terça-feira, 12 de junho de 2012

Teilhard de Chardin e a diafania de Deus no universo


Teilhard de Chardin e a diafania de Deus no Universo

Tempera-te na Matéria,
Filho da Terra,
Banha-te em suas
dobras ardentes,
pois ela é a fonte
e a juventude
da tua vida”
(T.Chardin)

Faustino Teixeira
PPCIR-UFJF

Introdução

            Uma das figuras mais singelas e nobres da mística contemporânea foi o jesuíta Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955). É raro encontrar no panorama da espiritualidade cristã vigente na primeira metade do século XX alguém que conseguiu viver com tamanha intensidade a experiência do Real, com toda a riqueza de sua materialidade, colhendo o dinamismo espiritual que brota do canto das coisas mesmas. Seu testemunho e suas obras traduzem o dinamismo de uma vida “preenchida”, tocada pela semente do amor. Mais de que uma teoria ou sistema, o que ele buscou traduzir foi “um certo gosto, uma certa percepção da beleza, do comovente, da unidade do ser”[1]. Apesar de toda resistência encontrada ao longo de seu caminho, das  oposições sofridas e das decepções vivenciadas, nada disso interrompeu o traço fundamental de seu incontornável otimismo com os rumos da humanidade. Não via outro caminho senão o da confiança e da esperança, como confidenciou à sua amiga, Léontine Zanta: “Crer energicamente que o Universo é bom e que são boas as suas potências, desde que os tratemos laboriosamente e fielmente no sentido em que as coisas se tornem melhores e mais unas”[2].

            Teilhard transmite uma “visão apaixonada da Terra”, um amor sem limites às suas energias, segredos e esperanças. É o que mais seduz em suas reflexões. Impressiona nele a inteireza e a coragem. Não há obstáculos que o impeçam de apostar no dinamismo que anima a matéria e a vida. Foi um “cristão audacioso”, que chegou a roçar precipícios. Mas como sinalizou Henri de Lubac, sua experiência de fé e seu enraizamento na tradição foram essenciais nessa arriscada aventura, preservando-o da queda: “Foi nesse enraizamento que foi beber o sumo daquilo que nele admiramos de mais vigorosamente pessoal”[3].

            Em sua vida foi tocado por dois grande amores: o Mundo e Deus. Neles vislumbrava o eixo profundo do cristianismo e em sua conjunção a visibilização do reino de Deus. Não conseguia encontrar outro caminho “fora da síntese (teórica e prática) da fé apaixonada no Mundo e da fé apaixonada em Deus. Ser plenamente humano e cristão, um pelo outro”[4]. O filósofo Henrique Cláudio de Lima Vaz assinala essas duas presenças na vida de Teilhard, ou seja, a experiência da terra e o influxo da graça. A primeira, foi decisiva e fundamental:

Na elaboração de seu pensamento, Teilhard lutou continuamente contra a tentação do espiritualismo extraterreno, desenraizado da terra, desenvolvido no menosprezo do terreno; contra a tentação de pensar o homem independente da terra. Esforçou-se por mostrar que só podemos compreender realmente o homem na sua solidariedade com a terra, na sua dependência telúrica[5].

            Mas o segredo dessa “solidariedade com a terra” está numa experiência espiritual, tocada pela gratuidade da graça. Aqui reside o traço mais íntimo de sua experiência, que não se penetra senão com delicadeza e respeito. Na verdade, “nada ou bem pouco se poderia explicar de seu pensamento se não pudéssemos acompanhá-lo através de seu itinerário espiritual, desse crescimento na graça, nas descobertas dos valores do Evangelho, principalmente dos valores mais universais”[6].

Teilhard pedia permanentemente a Deus para manter aceso em seu coração a capacidade permanente de ouvir e perceber, assim como de transmitir aos outros, até a embriagues, “a imensa música das coisas”[7]. É o “apelo da matéria” que o acompanhou desde a tenra idade, mais precisamente, aquele “algo que cintilava no coração da matéria”[8]. Teilhard descreve admiravelmente esse seu itinerário espiritual em sua obra de 1950, O coração da matéria. Fala de sua paixão infantil pelo ferro e pelas rochas, a busca pelo “permanente e duradouro”, e dos desdobramentos de sua abertura infinita ao mundo planetário e ao mundo interior da vida cósmica, até vislumbrar o mistério que habita o sentido do Todo.
           
            Nesse itinerário da comunhão com Deus através do cosmos, ou de ir ao céu mediante o cumprimento da terra, Teilhard reservou um lugar especial ao Cristo. É nele que o místico francês vislumbra a possibilidade efetiva de dar consistência, coração e  rosto ao Mundo celebrado[9]. Não se trata, porém, de “sobrepor Cristo ao Mundo, mas de ´pancristizar`o Universo”[10]. Enquanto o cosmos em evolução faculta uma outra dimensão ao cristico, o crístico, por sua vez, “intensifica ao máximo a potência energética e unificante do cósmico”[11].

As etapas de sua vida

            Teilhard de Chardin nasceu em maio de 1881, no pequeno vilarejo de Sarcenet, na região francesa de Puy-de-Dôme. Seus pais tiveram onze filhos, sendo ele o quarto da numerosa família. Seu pai, Emmanuel Teilhard de Chardin, era um agricultor erudito, muito interessado na observação da natureza. Foi dele que Pierre herdou seu amor pelas pedras, plantas e animais. De sua mãe, Berthe-Adèle de Dompierre d´Hornoy, herdou a centelha da corrente mística cristã, e a dinâmica de sua animação.

