A substância e Demi Moore
Volto hoje, 15/11/2024, uma sexta feira nublada, a falar de um filme que muito me impressionou este mês: A substância, com a atriz Demi Moore. O filme vem ambientado em Los Angeles, e começa com uma vista aérea da Calçada da Fama de Hollywood, onde uma nova estrela está sendo instalada. Mas com o tempo, aquela estrela que homenageia a atriz Elisabeth Sparkle, personagem interpretada por Moore, racha e é danifica. É pisoteada e ignorada. Um homem passa por ela, deixa cair o hambúrguer e a estrela fica suja de ketchup. A sequência, que dura apenas alguns minutos, define perfeitamente o tom do que virá e expõe os temas que serão abordados: juventude, beleza e pertencimento, e até onde as pessoas são capazes de ir para alcançar o que almejam.
Motivado pelo filme, fui ler a biografia de Demi Moore, que acabei agora pela manhã, com o título: Livro aberto: a minha história (Rio de Janeiro: Alta Life, 2021). Pude então entender as razões que motivaram a atriz a aceitar o papel de Elisabeth Sparkle. O livro revela, de fato, toda a complexidade e dor que envolveram e envolvem a vida da Atriz Demi Moore, que passa hoje pelas reflexões de quem ultrapassou os 55 anos de vida.
Sua infância não foi nada fácil, como ela relata. Ela e seu irmão não tiveram a atenção necessária dos pais no tempo que mais precisavam. Num dos passos mais difíceis d sua juventude, ela foi prostituída pela própria mãe, por US$ 500. Sua mãe, Ginny, teve a ousadia de entregar a chave da casa para um rapaz de nome Val transar com ela. Imaginem! A relação com a mãe foi sempre muito difícil, mas ao final da vida pôde se reconciliar com ela, dedicando-se aos cuidados com sua saúde, até sua morte.
Depois veio o sucesso, mas acompanhado de tantos contratempos e efeitos colaterais, envolvendo álcool e cocaína. Aos 21 anos já lutava contra o vício dessas drogas... Em sua viagem ao Brasil, para filmar Feitiço do Rio, foi outra dura experiência com as drogas. Diz em seu livro que “todo mundo no Rio parecia usar cocaína”.
Tinha também sérios problemas com o seu corpo. Estava sempre incomodada com suas pretensas dificuldades de alcançar o padrão de beleza que almejava. Como ela relata em seu livro, “se subisse na balança, arruinava o dia inteiro”. Não podia olhar no espelho... Tinha igualmente sérios distúrbios com a alimentação: “Despertava no meio da noite, comia compulsivamente e acordava coberta de migalhas”.
Integrou o elenco de vários filmes de sucesso, entre os quais Ghost. Revela que dos filmes que protagonizou, o que mais gostou foi Até o limite da honra. Foi um filme pioneiro: o primeiro que “retratou mulheres em combate - ou uma mulher, de qualquer maneira – e certamente estava desafiando os limites aos mostrar a dinâmica física bruta...”. Foi também pioneira ao registrar uma foto nua e grávida, junto com seu marido e filhos. Ela saiu na capa da revista Vanity Fair. Foi a coragem de glamourizar a gravidez, em vez de apaga-la, como ocorria na época. Ela revela no livro que até hoje vem mais lembrada pela foto do que por qualquer filme que realizou.
Teve muitos amores e dois casamentos, um dos quais com Bruce Willis, e engravidou na noite de núpcias, em novembro de 1987. O outro casamento foi com Ashton Kutcher, outro ator. Os dois casamentos não foram adiante. Com respeito à sua primeira separação, com Bruce Willis, sublinha que os dois estavam tão preocupados com seus trabalhos pessoais, ou com os filhos, que acabaram dedicando pouco tempo um ao outro. E isso foi bem complicado. Ela disse: “Honestamente, desde o início, acho que nós dois éramos mais apaixonados pela ideia de ter filhos do que por ser casados”.
Demi Moore sempre teve muita ligação com a espiritualidade, tendo feito diversificadas experiências na área: com monges tibetanos, com xamãs e com a cabala. Sublinha que em determinados momentos de sua vida revirou as possibilidades espirituais. Não se dava, porém, com as religiões organizadas.
O livro se conclui com uma pergunta: “Como cheguei até aqui?”. Ela repete a frase ao reviver os vários momentos de sua vida. Reconhece que tentou lutar contra as intempéries, com resiliência continuada, mas acabou se dando conta que cuidou mais dos outros do que dela mesma. Ao final do livro, ela relata:
“As coisas acontecem na vida para chamar nossa atenção - nos fazer acordar. Isso significa que tive que perder muito antes de me destruir o suficiente para me reconstruir? Acho que significa que o que me trouxe até aqui, essa incrível resistência, foi o que quase me arruinou. Cheguei a um lugar em que não conseguia mais apenas me esforçar. Eu só poderia me dobrar ou me quebrar”.
Na conclusão, ela cita Paulo Coelho: “O universo conspira para lhe dar tudo o que você deseja, mas nem sempre da maneira que espera”. Reconhece, terminando o livro, que passou por situações muito pesadas, tendo ao fim descoberto que “a única saída é olhar para dentro”.
Revisando essa biografia de Demi Moore, conseguimos entender as razões que a motivaram a protagonizar a personagem desse excelente filme que é A substância. Trata-se de um filme imperdível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário