Catolicismo no Brasil em
Declínio: os dados do Censo de 2010
Faustino Teixeira
PPCIR/UFJF
Os dados que acabam de ser apresentados pelo IBGE com
respeito às religiões brasileiras no Censo Demográfico de 2010 confirmam a
situação de progressivo declínio na declaração de crença católica. Os dados
apresentados indicam que a proporção de católicos caiu de 73,8% registrados no
censo de 2000 para 64,6% nesse último censo, ou seja, uma queda considerável.
Trata-se de uma redução que vem ocorrendo de forma mais impressionante desde o
censo de 1980, quando então a declaração de crença católica registrava o índice
de 89,2%. Daí em diante, a sangria só aumentou: 83,3% em 1991, 73,8 % em 2000 e
64,6% em 2010. O catolicismo continua sendo um “doador universal” de fiéis, ou
seja, “o principal celeiro no qual outros credos arregimentam adeptos”, para
utilizar a expressão dos antropólogos Paula Montero e Ronaldo de Almeida. A
redução católica ocorreu em todas as regiões do país, sendo a queda mais
expressiva registrada no Norte, de 71,3% para 60,6%. O estado que apresenta o
menor percentual de católicos continua sendo o do Rio de Janeiro, com 45,8%
(uma diminuição com respeito ao censo anterior que apontava 57,2%). O estado
brasileiro com maior percentual de católicos continua sendo o Piauí, com 85,1%
de declarantes (no censo anterior o registro era de 91,4%). Os dados indicam
que o Brasil permanece majoritariamente católico, com mais de 123 milhões de adeptos, mas se a tendência apontada
nesse último censo continuar a ocorrer teremos em breve uma significativa
alteração no campo religioso brasileiro, com impactos importantes na dinâmica religiosa nacional.
O novo censo aponta um dado que já
era previsível, a continuidade do crescimento evangélico no Brasil. Foi o
segmento que mais cresceu segundos os dados agora apresentados: de 15,4%
registrado no censo de 2000 para 22,2%. O aumento é bem significativo, em torno
de 16 milhões de pessoas. Um olhar sobre os três últimos censos possibilita ver
claramente essa irradiação crescente: 6,6% em 1989, 9,0% em 1991, 15,4% em 2000
e 22,2% em 2010. O Brasil vai, assim, se tornando cada vez mais um país de
presença evangélica. Há que sublinhar, porém, que a força desse crescimento
encontra-se no grupo pentecostal, que é o responsável principal por tal
crescimento, compondo 60% dos que se declararam evangélicos (nada menos do que 13,3% de todo percentual evangélico diz respeito aos pentecostais e 4,8% aos de origem evangélica não determinada). Os evangélicos de missão não registram esse
crescimento expressivo, firmando-se em 18,5% da declaração de crença
evangélica.
Os “sem religião”, que no censo de
2000 representavam a terceira maior declaração de crença no Brasil mantiveram o
seu crescimento, ainda que em ritmo menor do que o ocorrido na década anterior.
Eles eram 7,28% no censo de 2000 e subiram agora para 8% (um índice que
comporta mais de 15 milhões de pessoas), e o seu registro mais significativo
continua sendo no Sudeste. Esse crescimento não indica, necessariamente, um
crescimento do ateísmo, mas uma desfiliação religiosa, um certo desencanto das
pessoas com as instituições religiosas tradicionais de afirmação do sentido.
Reflete um certo “desencaixe” dos antigos laços, como bem mostrou Antônio
Flávio Pierucci em suas pesquisas.
Os espíritas também seguem
crescendo. Os dados do censo de 2010 indicam um crescimento importante, com
respeito ao censo anterior: de 1,3% para 2%. São agora cerca de 3,8 milhões de
adeptos declarantes. Trata-se do núcleo que tem os melhores indicadores de
educação, envolvendo o maior número de pessoas cm nível superior completo
(31,5%). Os dados apontados pelo censo são importantes, mas há que lembrar a
presença de uma “impregnação espírita” na sociedade brasileira que escapa à
abordagem estatística. Isso os
estudiosos do espiritismo têm mostrado com pertinência. As crenças e práticas
espíritas têm uma alta “ressonância social”, transbordando a dinâmica de
vinculação aos centros espíritas.
Quanto às religiões
afro-brasileiras, tanto a umbanda como o candomblé mantiveram-se no eixo de
0,3% de declaração de crença. Não houve mudança substantiva com respeito ao
censo anterior, que indicava a porcentagem de 0,26% para a umbanda (432.001 declarantes) e 0,08 para
o candomblé (139.328 declarantes). Mas no novo censo há uma retração numérica da umbanda com respeito ao censo anterior: de 432.001 declarantes em 2000 para 407.000 em 2010. O candomblé, que no censo anterior tinha registrado um leve crescimento, volta a ter modesto acréscimo: de 139.328 declarantes em 2000 para 167.000 em 2010.
Com respeito às outras religiões,
permanecem com uma representatividade pequena que em sua soma geral não
ultrapassa 3,2% de declaração de crença. Mantém-se viva a provocação feita por
Pierucci em artigo escrito depois do censo de 2000 sobre a diversidade
religiosa no Brasil, de que o Brasil continua hegemonicamente cristão, e a
diversidade religiosa – ainda que em crescimento -, permanece apertada em
estreita faixa um pouco acima de 3% da declaração de crença. Com base nos dados
do censo agora apresentado, os cristãos configuram 86,8% da declaração de
crença. Não há dúvida que isso pode ser problematizado com a questão complexa
da múltipla pertença ou então da malha larga do catolicismo, que envolve, como
diz Pierre Sanchis a presença de “muitas religiões” em seu interior.
(Publicado no IHU-Notícias, de 30/06/2012:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/511028-catolicismo-no-brasil-em-declinio-os-dados-do-censo-de-2010 )
(Publicado no IHU-Notícias, de 30/06/2012:
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/511028-catolicismo-no-brasil-em-declinio-os-dados-do-censo-de-2010 )
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