A vida de Teilhard pode ser dividida em quatro etapas ou fases. A primeira traduz os anos de sua formação, marcadamente tradicional. Passa pela formação jesuíta no colégio de Mongré, entrando em seguida na Companhia de Jesus (1899), vindo a ordenar-se sacerdote em agosto de 1911. Podem-se perceber vivos traços da espiritualidade jesuítica na cosmovisão de Teilhard, de modo particular a percepção da presença e diafania de Deus no mundo[12]. A segunda fase cobre sua experiência na guerra, podendo situar-se entre os anos de 1914 e 1918. Foram anos fecundos para o seu amadurecimento pessoal, e ali nasceram suas primeiras intuições, firmando-se as bases de sua reflexão futura. Nesse período, ele “entra na plena maturidade. Na frente de combate, sob as asas da morte, longe das conversações da vida de todos os dias, na solidão das noites de sentinela ou, nos intervalos de repouso, um pouco na retaguarda da linhas de batalha, ele reflete, reza e, perscrutando o futuro, entrega-se. A presença de Deus toma posse dele”[13]. Uma terceira fase cobre os “anos parisienses” e as expedições subsequentes, iniciando-se entre os anos de 1919 e 1923 e prorrogando até a Segunda Guerra Mundial. É o período de sua formação científica em Paris, nos campos da paleontologia e da geologia. Ali defende sua tese doutoral em ciência, no ano de 1922,  sendo também convidado a lecionar geologia no Instituto Católico de Paris. Nesse momento surgem os primeiros conflitos com as autoridades da Igreja católica e da Companhia de Jesus, que não estavam preparadas para acolher a novidade de seu pensamento. Por decisão de seus superiores é enviado à China, para lá dar continuidade às suas pesquisas científicas. A primeira viagem ocorreu em 1923, sendo precursora de outras tantas. Vai, praticamente, fixar residência na China até 1945[14]. A China torna-se para Teilhard uma “segunda pátria”, e ali desenvolve não só suas reflexões científicas, mas também espirituais e teológicas, quando então acontece “o pleno amadurecimento de suas idéias”[15]. O próprio Teilhard dirá a respeito: “Provo pela China, meu país adotivo, um grande reconhecimento. A China foi a sorte da minha vida. Contribuiu com a sua imensidão e a enormidade de suas dimensões, para ampliar o meu pensamento e elevá-lo à escala planetária”[16]. A última fase de sua vida cobre o período que vai do final da Segunda Guerra, 1945, até sua morte, ocorrida em Nova York, em 1955. É uma fase marcada por grande fecundidade intelectual, mas também pontuada por muitas tensões e sofrimentos, motivados pela resistência e oposição às suas idéias.

Os conflitos com a Igreja

            As maiores dificuldades enfrentadas por Teilhard com as autoridades da Igreja e de sua ordem ocorreram em razão de suas produções espirituais e teológicas. Os primeiros conflito acontecem nos anos de 1925 e 1926. Nesse período será destituído de sua cátedra no Instituto Católico de Paris[17] e enviado para o seu primeiro “exílio” na China. Lamenta em carta a seu amigo, Père Valensin, em dezembro de 1926, a visão restrita da Igreja católica, incapaz de a seu ver abraçar o dinamismo do mundo. Sente-se como um “estrangeiro” face à literalidade das crenças, preocupações e métodos vigentes na Igreja e na Companhia de Jesus, e “sufocado” na atmosfera “católica” do período. Sublinha também sua percepção de uma enorme desproporção entre as perspectivas católicas de então com as possibilidades religiosas do mundo. E desabafa com o amigo: “Oh! como amaria poder encontrar santo Inácio ou Francisco de Assis, presenças que nosso tempo tanto necessita. Seguir um homem de Deus num caminho livre e refrescante, impelido pela plenitude da seiva religiosa de seu tempo, que sonho!”[18]. No ano seguinte, em carta a Léontine Zanta, questiona o integrismo vigente na Igreja católica, identificando-o como um caminho simples e cômodo para driblar os desafios do tempo, excluindo do reino de Deus “as enormes potencialidades que se agitam por toda a parte”. Com sua veia crítica, adverte: “Não há dúvida de que por vezes se tem a impressão de que as nossas igrejinhas nos escondem a Terra”[19]. As dificuldades, iniciadas em 1925, balizarão de forma quase ininterrupta toda a sua existência. Passou por períodos fortes de angústia, e mesmo por crises de “antieclesiasticismo”, superados pela vitalidade de sua fé no Espírito, que é o “organizador vivo e amoroso do Mundo”[20]. Como assinalou Henri de Lubac, o segredo da resistência de Teilhard estava na sua vida espiritual: “Fortalecido por esta fidelidade, jamais se deixava abater, porque tinha consciência de trabalhar, não para si, nem para uma causa simplesmente humana, mas para Deus”[21].

            Nova onda de dificuldades, ainda mais duras, aconteceram a partir de 1948, quando por ordem de seu provincial, a pedido do Geral dos Jesuítas, Teilhard vem aconselhado a restringir suas publicações aos temas puramente científicos. Vem igualmente persuadido pelos superiores da América a não dar conferências ali. O clima é tenso[22]. Na verdade, nenhuma obra de cunho espiritual ou teológico conseguiu autorização de publicação quando Teilhard estava ainda vivo. Todas foram publicadas postumamente. Já frágil de saúde, depois de um infarto sofrido em junho de 1947, Teilhard vai viver momentos pesados de ansiedade e sofrimento com toda a situação que o envolvia[23].

 Ataques à reflexão de Teilhard ocorrem no período, já antecipando o clima de cerceamento que ocorrerá por ocasião da publicação da encíclica Humani Generis, de Pio XII (1950). Pode-se registrar, sobretudo, os posicionamentos críticos do dominicano Garrigou-Lagrange, que buscou vincular o pensamento de Teilhard à Nova Teologia francesa[24]. Em carta ao amigo Max Bégouen, de agosto de 1950, comentando sobre os teólogos integristas, Teilhard reage: “Eles nos impedem de adorar e amar plenamente; eles querem impedir Deus de engrandecer aos nossos olhos”[25]. Após a publicação da Humani Generis, um  novo exílio impõe-se ao místico francês, desta vez em Nova York, onde permanecerá até o fim de seus dias, em 1955.

