O Censo de 2010 e as
religiões no Brasil: esboço de apresentação
Faustino Teixeira
PPCIR-UFJF
Introdução
Os primeiros números do Censo de
2010 sobre as religiões no Brasil só foram divulgados pelo IBGE no final de
junho de 2012. Uma divulgação que ocorreu quase dois anos depois da aplicação
dos questionários pelos recenseadores. O presente livro tem por objetivo
trabalhar esses dados com o aporte de inúmeros pesquisadores nacionais. Como
porta de entrada, a provocação de Pierre Sanchis, no sentido de augurar uma
perspectiva analítica capaz de ultrapassar uma leitura superficial dos dados
apresentados e avançar na espessura
desse campo religioso tão complexo e desafiador. Os artigos seguem um fio
condutor que acompanha as tendências apresentadas pelos índices do censo.
Parte-se de uma análise mais geral dos dados (Antônio Flávio Pierucci e Marcelo
Camurça), precedida de uma reflexão temática sobre os números censitários em torno
da religião (Clara Mafra). A abordagem dos dados da declaração católica vem
desenvolvida por Carlos Rodrigues Brandão e Sílvia Regina Fernandes. O campo
dos evangélicos, incluindo a avaliação dos dados sobre os pentecostais, vem
trabalhado por Leonildo Campos, Cecília
Mariz e Paulo Gracino. Os sem-religião são objeto da reflexão de Regina Novaes,
privilegiando o recorte geracional. O tratamento dos números sobre o
espiritismo vem realizado por Bernardo Lewgoy e sobre as religiões
afro-brasileiras, por Reginaldo Prandi, Luciana Duccini e Miriam Rabelo. Os
dados sobre a religião informada pelos que se autodeclararam indígenas foram
trabalhados por Elizabeth Pissolato. Em seguida, o campo específico das outras
tradições religiosas, incluindo a abordagem dos índices sobre as religiões
orientais (Frank Usarski), sobre o islamismo (Paulo Gabriel H. da Rocha Pinto),
o judaísmo (Mônica Grin e Michel Gherman) e o
circuito neo-esotérico (Leila Amaral). Com base nos dados do Censo, abordou-se
também o tema da transmissão religiosa e dos deslocamentos verificados, no
âmbito dos domicílios brasileiros, o que foi realizado por Ronaldo de Almeida e
Rogério Barbosa. Ao final, Renata Menezes, elabora algumas reflexões às margens
do Censo de 2010, com enfoque nas suas repercussões, expectativas e limites.
A apresentação dos dados do Censo de
2010 e o resultado das análises realizadas pelos diversos autores nesse livro
indicam uma imagem bem significativa do atual campo religioso no Brasil. Mas há
que igualmente sublinhar as importantes mudanças sinalizadas no campo religioso
em âmbito mundial, daí a decisão de iniciar essa apresentação com uma visão
panorâmica sobre os índices apresentados pelo Pew Research Center[1] em
relatório sobre as religiões mundiais, apresentados em 2012, em coincidência
com a divulgação dos dados do IBGE sobre as religiões no Brasil.
Um olhar mais abrangente
Em importante relatório publicado
pelo Pew Research Center em dezembro
de 2012 sobre o perfil das religiões mundiais, com base em dados de 2010,
firma-se um quadro significativo de sua distribuição no mundo[2]. O
cristianismo continua hegemônico, abarcando 31,5% da população mundial, com
cerca de 2,2 bilhões de adeptos[3]. O islamismo vem em seguida, envolvendo 23,2% da população geral, com cerca de 1,6 bilhões
de adeptos. Os não afiliados[4]
vem em terceiro lugar, abrangendo 16,3% da população global, em torno de 1,1
bilhão de adeptos. O hinduísmo ocupa a
quarta posição, cobrindo 15,0% da
população mundial, com aproximadamente 1 bilhão de fiéis. Na sequência,
aparecem o budismo (7,1% - 488 milhões),
as religiões étnicas ou regionais (5,9% - 405 milhões)[5],
outras religiões (0,8% - 58 milhões)[6] e
Judaísmo (0,2% - 14 milhões).
Quanto à distribuição geográfica,
verifica-se que os cristãos encontram-se situados majoritariamente na Europa (
25,7% - 558.260.000), na América Latina e Caribe (24,4% - 531.280.000), e na
África Subsaariana (23,8% - 517.340.000). Por sua vez, os muçulmanos
encontram-se mais presentes na região da Ásia-Pacífico (61,7% - 985.530.000), Oriente
Médio e Norte da África (19,8% - 317.070.000) e África Subsaariana (15,5% -
248.110.000). Sua presença na Europa é menos destacada (2,7% - 43.490.000). Os
não afiliados encontram-se situados de forma mais viva na Ásia-Pacífico (76,2%
- 858.580.000), mas marcam também presença na Europa (12% - 134.820.000),
América do Norte (5,2% - 59.040.000) e América Latina e Caribe (4% -
45.390.000). Os hindus situam-se, sobretudo, na Ásia-Pacífico (99,3% -
1.025.470.000), com uma menor presença no Oriente Médio e África do Norte (0,2%
- 1.720.000), e África Subsaariana (0,2% - 1.670.000). Os budistas têm melhor
representação na Ásia-Pacífico (98,7% - 481.290.000), com presença mais modesta
na América do Norte (0,8% - 3.860.000) e na Europa (0,3% - 1.330.000). As
religiões étnicas ou regionais marcam sua presença mais decisiva na
Ásia-Pacífico (90,1% - 365.120.000), bem como na África Subsaariana (6,6% -
26.860.000) e na América Latina e Caribe (2,5% - 10.040.000). As outras
religiões têm também sua presença mais ativa na Ásia-Pacífico (89,2% –
51.850.000), bem como na América do Norte (3,8% - 2.200.000) e
África-Subsaariana (3,3% - 1.920.000). Por fim, o judaísmo, que envolve 0,2% da
população mundial, tem uma singular presença na América do Norte (43,6% -
6.040.000), mas também no Oriente Médio e África do Norte (40,6% - 5.630.000) e
Europa (10,2% - 1.410.000).
Em clássico texto, o sociólogo Peter
Berger questiona a falsa suposição de uma decisiva afirmação da secularização
em curso. Trata-se, na verdade, de uma posição que é alvo de debate. Para esse
autor, o que ocorre de fato é uma singular e vigorosa “ressurgência” da
religião, que ganha uma fisionomia particular nas pujantes presenças tanto da
renovação islâmica como da irradiação evangélica, sobretudo pentecostal. Berger
reage aos analistas que tendem a negligenciar o fator religioso em suas
análises da contemporaneidade, e reitera a singularidade desse componente
religioso, que pode operar mesmo fora das atividades de instituições ou grupos
religiosos formais, mediante valores difusos.[7]
Para ele, não há razão plausível que justifique a menor presença do dado
religioso no mundo do século XXI[8].
Mesmo a Europa, tida por Berger como
uma exceção, em razão da presença de indicadores da secularização, “corre o
risco de ser cada vez mais afetada pela nova onda religiosa”[9].
Em recente análise feita sobre “as mutações do religioso na França
contemporânea”, Philippe Portier sublinha a presença de dois fenômenos
simultâneos: a dessubstancialização da civilização católica e o reencantamento
da civilização republicana. Se em 1952 cerca de 90% dos franceses se declaravam
católicos, essa cifra sofre uma radical queda em torno de 2008, envolvendo
agora não mais que 42% dos adeptos, sendo os praticantes regulares em torno de
reduzidos 8%. Por outro lado, ocorre uma grande proliferação de religiosidade,
de pluralização de denominações religiosas, abarcando em torno de 75% dos
franceses. Cresce o circuito dos “neo-protestantes”, bem como a circulação pelos
meandros da “nebulosa místico-esotérica” e da “espiritualidade leiga”. A cosmovisão racionalista não tem a mesma força
do passado, sendo agora permeada pelo clima de incerteza de uma sociedade
pós-secularizada. Portier indica a vigência de uma peculiar situação, que é
ambivalente, onde coexistem “a aspiração em favor da autonomia com a angústia
da incompletude”[10].
Em seu editorial sobre as “metamorfoses
da fé”, o historiador das religiões Frédéric Lenoir indica como um panorama
possível das religiões nas próximas décadas a manutenção do crescimento
cristão, e em particular do evangelismo pentecostal e da irradiação islâmica,
assim como a estabilidade de outras tradições religiosas como o hinduísmo,
budismo e judaísmo. Lenoir sublinha que ao lado dessas tendências, e em
concordância com outros analistas franceses como Jean-Paul Willaime e Raphaël
Lioger, “as religiões continuarão se transformando e sofrendo os efeitos da
modernidade, notavelmente a individualização e a globalização”. A tendência em
curso indica a afirmação “de uma visão cada vez mais pessoal da religião”,
dispondo os sujeitos de “dispositivos de sentido” singulares, seja pontuados
pelo sincretismo ou pela bricolagem. As buscas identitárias e espirituais
continuarão vigentes, salienta Lenoir, mas não mais “vividas como no passado,
dentro de uma tradição imutável ou de um dispositivo institucional normativo”[11].
O campo religioso brasileiro e o censo
No prefácio deste livro, Pierre
Sanchis confirma essa “reemergência” do sagrado na vida social e na experiência
pessoal, que se dá “ao lado e articuladamente com a secularização”. Constata
ainda o crescente interesse pelo fenômeno religioso no âmbito da academia.
Dentre as linhas de mudança apontadas por ele, destacam-se a emergência do
indivíduo e a crescente desinstitucionalização. Em linha de continuidade com a
análise procedida por Lenoir, Sanchis indica que o universo das experiências
religiosas deixa de ser regido por estruturas sólidas e reguladoras,
tornando-se mais fluido, pontuado agora por relações menos totalizantes entre
os fiéis e as suas instituições religiosas de pertença. Fica assim, cada vez
mais difícil, a afirmação rígida das declarações de pertença religiosa,
exigindo do analista uma reflexão mais afinada para dar conta dessa
complexidade.
Isso tem uma direta repercussão no
debate sobre o lugar e a importância do censo para aferir com exatidão o campo
religioso brasileiro. Vários dos articulistas do livro tratam desse assunto,
mostrando a complexidade nele envolvida. Há dois artigos em especial que
abordam especificamente o tema, o de Clara Mafra e o de Renata Menezes. Como
argumenta Sanchis, o censo não é senão “um instantâneo sobre a situação que ele
visa” e o quadro que ele indica “é dependente das categorias escolhidas”,
exigindo atenção do analista para aventar suas hipóteses[12]. Há
muita riqueza nessa “memória acumulada” do censo, envolvendo 130 anos de
história, desde 1872[13].
Ele traduz “uma fotografia da autodeclaração religiosa em determinado contexto”[14],
ajudando no “refinamento do estudo da religião”[15].
Mas trata-se de um instrumento que necessita de “exploração qualificada”, de
pesquisas qualitativas que possam agregar outras variáveis para a análise
empreendida.
Com respeito aos dados sobre
religião apresentados pelo Censo de 2010, diversas críticas foram tecidas por
analistas, relacionadas à sua metodologia[16],
à sua dificuldade para captar a
“dinâmica religiosa” do país[17],
à sua imprecisão no afinamento do instrumental para compreender o campo
protestante, bem como o fenômeno das múltiplas pertenças, dos fluxos e
trânsitos religiosos ou os sincretismos menos visíveis[18]. Não
há dúvida sobre a ajuda fornecida pelo censo para “visualizar as macrolinhas
das transformações de uma década”, mas mostra-se limitado para “qualificar a
mudança, ou entender suas nuances”. Só com a ajuda da abordagem qualitativa
abre-se o acesso aos “processos mais sutis de transformações e combinações nas
esferas dos valores e das crenças”[19].
Apesar de seus limites, o Censo do
IBGE apresenta dados que são muito importantes para sinalizar tendências no
campo religioso brasileiro. Um dos traços que vem se delineando desde o Censo
de 2010 é a progressiva pluralização e diversificação do campo em questão.
Destaca-se também a intensificação do trânsito religioso, da provisoriedade da
adesão e a dinâmica da privatização da prática religiosa. Em linha de
continuidade com o censo anterior, verifica-se uma queda percentual católica,
uma continuidade no crescimento evangélico e em ritmo menor, dos sem religião.
