-248.
[44] Para a lista completa dos
dicionários e enciclopédias que acolheram artigos de Anawati cf. Jean-Jacque
PÉRENNÈS. Georges Anawati (1905-1994). Un
chrétien égyptien devant le mystère de l´islam, p. 268.
[45] É em razão de seu traço
espiritual que Anawati dedicou-se com afinco ao estudo de Avicena e a ele se
ligou com afeição. Ele se considerava um discípulo de Avicena.
[46] Jean-Jacque PÉRENNÈS. Georges Anawati (1905-1994). Un chrétien
égyptien devant le mystère de l´islam, pp. 189-195.
[47] Dominique AVON. Les frères précheurs en Orient, p. 505.
[48] Como indica Jean-Jacques
Pérennès, foram cerca de 350 cartas para Gardet, bem como 200 para Jomier, 200
para Beaurecueil e 107 para Yossef Karam: Georges
Anawati (1905-1994). Un chrétien égyptien devant le mystère de l´islam, p.
20.
[49] Maurice BORRMANS. Prophètes du dialogue islamo-chrétien,
p. 124.
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