As dificuldades com a obra de Teilhard e, sobretudo, com a difusão de seu pensamento, não se encerraram com a sua morte. Há que recordar que o início da publicação das obras de Teilhard ocorreu após sua morte, com a edição dos treze volumes, entre os anos de 1955 e 1976[26]. Dentre seus principais trabalhos, o Fenômeno Humano, escrito entre 1938-1940, só veio publicado em 1955 e o Meio Divino, escrito entre 1926-1927, só vem editado em 1957. Na sequência das primeiras publicações dessas obras, aparecem as resistências no mundo acadêmico e magisterial. Em 1959, um grupo de teólogos da Pontifícia Academia Teológica Romana, esboça uma primeira reação em publicação sobre o sistema que envolve a reflexão de Teilhard[27]. Em junho de 1962 vem o posicionamento do Vaticano, com o Monitum do Santo Ofício sobre a obra de Teilhard de Chardin. Em reação à publicação póstuma das obras de Teilhard, o documento do Santo Ofício chama a atenção para as “ambigüidades” e “erros graves” que acompanham a reflexão do pensador francês, e que estariam em contradição com a doutrina católica. O texto adverte ainda aos bispos, aos superiores de institutos religiosos, superiores de seminários e reitores universitários sobre a necessidade de protegerem seus fiéis, sobretudo os mais jovens, dos “perigos que apresentam as obras do P. Teilhard de Chardin e de seus discípulos”. O Monitum, publicado no jornal L´Osservatore Romano, no início de julho de 1962, veio seguido de um comentário anônimo, onde são tecidas algumas críticas ao pensamento de Teilhard, particularmente aos desdobramentos filosóficos e teológicos de sua reflexão científica. O texto chama a atenção para alguns riscos presentes na reflexão de Teilhard, em torno de temas como a criação; a relação entre cosmos e Deus; a questão do Cristo; da criação, encarnação e redenção; do espírito e da matéria; do pecado; do lugar do mundo. Dentre as preocupações apontadas, destacam-se o lugar insuficientemente expresso concedido à transcendência divina na lógica teilhardiana e a falta de clareza com respeito à distinção entre ordem natural e ordem sobrenatural. Mesmo reconhecendo a intensidade da vida espiritual de Teilhard no plano de sua vida privada, o texto indica que o sistema teilhardiano inclina-se para uma naturalização da ordem sobrenatural. Aponta-se, mais ao final do comentário, que em numerosos pontos dos escritos de Teilhard verifica-se uma oposição com a doutrina católica[28]

Novas críticas ao pensamento de Teilhard aparecem na primeira metade dos anos 1960, traduzindo o complexo clima que preparou o advento do Concílio Vaticano II. Dentre os estudos publicados na ocasião podem-se mencionar os artigos de Claude Tresmontant (1962), de Charles Journet (1962) e Etienne Gilson (1965)[29]. Segue-se no pós-concílio o livro de Jacques Maritain, Le paysan de la Garonne (O camponês do Garona), onde tece duras críticas ao que denomina teilhardismo, ou seja, a problemática circulação de idéias que envolvem o pensamento de Teilhard[30]. Mas há que considerar o outro lado da medalha, ou seja, a linha de reflexão que vai num sentido distinto dessa visão crítica a Teilhard, e que recupera a complexidade e riqueza de seu pensamento filosófico e teológico. Podem aqui ser elencadas as obras de Claude Cuénot (1958), Madeleine Barthélemy-Madaule (1962), Henri de Lubac (1962 e 1964) Émile Rideau (1965) e Pierre Smulders (1964)[31].

A pesada atmosfera eclesiástica que acompanhou os desdobramentos da encíclica Humani Generis (1950), com toda a repercussão no abafamento da reflexão teológica[32], vem transformada com a primavera do Concílio Vaticano II (1962-1965). O Concílio vem “dilatar os espaços da caridade”, para utilizar uma bela expressão do papa João XXIII. Embora Maritain tenha afirmado que o evento conciliar tenha ignorado o esforço em favor de um “melhor cristianismo”, como o defendido por Teilhard, não há como negar o influxo do místico francês na espiritualidade e teologia do Vaticano II. É o que mostra com acerto Rosino Gibellini em sua reflexão. O Concílio aciona novamente na agenda da Igreja católica as “forças de renovação” e esse movimento tem, certamente, um influxo de Teilhard:

A reflexão de Teilhard de Chardin, cujas obras começaram a ser publicadas postumamente a partir de 1955, influenciaram na espiritualidade e teologia do concílio, sobretudo na complexa temática das relações entre igreja e mundo; e sucessivamente na teologia do pós-concílio, onde se tornará agudo o problema da relação entre salvação cristã e história humana[33].

A diafania de Deus no Universo

            Levando-se em conta a nova sensibilidade que marca esse início de milênio, e todos os desafios que tocam a dinâmica do tempo atual, nada mais pertinente do que retomar a riqueza da mística de Teilhard de Chardin, em toda a sua densidade e tessitura. Ela merece ser descoberta, como apontou com razão Edith de la Heronnière. Toda a sua obra e vida traduzem “um hino ao mundo, uma poética da criação e das criaturas vibrantes de emoção”[34]. Não há dúvida de que Teilhard foi um dos grandes místicos do século XX. Um místico singular, profundamente sintonizado com a “ressonância do Todo”, com a perscrutação do Real, com a vibração do Tempo. Para ele, toda a dinâmica vital da matéria era caminho para a percepção da Grande Presença. Em seu belo texto em que aborda a missa sobre o mundo, convoca a atenção de todos para a irradiação universal dessa Presença, que é mistério que sempre advém. Na distância das estepes da Ásia, na ausência do pão e do vinho para celebrar a eucaristia, oferece ao Pai “o trabalho e a fadiga do Mundo”. O seu cálice e sua patena “são as profundezas de uma alma largamente aberta a todas as forças que, num instante, vão se elevar de todos os pontos do Globo e convergir para o Espírito”[35]. Ali em Ordos revela com um lirismo que é único sua “simpatia irresistível por tudo aquilo que se move na matéria obscura”. É com a “seiva do mundo”, e a fragrância que o envolve, que capta a Presença do Espírito, e sobe “vestido com esplendor concreto do Universo”[36]. O seu olhar é o de alguém que busca um “Deus paupável”, que é também gratuita Fantasia; um Deus que é força ardente, e se revela a cada momento na simplicidade das coisas.

            Henri de Lubac soube reconhecer com grandeza a riqueza do vigor místico de Teilhard[37] e a peculiaridade da linguagem que envolve a sua reflexão, que enquanto mística é paradoxal e “excessiva”, mas guarda o segredo de quem toca o Mistério do Real. Alguns resistem à sua ousadia, pois sentem-se balançados na sua auto-compreensão, e temem perder o chão sob os pés. Mas para quem sabe Ver, o caminho que ele abre é singular e novidadeiro.