Católicos e evangélicos
O catolicismo romano é ainda
preponderante, mas perde a cada década sua centralidade, passando a se firmar
como “religião da maioria dos brasileiros”, mas não mais a “religião dos
brasileiros”. E pela primeira vez, no Censo de 2010, a queda percentual dos
declarantes católicos refletiu-se em números absolutos, com o ritmo de
crescimento menor dos católicos com respeito ao crescimento da população
brasileira[20]. Sinalizam
com razão, Ronaldo de Almeida e Rogério Barbosa, que essa nova situação do
catolicismo foi um dos efeitos da pluralização em curso. Fragiliza-se o peso da
tradição e vem reforçada a busca de alternativa individual no processo de
afirmação da identidade religiosa[21].
Mesmo assim, como mostrou Pierucci, apesar desse “declínio
moderado, mas constante”, a presença católico-romana é ainda muito grande: “é
católico que não acaba mais”[22].
O censo revela a presença de 123.280.172 milhões de declarantes católicos, ou
seja, 64,63% da população total. A retração do catolicismo não reflete na
diminuição do cristianismo, já que o crescimento dos evangélicos vem se
acentuando a cada década. Mudanças são, de fato, visíveis no cenário religioso
brasileiro, com sinais visíveis de pluralização, mas o traço da hegemonia
cristã permanece aceso: “O Brasil não está deixando de ser um país cristão,
embora seja menos católico, protestante tradicional ou ´evangélico de missão`
em 2010”[23].
Somando os católicos com os evangélicos chega-se a uma porcentagem de 86,8%,
quase 90% de toda a população brasileira declarante. Há que sublinhar também o
traço peculiar do catolicismo brasileiro, com suas malhas largas e seu perfil
plural. Um catolicismo que acolhe e convive com a diversidade, “em que Deus
pode ter muitos rostos”. Sublinha-se que “talvez seja o exemplo mais fiel de
uma tradição religiosa – dentro e fora do cristianismo – de um sistema de
sentido pluri-aberto, multi-cênico e em constante transformação”[24].
A continuidade do crescimento evangélico esteve também evidenciada
nesse Censo de 2010. Na avaliação de Cecília Mariz e Paulo Gracino Jr, em
artigo neste livro, ocorreu um significativo incremento na presença evangélica
nas últimas décadas, com um salto de 6,6% em 1980 para 22,2% da população geral
em 2010[25].
Nada menos do que 42.275.440 milhões de evangélicos para uma população
brasileira de 190.755.799[26].
Esse crescimento não se deve aos evangélicos de missão, que permaneceram quase
estacionados na última década, na faixa dos 4% de declaração de crença[27]. Deve-se,
sobretudo, aos pentecostais, que respondem por 13,3% da população brasileira,
ou seja, 25.370.484 milhões de adeptos[28]. Num
divertido exercício, Leonildo Campos assinala que os evangélicos conquistaram
na última década cerca de 4.408 novos fiéis por dia, e os de origem
pentecostal, cerca de 2.124 por dia, sendo a Assembleia de Deus responsável por
1.067 adesões diárias[29].
É extraordinário esse crescimento pentecostal em termos
absolutos, na faixa de 17 milhões de fiéis entre os anos de 1991 a 2010. Mas os
analistas advertem que o crescimento evangélico, incluindo os pentecostais, não
pode ser muito otimizado, já que na última década, de 2000 a 2010, esse
crescimento foi menor do que o ocorrido na década anterior. Como mostrou Paulo
Ayres, o crescimento dos evangélicos entre 1991 e 2000 foi de 120%, enquanto na
última década, de 2000 a 2010, esse crescimento foi de aproximadamente 62%[30]. Vale
registrar, no campo pentecostal, o decréscimo de fiéis – em números absolutos -
ocorrido na última década em igrejas importantes como a Congregação Cristã do
Brasil, a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja do Evangelho
Quadrangular. Incremento importante teve, por sua vez, a Assembleia de Deus, a
maior do campo pentecostal – com 12,3 milhões de adeptos -, que registrou um
aumento de 4 milhões de fiéis na última década[31].
A dificuldade de precisão analítica na apreensão correta
dos dados sobre os evangélicos deve-se, em parte, ao significativo número de
fiéis evangélicos classificados na categoria de “evangélicos não determinados”.
Nada menos do que 9,2 milhões de pessoas, perfazendo 21,8% de todo o
contingente evangélico, num patamar que envolve 5% de toda a população
brasileira. Alguns analistas os identificam como “evangélicos genéricos” ou
“evangélicos sem igreja”, indicando a afirmação de uma diversidade interna no
campo evangélico, seja mediante caminhos diversificados de assunção da pertença
evangélica, seja no exercício de crença fora das instituições, ou na múltipla
pertença evangélica. A inserção desse item
classificatório no Censo de 2010 acaba dificultando a aferição analítica do
real crescimento evangélico, seja dos evangélicos de missão ou dos evangélicos
pentecostais[32]. Para o teólogo luterano, Walter Altmann, esse
grande contingente de evangélicos não determinados “já alteraria
substancialmente os números referentes a igrejas de origem pentecostal, mas
extraordinariamente os referentes às igrejas de missão que muito possivelmente
ficaram subcontabilizados”[33].
Sem-religião
Em artigo publicado em 2004, Antônio Flávio Pierucci
buscava explicar o “declínio das religiões tradicionais no Censo de 2000”. Ao
tratar do refluxo do catolicismo, justificava a situação com o clima instaurado
nas sociedades pós-tradicionais, com a crise das filiações tradicionais:
“Nelas os indivíduos tendem a
se desencaixar de seus antigos laços, por mais confortáveis que antes pudessem
parecer. Desencadeia-se nelas um processo de desfiliação em que as pertenças
sociais e culturais dos indivíduos, inclusive as religiosas, tornam-se
opcionais e, mais que isso revisáveis, e os vínculos, quase só experimentais,
de baixa consistência. Sofrem, fatalmente, com isso, claro, as religiões
tradicionais” [34] .