                 Teilhard é alguém que “sente apaixonadamente com seu tempo”. O desafio essencial que lança com sua vida e seus trabalhos é o de saber captar a presença de Deus em toda parte, de “vê-lo no mais secreto, no mais consistente, no mais definitivo do mundo”. Como bem sintetizou De Lubac, “ao cristão que sabe ver, não há nada no mundo que não mostre Deus”[38]. O que se exige de todos é uma educação do olhar, de forma a vislumbrar a diafania de Deus, sua “universal transparência” na criação e na história. O ser humano, como mostra Teilhard em diversos momentos de sua reflexão, já está sempre inserido no Meio Divino. O que é necessário, é dar-se conta disso, abrir os olhos para perceber essa sua imersão permanente no Mistério do Todo[39]. Em carta de abril de 1923, Teilhard sublinha que os vértices habitados por Deus não se encontram numa montanha inacessível, mas numa “esfera mais profunda das coisas”. E conclui dizendo que “o segredo do mundo está em toda parte onde conseguimos captar a transparência do Universo”[40]. Essa percepção da “immédiateté” do Mistério em toda parte, traduz uma visão profunda do Deus criador. Longe de ser uma visão problemática, revela uma percepção que conquistou cidadania no pensamento teológico atual, como bem mostrou Henrique Cláudio de Lima Vaz. Trata-se de uma “visão profundamente tradicional, integralmente ortodoxa: nela se verificam maravilhosamente as características da mística cristã enumerada por um grande teólogo contemporâneo, uma das luzes, convém lembrá-lo, do Vaticano II”[41].

            O amor ao tempo e à terra são vinculantes na reflexão mística de Teilhard. Se no passado havia uma dicotomia que separava o amor ao céu e o amor à terra, como se fossem possibilidades excludentes, abre-se agora um caminho novo: “ir ao céu através da terra”. Trata-se de uma nova comunhão com Deus através do Mundo. Em carta a Léontine Zanta, de outubro de 1926, assinala Teilhard:

Parece que a humanidade não voltará a apaixonar-se por Deus antes que Este lhe seja mostrado no termo de um movimento que prolongue o nosso culto pelo Real concreto, em vez de a ele nos arrancar. Ah!, como o Real seria formidavelmente poderoso para nos arrebatar ao nosso egoísmo, se soubéssemos olhá-lo na sua prodigiosa grandeza![42].

Na visão teilhardiana, Deus é sempre um Mistério que advém, uma surpresa permanente. Deus está sempre em processo de mudança. Não apenas um Deus do alto, mas um Deus à frente. A descoberta desse Deus Mistério convoca a uma fé transformadora, que combina uma dinâmica ascensional, em direção ao Mistério sempre transcendente, com uma dinâmica propulsiva de imersão no imanente[43].

            Um toque singular na mística de Teilhard é a presença do feminino. Ao longo de toda a sua vida, as mulheres tiveram um papel singular. Veja o lugar ocupado por amigas como Marguerite, Léontine Zanta, Ida Treat e Lucile Swan e a larga correspondência que elas entabulam com Teilhard. O traço unitivo do feminino vem destacado por Teilhard numa de suas últimas obras, O coração da matéria. Trata-se de um dos fios essenciais que, junto com os elementos cósmico, humano e crístico, entram para tecer o sistema teilhardiano. Para Teilhard, o feminino é a “luz que ilumina todo o processo de concentração universal”, entendido como “espírito de união”[44].

O Meio Divino

            Com o intuito de sinalizar um pouco mais concretamente a perspectiva mística de Teilhard de Chardin, esta última parte do texto visa apresentar de forma sintética o seu trabalho mais importante nesse campo, que é o Meio Divino. Trata-se da expressão mais viva de sua espiritualidade e um dos grandes clássicos da literatura mística cristã. Segundo Henri de Lubac, a obra não nasce de uma improvisação, mas foi “lentamente gestada em sua vida”, como lembra o próprio Teilhard, em carta de novembro de 1926[45]. Já no período em que esteve na frente de guerra, no ano de 1916, decidiu “sistematizar sua vida interior”, amadurecendo, em seguida, o projeto até sua redação final, entre o final de1926 e o início de 1927[46]. Como indica De Lubac, o livro foi escrito na “linguagem ardente de um homem que vive com intensidade a aventura de seu século”[47].

O Meio divino constitui um complemento da obra A Missa sobre o Mundo, escrita na Páscoa de 1923[48]. Respira-se nos dois livros a mesma liberdade interior, a singela abertura ao mundo e um otimismo renovado. Infelizmente, o Meio divino não recebeu autorização eclesiástica para sua publicação. Aliás, não pôde ser publicado durante sua vida. A primeira edição só vai sair em 1957 (Éditions du Seuil).

            O livro de Teilhard de Chardin vem dividido em três partes: A divinização das atividades (Parte I); A divinização das passividades (Parte II) e O Meio Divino (Parte III). Logo na epígrafe, o autor indica que o livro foi redigido para “aqueles que amam o mundo”. Lança, porém, uma advertência no início: o livro destina-se aos “inquietos de dentro e de fora” da Igreja, e não àqueles que se encontram “solidamente instalados em sua fé”. Indica que aos que escapam da angústia ou fascinação diante de um mundo demasiadamente grande ou demasiadamente belo o livro não provocará interesse[49]. O toque peculiar de otimismo e de percepção da diafania de Deus no mundo envolve toda a introdução da obra: “Este pequeno livro, onde somente se encontrará a eterna lição da Igreja, apenas repetida por um homem que sente apaixonadamente com seu tempo, gostaria de ensinar a ver Deus em toda parte: vê-lo no mais secreto, no mais consistente, no mais definitivo do mundo” (p. 13). Sua proposta vai no sentido de uma educação do olhar, que faculte aos leitores a disponibilidade para abraçar o Mundo com amor. Deus é o sempre-já-aí que “nos espera verdadeiramente nas coisas” (p. 14).

            Na abertura da primeira parte de seu livro, que trata da divinização das atividades, Teilhard assinala que a ação humana é um dos dois componentes que traduzem a realidade da vida. Reagindo à visão cristã tradicional que reforçava o desinteresse pela terra, propõe uma perspectiva mais positiva onde se concilia o “amor a Deus e o saudável amor ao mundo” (p. 19). É no âmbito da atividades que Teilhard desoculta o exercício de “edificação de algo definitivo” (p. 22), que será identificado com a “edificação do Reino celeste” (p.33). Todo esforço humano vem animado pela dinâmica de “cooperação no acabamento do mundo em Cristo” (p. 23).

            A abertura à consciência do tempo e ao canto das coisas torna-se essencial para Teilhard. Indica que “o que é necessário é ver: ver as coisas da maneira real e intensa como elas são” (p. 25). Tudo contribui para o modelamento do mundo, desde o “trabalho da alga”, a “indústria da abelha” e os esforços individuais de espiritualização. O mundo sensível está aí, irradiando e inundando toda a criação com as suas riquezas. É no campo do empenho vivo e da ação que acontece o encontro íntimo de Deus com o mundo: “Deus, naquilo que Ele tem de mais vivo e de mais encarnado, não está distante de nós, fora da esfera tangível, mas Ele nos espera a cada instante na ação, na obra do momento. Ele está, de alguma maneira, na ponta de minha caneta, de minha picareta, de meu pincel, de minha agulha, de meu coração, de meu pensamento” (p. 31-32). Não há atividade humana que escape ao domínio da “adoração”, embora se faça necessária a presença de momentos especiais e preciosos de um contato mais explícito e manifesto com o Mistério que a todos habita. Mas para aquele que “sabe ver” não há realidade profana, e todo trabalho no tempo é expressão de uma imersão em Deus (p. 33).

            Teilhard empenha-se nessa primeira parte do livro a justificar a nobre humanização do esforço cristão. Reconhece que algumas das grandes objeções presentes em seu tempo contra o cristianismo relacionam-se com sua incapacidade de sintonizar-se com a história, ou seja, um cristianismo que desloca seus praticantes “para fora e para a margem da humanidade”, ou ainda mais doloroso, um cristianismo que “torna desumanos os seus fiéis” (p. 35). Na contramão dessa perspectiva escapista, propõe uma nova atitude: “De acordo com a nossa fé, nós temos o direito e o dever de apaixonar-nos pelas coisas da Terra” (p. 37). Trata-se de um empenho que se dá em virtude da própria exigência da Encarnação: “O Deus encarnado não veio diminuir em nós a magnífica responsabilidade nem a esplêndida ambição de nos construirmos a nós mesmos” (p. 37). Não há como desconhecer aqui intuições que antecipam pistas abertas pela Gaudium et Spes do Vaticano II (1962-1965).

            A segunda parte do livro trata o tema da divinização das passividades. A existência humana, como lembrou Teilhard, não é tecida apenas pelas atividades, mas também pelas passividades, que revelam a presença profunda de uma “noite impenetrável”. Esta noite pode estar carregada de ameaças, mas pode, igualmente, revelar presenças que abrem caminhos inusitados para a transfiguração da pessoa. Há passividades que são de crescimento e outras que são de diminuição. Quanto às primeiras, há que reconhecer aí a presença escondida do acolhimento divino. Numa das passagens mais bonitas de todo o livro, Teilhard descreve o exercício de uma viagem interior, ao “recanto mais secreto” de si mesmo, no “abismo profundo” de onde emana o poder de ação (pp. 44-46). Não é uma viagem simples e tranqüila, mas pontuada pelo risco de uma descoberta perturbadora e desestabilizadora. Quando nessa viagem interior o chão começa a faltar, a tendência é querer retornar à superfície, ao “confortável ambiente das coisas familiares”, evitando “sondar imprudentemente os abismos”. O que faz vencer a “angustia essencial do átomo perdido no universo” é a viva percepção da voz evangélica, captada no mais profundo da noite: “Ego sum, noli timere” (Sou eu, não tenhas medo”).

            Há, porém, passividades que são de diminuição e que revelam traços difíceis e negativos da própria existência: aqueles “em que nosso olhar, por mais longe que o procure, não discerne mais qualquer resultado feliz, qualquer termo sólido ao que nos acontece” (p. 48). São inúmeras as potências de diminuição, algumas são de origem externa, como as “más sortes” que acometem as pessoas: as infecções, os acidentes e incidentes nas suas diversas modalidades. Outras são de origem interna, que já se apresentam no início da vida, como os defeitos naturais ou incapacidades físicas, intelectuais ou morais, ou que se manifestam mais tarde, como os acidentes e doenças. Segundo Teilhard, são processos de “desorganização” que se instalam duramente no coração da existência e diminuem a temperatura vital. São formas, às vezes violentas, que enfraquecem ou mesmo matam a energia do viver. Há passividades que são inevitáveis, que acompanham o avançar da idade, que marcam a velhice. Elas “arrancam-nos de nós mesmos para nos empurrar para o fim” (p. 50). No horizonte da consumação de todas as  diminuições está a morte, esta “indesejada das gentes”, como diz o poeta Manoel Bandeira. Teilhard lança, porém, um desafio que brota do mais íntimo da fé cristã: “Superemos a morte, descobrindo Deus nela. E o Divino encontrar-se-á, ao mesmo tempo, instalado no coração de nós mesmos, no último recanto que parecia poder escapar dele” (p. 51). Trata-se de levar adiante o processo de transfiguração das diminuições, que se opera em dois tempos, mediante a luta contra o mal e a dinâmica de sua reconfiguração.

            Apesar da envolvente realidade do mal, que circunscreve a vida e ameaça sua realização, há que repelí-lo com todas as forças e Deus assim o quer (pp. 52 e 60). Na medida em que se aparta o sofrimento com toda a energia do coração, “tanto mais aderimos, então, ao coração e à ação de Deus” (p. 53). Conforme sublinha Teilhard, não há como escapar ao envelhecimento e à morte, nem driblar totalmente o problema do mal, que é “um dos mistérios mais perturbadores do universo”, mas é possível, sim, transfigurar essa “derrota” integrando-a num plano positivo. Teilhard serve-se de uma rica analogia, tomada do mundo das artes: “Semelhante a um artista que saberia aproveitar-se de um defeito ou de uma impureza para tirar da pedra que ele esculpe, ou do bronze que ele funde, as linhas mais delicadas ou um som mais belo, Deus, visto que nós nos confiamos amorosamente a Ele, sem descartar de nós as mortes parciais nem a morte final, que fazem essencialmente parte de nossa vida, as transfigura, integrando-as em um plano melhor” (p. 55).

            Em passagem que se assemelha a uma oração, Teilhard aponta o caminho da comunhão pela diminuição. Quando tudo aponta na direção da vitória do desencanto ou do sofrimento, sobretudo nos momentos de solidão da velhice ou da doença, quando o sujeito sente que escapa de si mesmo, absolutamente passivo e “tristemente diminuído”, é possível para aquele que crê identificar a Presença de Deus, que abre dolorosamente as fibras do ser para aí penetrar com vigor e realizar o espetáculo da comunhão (p. 59). Há situações ainda mais difíceis, como as que acompanham a morte antes do tempo, mediante “desaparecimentos prematuros, acidentes estúpidos, enfraquecimentos que atingem as áreas mais altas do ser”. São experiências que obscurecem qualquer horizonte. Mesmo nesses casos é possível realizar uma transfiguração. Diz Teilhard que “Deus deve, de alguma maneira, a fim de penetrar definitivamente em nós, cavar-nos, esvaziar-nos, fazer para si um lugar. Ele precisa, para assimilar-nos nele, retocar-nos, refundir-nos, quebrar as moléculas de nosso ser. A morte é encarregada de praticar, até o fundo de nós mesmos, esta abertura desejada” (p. 58). Teilhard serve-se da história de santos ou de personagens singulares para exemplificar testemunhos vivos de transfiguração do sofrimento, ou seja, de pessoas que saíram renovadas ou engrandecidas das difíceis provações por que passaram (p. 56). A poeta brasileira, Lya Luft, fala das “mulheres ensolaradas”, cuja “luminosidade se espalha por toda parte. Mesmo abaladas por alguma fatalidade, ainda que lhes falte o que para tantas sobra em beleza ou luxo, tem em si uma espécie de obstinado sol que se desprende delas como um perfume”[50].