A crescente afirmação dos sem
religião nos dois últimos censos pode encontrar uma pista de interpretação
nessa abordagem de Pierucci. Os declarantes que se encaixam nessa categoria
estão mesmo desencaixados de laços institucionais, situando-se, melhor, como
peregrinos do sentido. São pessoas que, como bem expressou Sílvia Fernandes,
estão “em redefinição de identidade”. Dentre os tipos predominantes de sem-religião
encontram-se aqueles que se desvincularam de uma religião tradicional e afirmam
sua crença com base em rearranjos pessoais; aqueles que passaram por diversos
trânsitos mas que não se encontraram em nenhum deles; aqueles que mantêm uma
espiritualidade leiga ou secular; aqueles que mantêm uma filiação fluida em
razão da indisponibilidade de participação religiosa regular e aqueles que se
definem como ateus ou agnósticos[35].
No Censo de 2010, foram cerca de
15,3 milhões de pessoas classificadas nessa categoria de sem-religião, ou seja,
8% da população geral. E curiosamente, o grupo dos agnósticos ou ateus não é o
mais expressivo dentre os declarantes, envolvendo respectivamente 124,4 mil
(0,07%) e 615 mil (0,32%) pessoas. No artigo redigido para este livro, Regina
Novaes destacou nessa categoria uma presença jovem, sendo a idade média em
torno de 26 anos. Daí ter privilegiado esse recorte para o desenvolvimento de
seu trabalho. São jovens que “vivem sobretudo nas cidades” embora não estejam
ausentes no campo, com boa representação no Sudeste. A autora identificou em
suas pesquisas a presença, entre os jovens, de “histórias de conversões e de
desconversões, de trânsitos e combinações no interior de suas famílias
multireligiosas”. Em sua pertinente análise, Regina reconhece que na trajetória
dos jovens entrevistados pelo IBGE existem, de fato, experiências de
desfiliação ou mesmo desafeição religiosa, mas que é problemático
generalizações apressadas, pois para muitos jovens as instituições religiosas
não perdem o seu valor de locus de
agregação, motivação ou afirmação de sentido. O que ocorre, na verdade, é a
redefinição de vínculos ou pertencimentos, que se firmam de outros modos, e nem
sempre “por dentro dos circuitos institucionais, mas também fora e à margem”.
Nesse sentido, “declarar-se ´sem-religião` pode ser um ponto de partida, um
interregno entre pertencimentos ou um ponto de chegada onde se realiza sínteses
pessoais combinando elementos de diferentes tradições religiosas e esotéricas”[36].
Espíritas e afro-brasileiros
As taxas de crescimento nominal, no
Censo de 2010, também vigoraram para a declaração espírita. Houve na última
década um acréscimo vigoroso de adeptos do espiritismo kardecista, que passaram
de 1,3% em 2000 para 2,02% em 2010. São hoje cerca de 3,8 milhões de seguidores
do espiritismo no Brasil. Como mostra Bernardo Lewgoy, “o espiritismo
brasileiro passou, nas últimas décadas, por um processo de transformação, de
minoria religiosa perseguida para alternativa religiosa legítima, que oferece
explicação de sucessos, conforto para aflições e cura espiritual de
infortúnios, a partir de uma doutrina que se pretende simultaneamente
científica e religiosa”[37].
A presença espírita na sociedade brasileira não consegue
ser captada satisfatoriamente pelos dados do censo, que traduzem simplesmente
um olhar de “superfície”. Lewgoy chama a atenção para “as dinâmicas e
estratégias de mobilidade e afiliação religiosa concreta dos atores sociais”
que só com o aporte de pesquisas qualitativas, com bons recursos hermenêuticos,
conseguem ser delineadas. Ha que sublinhar, igualmente, um dado reiterado por
analistas das ciências sociais a propósito da “impregnação espírita da
sociedade brasileira”. Como mostrou Gilberto Velho, entre outros, o “transe,
possessão e mediunidade são fenômenos religiosos recorrentes na sociedade
brasileira”. E não só no espiritismo, mas também nas religiões afro, no
pentecostalismo e outros grupos religiosos. Esse autor chega a sugerir que em
torno da metade da população brasileira “participa diretamente de sistemas
religiosos em que a crença nos espíritos e na sua periódica manifestação
através dos indivíduos é característica fundamental”[38].
O sociólogo Cândido Procópio de Camargo, com base nos
Censos de 1940 a 1960, sublinhava o papel singular do “gradiente Espiritismo-Umbanda”
como “beneficiário” do processo de transição religiosa em curso no Brasil[39].
Reginaldo Prandi, em artigo deste livro, lembra essa previsão de Cândido
Camargo, e mostra como ela, de fato, não se realizou. O que se destaca nos
últimos Censos é um “declínio constante” do conjunto das religiões afro, sobretudo
da umbanda, mantendo-se no reduzido patamar de 0,3% da população brasileira.
Prandi reconhece que na última década houve uma “pequena reação da umbanda”,
que passou de 397.431 adeptos, em 2000, para 407.331, em 2010. Mas adverte que
“o fraco crescimento observado foi insuficiente para recuperar as perdas
sofridas anteriormente”. Trata-se de uma perda que se revela progressiva, desde
o Censo de 1991, quando a umbanda e o candomblé passaram a contar com
estatísticas separadas. O mesmo não ocorre com o candomblé, que em 2000 contava
com 139 mil adeptos e ganha um acréscimo de 28 mil adeptos em 2010, passando a
167 mil declarantes.
Mas assim como ocorre no aferimento da declaração dos
espíritas, também com respeito às religiões afro-brasileiras há dificuldades
precisas de detectar a real presença da umbanda e do candomblé no Brasil. Como
indica Prandi, o Censo “sempre ofereceu números subestimados dos seguidores das
religiões afro-brasileiras, o que se deve às circunstâncias históricas nas
quais essas religiões se constituíram no Brasil e a seu caráter sincrético daí
decorrente”. Continua vigente a tendência de adeptos das religiões
afro-brasileiras camuflarem sua identidade registrando uma declaração de crença
distinta, seja na rubrica católica ou espírita[40].
Numa abordagem mais otimista sobre os rumos das religiões
afro-brasileiras, também presente neste livro, as pesquisadoras Luciana Duccini
e Miriam Rabelo reconhecem que apesar de sua reduzida expressão numérica, essas
religiões “jogam um papel importante em debates sobre formação da sociedade
brasileira e na política identitária de segmentos desta sociedade”[41].