            Na terceira parte do livro, Teilhard trata o tema do Meio Divino. Não há como escapar das “camadas ardentes” desse Meio Divino que transparece por todo canto: “Em toda parte e ao redor de nós, à esquerda e à direita, por trás e pela frente, por cima e por baixo, bastou ultrapassarmos um pouco a área das aparências sensíveis para vermos surgir e transparecer o Divino” (p. 83). Ele encontra-se, por um lado, radicalmente “próximo e tangivel", mas escapa simultaneamente à apreensão. Ele se faz presente no mais íntimo do humano e no mais consistente da Matéria. É realmente o Centro ou Ponto último de convergência de todas as realidades. Para Teilhard, “no Meio Divino, todos os elementos do universo se tocam por aquilo que eles têm de mais interior e de mais definitivo” (p. 86). A sintonia com esse Centro não ocasiona um afastamento das coisas, pois com a animação de sua visada elas ganham um brilho particular: “Um dia, lá reencontraremos a essência e o brilho de todas as flores e das luzes que tivermos que abandonar para sermos fiéis à vida” (p. 86). A comunhão com o Divino não apaga também a singularidade das diferenças. Daí ser equivocado identificar o pensamento de Teilhard como panteísta. O seu pensamento resguarda a aspiração essencial que anima toda mística autêntica: “unir-se (isto é, tornar-se o Outro), permanecendo si-mesmo” (p. 88).

            Para Teilhard, essa imagem da “transparência de Deus no universo” é o que anima o mistério do cristianismo (p. 105). Trata-se de uma percepção que brota naturalmente da viagem que leva o sujeito ao centro de si mesmo. Sentindo-se invadido pelo Meio Divino ele sabe e pressente que esse mistério ardente está em toda parte convidando-o a um novo modo de ser. E para essa concentração amorosa no Divino concorrem três fundamentais virtudes: a pureza, a fé e a fidelidade (p. 107). A pureza traduz o élan do amor de Deus na própria vida. A fé traduz a confiança essencial na força misericordiosa e beneficiente de Deus. E deve ser mais viva e vigorosa quanto mais a realidade anuncia-se ameaçadora e irredutível. A fidelidade, por fim, é o que mantém acesa a crença e a esperança na positividade do mundo. Segundo Teilhard, acreditando no mundo com pureza de coração, “o mundo abrirá diante de nós os braços de Deus” (p. 113).

            O Meio Divino não é para Teilhard um “lugar fixo no Universo”, mas um “centro móvel”, semelhante à estrela que guiou os reis magos na adoração do Deus menino. E aqui Teilhard sugere uma linda imagem de Deus, bem diverso de uma realidade já  acabada: “Ele é para nós a eterna descoberta e o eterno crescimento. Quanto mais cremos compreendê-lo, mais Ele se revela outro. Quanto mais pensamos possuí-lo, mais Ele recua, atraindo-nos para as profundezas de si mesmo” (p. 115). Esse astro ardente conduz os seres humanos ao destino de formas diversificadas, mas “todas as pistas que ele indica têm em comum que elas fazem subir sempre mais alto” (p. 115).

            Teilhard de Chardin brinda aos leitores uma das mais preciosas peças da mística cristã, e uma das mais singulares da literatura mística universal. Não encontrou a compreensão necessária em seu tempo, talvez pela incapacidade dos censores perceberem a riqueza e singularidade de seu conteúdo. É uma obra que guarda as riquezas de uma experiência de amor. Vale aqui a advertência feita por um dos grandes místicos da tradição mística persa, Farid ud-din Attar, “os filhos da ilusão naufragaram na música dos meus versos, mas os filhos da Realidade souberam penetrar nos meus segredos mais íntimos”.

Conclusão

            O que mais impressiona e encanta em Teilhard de Chardin é a sua apaixonada abertura ao mundo e sua capacidade de ver a presença de Deus em todo canto. Ao tratar o tema da potência espiritual da matéria, sublinhou que “para compreender o Mundo, o saber não basta; é preciso ver, tocar, viver na presença, beber a existência quente no próprio seio da Realidade”[51]. Sua obra é um convite à imersão no Real, ao mergulho na matéria, em cuja força e potência revela-se a face amorosa de Deus. Sofreu, e muito, por viver essa opção em entrega e radicalidade, mas deixou rastros que estão dando muitos frutos em nosso tempo. Viveu uma dor que é semelhante à de Simone Weil, que lamentava a dificuldade da Igreja católica abraçar com gratuidade o mundo e suas belezas: como poderia o cristianismo nomear-se católico se era incapaz de envolver o universo em seu projeto? Assim também Teilhard de Chardin, com a sua sede de matéria e sua sensibilidade universal, lamentava a imensa desproporção entre a recolhida perspectiva católica e as imensas possibilidades religiosas do mundo. Ele deixa um sólido legado, de otimismo, sensibilidade e abertura ao tempo. É bonito reconhecer, como o fez Henri de Lubac em 1962, num período ainda sombrio para Teilhard, mas que já anunciava a primavera conciliar, que ele foi um “autêntico testemunho de Jesus Cristo”, tão fundamental e imprescindível para o século XX[52].

(Publicado no livro: Faustino Teixeira (Org).  Caminhos da Mística. São Paulo: Paulinas, 2012)


           

           

           

           

           
           




[1] Pierre Teilhard de Chardin. Accomplir l´homme. Lettres inédites (1926-1952). Paris: Bernard Grasset, 1968, p. 74.
[2] Pierre Teilhard de Chardin. Cartas a Léontine Zanta. Herder: Lisboa, 1967, p. 103.
[3] Henri de Lubac. A oração de Teilhard de Chardin. São Paulo: Duas Cidades, 1965, p. 16.
[4] Pierre Teilhard de Chardin. Cartas a Léontine Zanta, p. 137. E também: Id. Lettres intimes de Teilhard de Chardin. Paris: Aubier Montaigne, 1972, pp. 143 e 187 (cartas a Auguste Valensin).
[5] Henrique Cláudio de Lima Vaz. Universo científico e visão cristã em Teilhard de Chardin. Petrópolis: Vozes, 1967, p. 56.
[6] Ibidem, p. 57.
[7] Pierre Teilhard de Chardin. Lettres de voyage (1923-1955). Paris: Bernard Grasset, 1956, pp. 87-88.
[8] Pierre Teilhard de Chardin. Il cuore della materia. 3 ed. Brescia: Queriniana, 2007, pp. 11-12 (A edição original francesa é de 1976)
[9] Pierre Teilhard de Chardin. Lettres intimes de Teilhard de Chardin, p. 182.
[10] Pierre Teilhard de Chardin. Cartas a Léontine Zanta, p. 141.
[11] Edith de la Heronnière. Teilhard de Chardin. Una mistica della traversata. Genova: L´hippocampo, 2005, p. 301.
[12] Henrique Cláudio de Lima Vaz. Universo científico e visão cristã em Teilhard de Chardin, p. 52.
[13] Henri de Lubac. A oração de Teilhard de Chardin, p. 25.
[14] Serão quase vinte anos de permanência na China, entre os anos de 1923 e 1946, intercalados com expedições e viagens aos Estados Unidos e França, sendo o período mais duradouro entre os anos de 1939 a 1946. Veja a respeito: Patrice Boudignon. Pierre Teilhard de Chardin. Sa vie, son ouvre, sa réflexion. Paris: Cerf, 2008, pp. 105 e 138. Ver ainda: Pierre Teilhard de Chardin. La mia fede. Scritti teologici. Brescia: Queriniana, 1993, p. 7 (Introdução de Rosino Gibellini).
[15] Henrique Cláudio de Lima Vaz. Universo científico e visão cristã em Teilhard de Chardin, p. 36.
[16] Apud Edith de la Heronnière. Teilhard de Chardin. Una mistica della traversata. Genova: L´ippocampo, 2005, p. 232.
[17] Na origem desse afastamento estaria a divulgação de algumas notas de Teilhard a respeito do pecado original, redigidas confidencialmente, onde buscava uma conciliação entre os dados da dogmática católica com a visão evolucionista moderna. Ver a respeito: Pierre Teilhard de Chardin. La mia fede, p. 7 (introdução de R.Gibellini).
[18] Pierre Teilhard de Chardin. Lettres intimes de Teilhard de Chardin, p. 144 (carta a Père Valensin, de 31 de dezembro de 1926).
[19] Pierre Teilhard de Chardin. Cartas a Léontine Zanta, p. 99 (carta de 7 de maio de 1927).
[20] Ibidem, pp. 45, 113, 101 e 108. Curiosamente, tinha escrito para a mesma amiga, em agosto de 1922: “Penso que, como no Evangelho, as águas revoltas nos conduzem na medida em que ousamos caminhar sobre elas, contanto que seja na direção e no amor de Deus”: Apud Henri de Lubac. A oração de Teilhard de Chardin, p. 108. Sinaliza em carta ao amigo Père Valensin, em abril de 1929, que a fase anticristã, que tinha acabado de atravessar transformara-se numa “atitude mais larga e mais calma”, e sabia agora da importância da síntese fundamental entre o amor do Mundo e o amor da Igreja, e que seria destrutivo para a sua dinâmica vital sacrificar qualquer um desses dois amores: Lettres intimes, p. 187.
[21] Henri de Lubac. A oração de Teilhard de Chardin, p. 107.
[22] Pierre Teilhard de Chardin. Accomplir l´homme, pp. 237-239 (carta de de 08 de fevereiro de 1949). Ele lamenta toda essa situação e acrescenta: “O cristianismo é alguma coisa bem maior que tais mesquinharias”: Ibidem, p. 239. Ver ainda: Hans Küng. Existe Dios? 4 ed. Madrid: Cristiandad, 1979, pp. 248-249.
[23] Henri de Lubac. A oração de Teilhard de Chardin, p. 109; Pierre Teilhard de Chardin. Lettres intimes de Teilhard de Chardin, p. 401; Edith de la Heronnière. Teilhard de Chardin. Una mistica della traversata, pp. 255,258-259.
[24] De modo particular, no artigo publicado na revista Angelicum (v.23, n. 314, de 1946), intitulado: “La nouvelle théologie: où va-t-elle ?”. Ver a respeito: Pierre Teilhard de Chardin. Lettres intimes de Teilhard de Chardin, p. 349 e Patrice Boudignon. Pierre Teilhard de Chardin, p. 285. Embora Teilhard tenha sido um outsider da teologia, esteve sempre próximo dos teólogos de Fourvière e do grupo ligado à revista Études.
[25] Pierre Teilhard de Chardin. Lettres intimes de Teilhard de Chardin, p. 351. Escreve ainda em setembro de 1952: “O que me faz sofrer, no fim das contas, não é tanto sentir-me sufocar no cristianismo, mas que o cristianismo esteja momentaneamente sufocado nas mãos daqueles que oficialmente o detêm”: Apud Edith de la Héronnière. Teilhard de Chardin. Una mistica della traversata, p. 300.
[26] Para maiores detalhes ver: Rosino Gibellini. Teilhard de Chardin. L´opera e le interpretazioni. 4 ed. Brescia: Queriniana, 2005, pp. 9-89. Para uma síntese cronológica de seus escritos cf. Fabio Montovani. Dizionario delle opere di Teilhard de Chardin. Verona: Gabrielli Editori, 2006.
[27] Publicado em Divinitas 2 (1959): 219-364. Entre os teólogos que escreveram: N.L. Guérard des Lauriers, R.Masi, Philippe de la Trinité, Ch.Journet e M.Alessandri. Ver a respeito: Rosino Gibellini. Teilhard de Chardin. L´opera e le interpretazioni, pp. 153-160.