Na análise dessas autoras, o que o Censo de 2010 revela é “uma recuperação no
crescimento dessas religiões, que até então vinham perdendo adeptos”. Se houve
um crescimento negativo entre os anos de 1991 e 2000, os dados do último Censo
revelam um “incremento de 12,5%”, sobretudo em razão do crescimento do
candomblé, que foi da ordem de 31,2%, bem como da umbanda, na ordem de 2,5%.
Tradições indígenas e outras religiões
Os dados indicados pelo Censo de
2010 com respeito às tradições indígenas no Brasil revelam um crescimento com
respeito à década passada. Enquanto em 2000 os números indicavam 10.723 adeptos
de tradições indígenas, no ano de 2010 esse número passou para 63.082. O
tratamento dessa questão no presente livro ficou a cargo de Elizabeth Pissolato[42].
Uma importante observação feita pela autora em seu trabalho diz respeito à
inadequação da utilização da categoria “raça ou cor” para favorecer o
autoreconhecimento indígena para muitos dos adeptos que se autodeclararam
indígenas, mesmo não reconhecendo tais critérios como indicativos dessa
pertença. Isso denota um componente de “valorização cultural” implicado na
inclusão da categoria “tradições indígenas” na pesquisa censitária a partir de
2000. Dentre outros destaques de sua interpretação vale registrar a presença
significativa de indígenas que se autodeclararam sem religião, em torno de
14,5%; bem como o crescimento daqueles que se autodeclaram evangélicos (25%).
Quanto aos que se autodeclaram católicos (51%), que é uma porcentagem alta,
houve um decréscimo na última década, já que em 2000 eram 58,9%. A autora sublinha
como um traço importante o “aumento extraordinário” ocorrido na última década,
e destacado no Censo, das declarações de indígenas em favor da “tradições
indígenas” como religião, de 1,4% dos declarantes em 2000 para cerca de 5,3% em
2010.
Com base nos dados do Censo de 2010
não há como negar a força do referencial cristão na sociedade brasileira. Mas
já se começa a perceber nele uma diversificação cada vez mais evidenciada.
Junto com essa multiformidade interna ao campo cristão, verifica-se também uma pluralização religiosa cada vez maior,
com visibilização crescente. As outras religiões, que no Censo de 2000
concentravam 1,8% da declaração geral de crença, passam agora a responder por
2,7% dessa declaração[43].
Na presente obra, essas outras religiosidades foram abordadas em quatro frentes:
religiões orientais, islamismo, judaísmo e circuito neo-esotérico.
Os números relativos às religiões orientais
foram trabalhados por Frank Usarski[44].
Nessa classificação estão envolvidas a tradição budista, hinduísta, as novas
religiões orientais (igreja messiânica mundial e outras novas religiões
orientais) e as outras religiões orientais. Como assinala o autor, essas
tradições religiosas nunca alcançaram um “patamar quantitativamente
significante” no Brasil. Permanecem como “minoria religiosa” no país,
envolvendo a estreita parcela de 0,22% da população brasileira[45].
Dentre essas tradições, destaca-se o budismo, com 0,13% da população brasileira[46].
Segundo Usarski, “a adesão a uma das ´religiões orientais` é um fenômeno
relativamente incomum entre brasileiros”, ainda que o cotidiano da nação seja
penetrado por símbolos e técnicas culturais provenientes do Oriente. Esse
envolvimento não vem, porém, traduzido em disponibilidade de adesão específica
a determinada religião oriental. Com respeito ao Censo de 2000, houve um
crescimento na adesão a uma das religiões orientais, expresso no aumento de
32.902 pessoas declarantes. Em termos de localização geográfica, estas
tradições religiosas estão melhor representadas no Sudeste, envolvendo 78,5%
dos budistas, 66,91% dos adeptos de uma das chamadas novas religiões orientais
e 46,4% dos seguidores das outras religiões orientais. Na avaliação de Usarski,
a sociedade brasileira, sensível à interlocução da alteridade, “oferece boas
condições para a ´evolução` das ´religiões orientais`”, embora a afirmação
dessa presença religiosa parece ainda improvável num futuro próximo, tendendo a
manter sua condição de minoria religiosa.
Quanto ao islamismo, que tem uma
pujante irradiação mundial, encontra-se
no Brasil com presença mais modesta. Há, porém, que destacar o seu crescimento
no país entre os dois últimos censos. No Censo de 2000, o número de declarantes
muçulmanos foi de 18.592, passando para 35.167 no Censo de 2010. Trata-se de um
crescimento considerável, mas que no quadro geral da população brasileira
representa apenas 0,02%. A análise destes dados foi desenvolvida no livro por
Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto[47].
O autor sublinha que os dados apresentados pelo Censo não coincidem com os
índices apresentados pelas instituições islâmicas presentes no Brasil ou suas
lideranças, que indicam um número bem maior, estimado entre 1 a 3 milhões de
adeptos. O que se observa, na verdade, indica o autor, é um real crescimento
das instituições islâmicas no país, que chegam a quase 100 em 2012, com maior
concentração nas regiões Sul e Sudeste. O islamismo no Brasil tem um traço bem
urbano e um índice importante de presença masculina, com presença mais
destacada em São Paulo (42% dos muçulmanos declarados) e Paraná (27%).
Registra-se ainda outro dado importante, que é o aumento do número de conversões
de brasileiros ao islã[48].
O tema do judaísmo foi desenvolvido por Monica Grin e
Michel Gherman. Os dados apontados pelo Censo indicam a presença de 107 mil
adeptos desta tradição religiosa[49],
com um leve aumento com respeito a 2000, quando estavam representados por 101
mil seguidores. Os autores destacam a complexidade da identidade judaica, que
não se esgota nos limites da religião, indicando que aqueles que se declaram
judeus ao responderem ao censo não são “necessariamente ´praticantes do
judaísmo`”. Sublinham que o traço característico do judaísmo no Brasil é a sua
diversificação plural, abarcando desde o judaísmo ortodoxo, que vem aos poucos
se consolidando, até comunidades mais inovadoras, influenciadas por práticas da
New Age. Trata-se de um judaísmo “mais multifacetado em suas manifestações do
que apenas uma religião monoteísta e de fronteiras tradicionalmente fechadas à
conversão de não-judeus”[50]. A comunidade judaica no Brasil, que se
destaca dentre as outras comunidades desta tradição nas américas do sul e
central, concentra-se sobretudo nos grandes centros urbanos.
O Censo de 2010 sinalizou também a presença das tradições
esotéricas no Brasil, com um registro minguado de 0,04 de declaração de crença,
mantendo o mesmo patamar indicado no Censo de 2000, com um aumento reduzido: de
67 mil declarantes em 2000 para 74 mil em 2010. A abordagem desse circuito
neo-esotérico ficou a cargo de Leila Amaral[51]. A
autora mostra com pertinência a tendência hoje em curso para o aumento de
disponibilidade dos indivíduos para a “experimentação religiosa, para além de
seus limites institucionais”. Como parte dessa cultura religiosa errante,
inserem-se aqueles que emigraram das religiões institucionais, aqueles de
religiosidade não determinada ou núcleos daqueles que foram classificados entre
os sem religião. Na visão de Leila Amaral, o número reduzido de declarações
nesse campo tem também a ver com o fato de que as pessoas que se inserem no
circuito neo-esotérico não se definem ou se reconhecem nessa rubrica. Ou seja,
a classificação escolhida pelo IBGE para situar esse “circuito” religioso não
dá conta de captar com precisão o fenômeno desses “buscadores da nova era”. Em
tentativa de explicação, a autora arrisca-se a dizer que os adeptos desse
circuito, com base nas pesquisas acadêmicas e qualitativas, estariam
“pulverizados por entre as diversas categorias identificadas no Censo de 2010”.
Para além de sua inserção no campo definido das tradições esotéricas, estariam
também presentes entre os espiritualistas[52],
os sem religião, e também entre aqueles situados nas tradições religiosas
tradicionais, como as cristãs, e no catolicismo em particular. O traço peculiar
dessa “cultura religiosa errante” é a experimentação e o trânsito. O que há
nela de central “é a suspensão dos comprometimentos identitários que possam se
apresentar como um obstáculo para a experimentação de sentido”.
A abordagem das religiões vem complementada com a reflexão
de Ronaldo de Almeida e Rogério Barbosa em torno dessa temática do trânsito
religioso no Brasil, mas privilegiando o processo de transmissão religiosa no
âmbito familiar[53].
Partindo do pressuposto da importância dos domicílios como “espaços
privilegiados” da reprodução religiosa, os autores lançam a hipótese de que a
família vem perdendo o seu lugar na transmissão e propagação da religião. O
fenômeno atual da pluralização religiosa repercute também nesse campo familiar,
que passa a lidar com a complexidade das identidades fluidas e o recorrente
trânsito religioso. Os autores buscam, com base nos censos, dimensionar em que
ciclo de vida as religiões são mais frequentes e indicam:
“conforme a faixa etária
aumenta, deixa-se de ser católico e começa-se a se declarar sem religião em um
primeiro momento, que é seguido pela adesão aos evangélicos, principalmente os
pentecostais. Mas conforme se direciona para o final da vida as pessoas ficam
mais religiosas e se distribuem entre católicos e evangélicos”.
Imagem do Brasil
O livro conclui-se com o artigo de Renata Menezes e traz à
baila uma série de reflexões e indagações sobre o Censo de 2010. Aborda
inicialmente a grande repercussão e ressonância alcançada pela divulgação dos
dados sobre religião em âmbito nacional. Lança algumas hipótese singulares
sobre os números da religião apresentados no Censo e as incidências dos dados
sobre as representações do Brasil. O Censo apresenta não só uma “autodeclaração
religiosa”, mas também um retrato do país:
“a cada
década, um novo censo traz consigo a tensão de apresentar uma imagem do país
que pode nos surpreender e com a qual precisaremos nos acostumar e tentar
interpretar. É como se a dinâmica de transformações do universo religioso
estivesse continuamente redefinindo a cara da nação, ao redesenhar os contornos
do pertencimento religioso de seu povo”[54].
Com essa ampla apresentação do
livro, busca-se incentivar o leitor a avançar com calma na leitura de cada um
dos artigos presentes na obra, e armar-se de elementos para melhor entender
esse complexo e dinâmico campo religioso brasileiro. Vai aqui o sincero
agradecimento a cada um dos articulistas, que se dispuseram a atender com
generosidade ao convite realizado. Os artigos trazem uma riqueza de reflexão
que é inegável, favorecendo aos estudiosos, mas também ao público em geral um
rico panorama dessa imagem do Brasil através dos dados sobre religião
fornecidos pelo IBGE com o Censo de 2010. Vai também um agradecimento especial
à Editora Vozes, pela acolhida da proposta e ao ISER-Assessoria, e em especial
a Nevio Fiorim pela preciosa ajuda na revisão dos originais. Em nome de todos
os autores que contribuíram para a realização dessa obra, a nossa sincera
homenagem a Antônio Flávio Pierucci, a quem vai dedicado esse trabalho.
Publicado em: Faustino Teixeira & Renata Menezes (Orgs). Religiões em Movimento. O Censo de 2010. Petrópolis: Vozes, 2013 (apresentação geral do livro)
[1] Trata-se de um dos mais importantes centros de
pesquisa de opinião pública dos Estados Unidos da América. Um think tank localizado em Washington DC,
que presta “informações sobre questões, atitudes e tendências que estão
moldando os EUA e o mundo”.
[2] Pew Research Center. The Global Religious Landscape. A report on the Size and
Distribution of the World´s Major Religious Groups as of 2010. December 2012.
Cf.
http://www.pewforum.org/global-religious-landscape-exec.aspx (acesso em
16/04/2013).
[3] E dentre os cristãos, os católicos ocupam a primeira
posição, respondendo pela metade desse contingente de adeptos (50%), e na
sequência, a tradição protestante, com a inclusão dos anglicanos e outras
tradições evangélicas independentes, e igrejas não denominacionais (37%), bem
como a Comunhão Ortodoxa da Grécia e da Rússia (12%).