[28] Monitum du Saint-Office. La Documentation Catholique, v. 44, n. 1380, 15 juillet 1962, pp. 950-956 (a publicação traz o conteúdo do Monitum e o comentário anônimo anexo). O comentário anexo faz menção à obra de Henri de Lubac sobre o pensamento religioso de Teilhard, considerando-a o “estudo mais importante” publicado até então sobre o tema, mas o autor expressa sua dificuldade em subscrever a posição de De Lubac, dados os “pontos de desacordo” com a doutrina católica. Em passagem reveladora de  seu diário do concílio, Henri de Lubac assinala que se dizia nos jornais de 29 de setembro de 1962 que o seu nome estava sendo cotado para perito do Vaticano II, e isto como expressão do descontentamento de João XXIII com respeito ao Monitum do Santo Ofício sobre Teilhard de Chardin e do artigo “anônimo”, em que se fazia oposição ao seu livro sobre o pensamento religioso de Teilhard: Henri de Lubac. Carnets du Concile I. Paris: Cerf, 2007, p. 89.
[29] Claude Tresmontant. O P. Teilhard de Chardin e a teologia. Lettre, n. 49-50, 1962; Charles Journet. Pierre Teilhard de Chardin pensador religioso. Nova et Vetera, out.dez., 1962; Etienne Gilson. O caso Teilhard de Chardin. Seminarium, n. 4, 1965.
[30] Na avaliação de Maritain, a “gnose teilhardista e a sua espectativa de um metacristianismo receberam do Concílio um golpe bastante duro”: Jacques Maritain. O camponês do Garona. Lisboa: União Gráfica Lisboa, 1967, p. 154. Sobre Teilhard ver ainda: Id. pp. 145-156 e 317-321 (em torno dos estudos de Tresmontant e Charles Journet sobre Teilhard). Para uma serena e pertinente crítica à visão de Maritain sobre Teilhard cf. Henrique Cláudio de Lima Vaz. Universo científico e visão cristã em Teilhard de Chardin, pp. 20-31.
[31] Claude Cuénot. Pierre Teilhard de Chardin. Les grandes étapes de son evolution. Paris: Plon, 1958; Madeleine Barthélemy-Madaule. Bergson e Teilhard. Paris: Seuil, 1962; Henri de Lubac. La pensée religieuse du Père Teilhard de Chardin. Paris: Aubier, 1962; Id. La prière du Père Teilhard de Chardin. Paris: Fayard, 1964;  Émile Rideau. La pensée du Père Teilhard de Chardin. Paris: Seuil, 1965; Pierre Smulders. La vision de Teilhard de Chardin. Bruges: Desclée de Brouwer, 1964.
[32] Como sublinhou Chenu, grande teólogo e perito do Concílio Vaticano II, a Humani Generis fecha as portas para o dinamismo de esperança que animava a reflexão teológico-pastoral no final dos anos 1940 e faz com que a atmosfera torne-se “irrespirável”: Un théologien en liberté. Jacques Duquesne interroge le Père Chenu. Paris: Le Centurion, 1975, pp. 130-131. Para Teilhard, a encíclica revela-se bem fundamentalista. Cf. Accomplir l´homme, p. 262.
[33] Pierre Teilhard de Chardin. La mia fede, p. 11 (introdução de Rosino Gibellini).
[34] Edith de la Héronnière. Teilhard de Chardin. Una mistica della traversata, p. 310.
[35] Teilhard de Chardin. Hino do universo. São Paulo: Paulus, 1994, p. 19. A edição original francesa é de 1961, embora sua redação tenha ocorrido em 1924, quando Teilhard encontrava-se em expedição no deserto da Mongólia (Ordos).
[36] Ibidem, pp. 21 e 29
[37] Henri de Lubac. La pensée religieuse du Père Teilhard de Chardin, pp. 119-121.
[38] Ibidem, p. 38.
[39] Veja a reflexão do teólogo Andrés Torres Queiruga a respeito: Creio em Deus Pai. São Paulo: Paulinas, 1993, pp. 175-181.
[40] Pierre Teilhard de Chardin. Lettres de voyage (1923-1955). Paris: Bernard Grasset, 1956, p. 26.
[41] Henrique Cláudio de Lima Vaz. Universo científico e visão cristã em Teilhard de Chardin, p. 25. O teólogo a que Vaz faz referência é Karl Rahner. Essa visão de Teilhard enfrentará dificuldades na ocasião, dentre as quais as expressas pelo teólogo suíço, Hans Urs Von Balthasar, em texto de 1963. Para ele, trata-se de uma visão que acaba encerrando Deus na dinâmica da cosmogênese e da evolução, apagando o mistério do Deus totalmente Outro. Ver a respeito: Rosino Gibellini. Teilhard de Chardin, pp. 192-197.
[42] Pierre Teilhard de Chardin. Cartas a Léontine Zanta, p. 91. Ao tratar o tema da potência espiritual da materia, em sua obra, Hino do Universo, Teilhard assinala: “Não, a pureza não está na separação, mas numa penetração mais profunda do Universo” (p. 68).
[43] Teilhard de Chardin. Il cuore della materia, pp.43-44.
[44] Teilhard de Chardin. Accomplir l´homme, pp. 258-259.
[45] Pierre Teilhard de Chardin. Lettres de voyage, p. 98.
[46] Henri de Lubac. La pensée religieuse du Père Teilhard de Chardin, pp. 23-24. De Lubac, assinala em outra obra, A oração de Teilhard de Chardin, que o livro Meio Divino “foi longamente rezado antes de ser escrito”, e que para ser melhor compreendida deveria ser lido de joelhos (p. 153).
[47] Henri de Lubac. La pensée religieuse du Père Teilhard de Chardin, p. 30.
[48] Sua edição ocorreu em 1961, inserida no volume intitulado: Himne de l`Univers (Paris: Seuil, pp. 13-37).
[49] Teilhard de Chardin. Le milieu divin. Paris: Seuil, 1957. Utilizaremos aqui a recente edição brasileira, O meio divino. Petrópolis: Vozes, 2010, p. 12. As outras referências de páginas serão indicadas no corpo mesmo do texto.
[50] Lya LUFT. O rio do meio. 10 ed. São Paulo: Mandarim, 1982, p. 59.
[51] Teilhard de Chardin. Hino do universo, p. 68.
[52] Henri de Lubac. La pensée religieuse du Père Teilhard de Chardin, p. 295.

3 comentários:

  1. Amei o texto!!!
    Estou seguindo seu blog!!!
    Deixo um convite para uma passadinha em meu cantinho virtual:

    amoreirando.blogspot.com.br

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  2. Beleza Renata. Teilhard realmente é apaixonante...

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  3. E eu que sei tão pouco deste grande homem de Deus. Obrigada por este belíssimo texto.
    Constato é mais uma vez como a Igreja tem desbaratado (e violentado) quem ousa pensar algo diferente do instituído. Deus nos ajude!

    Um abraço de Portugal

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