[4] Como tradução de Religiously
Unaffilliated, categoria que inclui ateus, agnósticos ou pessoas que não se
enquadram em nenhuma das religiões indicadas na pesquisa. Destaca-se sua
presença em países como a China, Japão e Estados Unidos. Com base nos dados de
2010, o já citado relatório do Pew Research Center indicou o envolvimento de
16,4% de toda a população americana nessa categoria. Mas segundo um survey mais recente do mesmo centro de
pesquisa americano, realizado em 2012,
esses números cresceram, envolvendo agora 19,6% dos americanos adultos, dos
quais 3,3% são agnósticos e 2,4% ateus:
http://www.pewforum.org/Unaffiliated/nones-on-the-rise.aspx (acesso em 20/04/2013).
[5] Nessa categoria incluem-se as religiões africanas
tradicionais, as religiões populares chinesas, as religiões americanas nativas
ou dos povos originários e as religiões dos aborígenes australianos.
[6] A categoria inclui as seguintes religiões: baha´i,
taoísmo, jainismo, xintoísmo,
tenrikyo, wicca, zoroastrismo e outras.
[7] O importante crescimento dos não-afiliados (Unaffiliated) em âmbito mundial, como
apontado nas recentes pesquisas do Pew
Research Center, sinaliza uma distinta presença desse religioso, envolvendo
também agnósticos e ateus. São nada menos do que 1,1 bilhão de adeptos, cerca
de 16% da população mundial (uma em cada seis pessoas).
[8] Peter L. Berger. La désecularisation du monde: un
point de vue global. In: _____. (Ed.). Le
réenchantement du monde. Paris: Bayard, 2001, p. 28. Ver ainda p. 19-24.
[9] Fréderic Lenoir. Les metamorfoses de la foi. Le monde des religions, n. 58,
septembre-octobre 2012 (L´editorial).
[10] Philippe Portier. Les mutations du religieux dans la
France contemporaine. Social Compass,
v. 59, n. 2, june 2012, p. 193-207.
[11] Fréderic Lenoir. Les metamorfoses de la foi.
[12] Pierre Sanchis. Prefácio. In: Faustino Teixeira &
Renata Menezes. Imagens do Brasil. As religiões no Censo de 2010. Petrópolis:
Vozes, 2013. A seguir, os demais artigos do livro serão sempre indicados apenas
com a autoria e o título.
[13] Clara Mafra. O que os homens e as mulheres podem
fazer com números que fazem coisas.
[14] Renata Menezes. Censo 2010, fotografia panorâmica da
vida nacional. Cadernos IHU em formação,
ano VIII, n. 43, 2012, p. 42.
[15] Silvia Regina Alves Fernades. Os números de católicos
– mobilidades, experimentação e propostas não redutivistas na análise do censo.
[16] Walter Altmann. Censo IBGE 2010 e religião. Horizonte, v. 10, n. 28, out./dez. 2012,
p. 1126; Reginaldo Prandi. As religiões afro-brasileiras em ascensão e
declínio.
[17] Renata Menezes. Censo 2010, fotografia panorâmica da
vida nacional, p. 44. Ver também: Jose
Ivo Folmann. Trânsito religioso e o “permanente peregrinar”. Cadernos IHU em formação, ano VIII, n.
43, 2012, p. 14.
[18] Leonildo Silveira Campos. “Evangélicos de missão” em
declínio no Brasil: exercícios de demografia religiosa à margem do Censo de
2010; Bernardo Lewgoy. A contagem do rebanho e a magia dos números: notas sobre
o espiritismo no Censo de 2010; Ronaldo de Almeida. Transmissão religiosa nos
domicílios brasileiros.
[19] Renata Menezes. Censo 2010, fotografia panorâmica da
vida nacional, p. 42.
[20] Como mostrou Silvia Fernandes em seu artigo neste
livro, os dados do IBGE indicam “que a população católica cresce a um ritmo
sempre inferior ao crescimento populacional em cada região brasileira, ao
contrário do conjunto de evangélicos que possui crescimento sempre acima da
população”: Sílvia Regina Alves Fernandes. Os números de católicos no Brasil.
Ver também: Marcelo Camurça. O Brasil religioso que emerge do Censo 2010:
consolidações, tendências e perplexidades.
[21] Ronaldo de Almeida & Rogério Barbosa. Transmissão
religiosa nos domicílios brasileiros.
[22] Antônio Flávio Pierucci. O crescimento da liberdade
religiosa e o declínio da religião tradicional: a propósito do Censo de 2010. É
o país, com a maior presença de católicos em âmbito mundial, seguido pelo
México, Filipinas e Estados Unidos.
[23] Leonildo Silveira Campos. “Evangélico de missão” em
declínio no Brasil: exercícios de demografia religiosa à margem do Censo de
2010. Isso também já tinha sido apontado por Antônio Flávio Pierucci: Cadê
nossa diversidade religiosa? In: Faustino Teixeira & Renata Menezes. As religiões no Brasil. Petrópolis:
Vozes, 2006, p. 50.
[24] Carlos Rodrigues Brandão. Catolicismo. Catolicismos?
Em outro trabalho, Brandão sinalizou que “o catolicismo é uma religião do padre
e da puta, do policial e do bandido, do fiel paroquiano da Renovação
Carismática Católica” e de pessoas que como ele, na porta da igreja se
perguntam: “´entro ou não entro?`,
`Comungo ou não comungo?` , ´Sou católico ainda já não ou mais?`”:
Carlos Rodrigues Brandão. Combinando crenças e práticas. IHU-Online, Ano 4, n. 169, dezembro de 2005, p. 74. Essa categoria “transformação” é chave
para entender não só o campo católico, mas todo o campo religioso mais amplo.
Pierre Sanchis acentuou a sua importância para entender e explicar o “advento,
desta vez inegável, da pluralidade religiosa” no Brasil: Pierre Sanchis.
Pluralismo, transformação, emergência do indivíduo e suas escolhas. IHU em formação. Ano VIII, n. 43, 2012,
p. 37.
[25] Em âmbito mundial, é o quarto país com a maior
presença de evangélicos (protestantes) no mundo, depois dos Estados Unidos,
Nigéria e China.
[26] Como indicam Mariz e Gracino Jr., levando-se em conta
as últimas três décadas, o crescimento evangélico foi de aproximadamente 540%:
de 7.886 milhões em 1980 para 42.275 milhões em 2010.
[27] Houve, na verdade, um pequeno decréscimo dos
evangélicos de missão na última década, que passaram de 4,1% para 4% dos
declarantes, ou seja, 7.686.827 milhões de adeptos.
[28] Em seu artigo, neste livro, Marcelo Camurça enfatiza
a vitalidade dos pentecostais, e em particular da Assembléia de Deus, no
sentido de “acompanhar a capilaridade da geografia social e a mobilidade e o
trânsito de populações para lugares mais recônditos e inalcançáveis do país,
através de organismos ágeis, múltiplos e funcionais”: Marcelo Ayres Camurça. O
Brasil religioso que emerge do Censo 2010: consolidações, tendências e
perplexidades.
[29] Leonildo Silveira Campos. “Evangélicos de missão” em
declínio no Brasil. No caso do catolicismo ocorreu o contrário, com uma sangria
diária na ordem de 465 adeptos por dia na última década. Daí se dizer, com
acerto, que o catolicismo é um “doador universal”, o “principal celeiro” da
arregimentação de adeptos pelos outros credos ou pelos sem religião: Paula
Montero & Ronaldo de Almeida. O campo religioso brasileiro no limiar do
século. In: Henrique Rattner (Org.). Brasil
no limiar do século XXI. São Paulo: Fapesp/Edusp, 2000, p. 330.
[30] Paulo Ayres Mattos. A relevante queda de crescimento
evangélico revelado pelo Censo de 2010. Cadernos
IHU em formação, Ano VIII, n. 43, 2002, p. 30.
[31] Mas mesmo com esse incremento, houve um recuo no peso
percentual com respeito ao grupo evangélico, como assinalaram Mariz e Gracino
Jr, “passando de 68,65% em 2000 para 60,01% no último censo”: As igrejas
pentecostais no Censo de 2010.
[32] Cecília Mariz & Paulo Gracino Jr. As igrejas pentecostais
e o Censo de 2010. Segundo Ricardo
Mariano, em artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo, em 30/06/2012, “o
inchaço da categoria ´evangélica não determinada` reduziu artificialmente o
crescimento pentecostal” (Em marcha, a transformação de demografia religiosa do
país ).
[34] Antônio Flávio Pierucci. “Bye bye, Brasil” – o
declínio das religiões tradicionais no Censo de 2000. Estudos Avançados USP, v. 18, n. 52, setembro/dezembro 2004, p. 19.
[35] Dentre os analistas que buscaram classificar os sem-religião
cf. Sílvia Fernandes. “A (re)construção da identidade religiosa inclui dupla ou
tripla pertença. Cadernos IHU em formação,
ano VIII, n. 43, 2012, p. 24. E também Denise dos Santos Rodrigues. Os sem
religião nos censos brasileiros: sinal de uma crise do pertencimento
institucional. Horizonte, v. 10, n.
28, out./dez. 2012, p. 1137.
[36] Regina Novaes. Jovens “sem religião”: sinais de
outros tempos.
[37] Bernardo Lewgoy. A contagem do rebanho e a magia dos
números: notas sobre o espiritismo no Censo de 2010.
[38] Gilberto Velho. Projeto
e metamorfose. Antropologia das sociedades complexas. 3 ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2003, p. 53-54. Ver também: Pierre Sanchis. O repto pentecostal à
´cultura católico-brasileira”. In: Alberto Antoniazzi et al. Nem anjos nem demônios. Interpretações
sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 37.
[39] Cândido Procópio F. de Camargo. Católicos, protestantes, espíritas. Petrópolis: Vozes, 1973, p. 24.
[40] Reginaldo Prandi. As religiões afro-brasileiras em
ascensão e declínio. Ver também: José Ivo Folmann. Trânsito religioso e o
´permanente peregrinar`. Cadernos IHU em
formação, Ano VIII, n. 43, 2012, p. 14.
[41] Luciana Duccini & Miriam C.M. Rabelo. As
religiões afro-brasileiras no Censo de 2010.
[42] Beth Pissolato. “Tradições indígenas” nos censos
brasileiros: questão em torno do reconhecimento indígena e da relação entre
indígena e religião.
[43] IBGE. Censo
demográfico 2010. Características gerais da população, religião e pessoas
com deficiência. IBGE: 2012, p. 92. Há que sublinhar também os dados relativos
à declaração de múltipla religiosidade no Censo de 2010, envolvendo 15.379
pessoas, ou seja, 0,01%. Já os dados relacionados às religiões não determinadas
ou mal definidas, envolvem 628.219 pessoas, ou seja, 0,33%.
[44] Frank Usarski. As “religiões orientais” segundo o
censo nacional de 2010.
[45] De forma pormenorizada: budismo (243.966 – 0,13% ),
hinduísmo (5.675 – 0,003%% ), igreja messiânica mundial (103.716 – 0,05%),
outras novas religiões mundiais (52.235 – 0,03%) e outras religiões orientais
(9.675 – 0,005% )
[46] Com respeito ao Censo de 2000, houve um acréscimo de
29.093 adeptos.
[47] Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto. Islã em números:
os muçulmanos no Censo Demográfico de 2010.
[48] Conversões que tiveram um extraordinário crescimento
após 2001, em sintonia com a maior visibilidade alcançada pelo islã na
sociedade brasileira, em razão de diversos fatores, entre os quais a novela O
Clone. E isso pode ser visto, em diferentes proporções, sobretudo nas
comunidades muçulmanas do Sudeste. Cf. Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto. Islã: religião e civilização. Uma
abordagem antropológica. Aparecida: Santuário, 2010, p. 195-219.
[49] O que representa 0,06% da população geral.
[50] Monica Grinn & Michel Gherman. Judaísmo e o Censo
de 2010.
[51] Leila Amaral. Cultura religiosa errante. O que o
Censo de 2010 pode nos dizer além dos dados.
[52] Houve um crescimento na declaração de crença
espiritualista na última década: de 39.840 declarantes em 2000 para 61.739
declarantes em 2010, e agora representam 0,03% da população geral.
[53] Ronaldo de Almeida & Rogério Barbosa. Transmissão
religiosa nos domicílios brasileiros.
[54] Renata de Castro Menezes. Às margens do Censo de 2010:
expectativas, repercussões, limites e usos dos dados de religião.
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