quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O Censo de 2010 e as religiões no Brasil: esboço de apresentação

O Censo de 2010 e as religiões no Brasil: esboço de apresentação

Faustino Teixeira
PPCIR-UFJF

Introdução 

            Os primeiros números do Censo de 2010 sobre as religiões no Brasil só foram divulgados pelo IBGE no final de junho de 2012. Uma divulgação que ocorreu quase dois anos depois da aplicação dos questionários pelos recenseadores. O presente livro tem por objetivo trabalhar esses dados com o aporte de inúmeros pesquisadores nacionais. Como porta de entrada, a provocação de Pierre Sanchis, no sentido de augurar uma perspectiva analítica capaz de ultrapassar uma leitura superficial dos dados apresentados  e avançar na espessura desse campo religioso tão complexo e desafiador. Os artigos seguem um fio condutor que acompanha as tendências apresentadas pelos índices do censo. Parte-se de uma análise mais geral dos dados (Antônio Flávio Pierucci e Marcelo Camurça), precedida de uma reflexão temática sobre os números censitários em torno da religião (Clara Mafra). A abordagem dos dados da declaração católica vem desenvolvida por Carlos Rodrigues Brandão e Sílvia Regina Fernandes. O campo dos evangélicos, incluindo a avaliação dos dados sobre os pentecostais, vem trabalhado por Leonildo Campos,  Cecília Mariz e Paulo Gracino. Os sem-religião são objeto da reflexão de Regina Novaes, privilegiando o recorte geracional. O tratamento dos números sobre o espiritismo vem realizado por Bernardo Lewgoy e sobre as religiões afro-brasileiras, por Reginaldo Prandi, Luciana Duccini e Miriam Rabelo. Os dados sobre a religião informada pelos que se autodeclararam indígenas foram trabalhados por Elizabeth Pissolato. Em seguida, o campo específico das outras tradições religiosas, incluindo a abordagem dos índices sobre as religiões orientais (Frank Usarski), sobre o islamismo (Paulo Gabriel H. da Rocha Pinto), o   judaísmo (Mônica Grin e Michel Gherman) e o circuito neo-esotérico (Leila Amaral). Com base nos dados do Censo, abordou-se também o tema da transmissão religiosa e dos deslocamentos verificados, no âmbito dos domicílios brasileiros, o que foi realizado por Ronaldo de Almeida e Rogério Barbosa. Ao final, Renata Menezes, elabora algumas reflexões às margens do Censo de 2010, com enfoque nas suas repercussões, expectativas e limites.

            A apresentação dos dados do Censo de 2010 e o resultado das análises realizadas pelos diversos autores nesse livro indicam uma imagem bem significativa do atual campo religioso no Brasil. Mas há que igualmente sublinhar as importantes mudanças sinalizadas no campo religioso em âmbito mundial, daí a decisão de iniciar essa apresentação com uma visão panorâmica sobre os índices apresentados pelo Pew Research Center[1] em relatório sobre as religiões mundiais, apresentados em 2012, em coincidência com a divulgação dos dados do IBGE sobre as religiões no Brasil.
           
Um olhar mais abrangente 

            Em importante relatório publicado pelo Pew Research Center em dezembro de 2012 sobre o perfil das religiões mundiais, com base em dados de 2010, firma-se um quadro significativo de sua distribuição no mundo[2]. O cristianismo continua hegemônico, abarcando 31,5% da população mundial, com cerca de 2,2 bilhões de adeptos[3].  O islamismo vem em seguida, envolvendo 23,2%  da população geral, com cerca de 1,6 bilhões de adeptos. Os não afiliados[4] vem em terceiro lugar, abrangendo 16,3% da população global, em torno de 1,1 bilhão de adeptos.  O hinduísmo ocupa a quarta posição,  cobrindo 15,0% da população mundial, com aproximadamente 1 bilhão de fiéis. Na sequência, aparecem o budismo (7,1%  - 488 milhões), as religiões étnicas ou regionais (5,9% - 405 milhões)[5], outras religiões (0,8% - 58 milhões)[6] e Judaísmo (0,2% - 14 milhões). 

            Quanto à distribuição geográfica, verifica-se que os cristãos encontram-se situados majoritariamente na Europa ( 25,7% - 558.260.000), na América Latina e Caribe (24,4% - 531.280.000), e na África Subsaariana (23,8% - 517.340.000). Por sua vez, os muçulmanos encontram-se mais presentes na região da Ásia-Pacífico (61,7% - 985.530.000), Oriente Médio e Norte da África (19,8% - 317.070.000) e África Subsaariana (15,5% - 248.110.000). Sua presença na Europa é menos destacada (2,7% - 43.490.000). Os não afiliados encontram-se situados de forma mais viva na Ásia-Pacífico (76,2% - 858.580.000), mas marcam também presença na Europa (12% - 134.820.000), América do Norte (5,2% - 59.040.000) e América Latina e Caribe (4% - 45.390.000). Os hindus situam-se, sobretudo, na Ásia-Pacífico (99,3% - 1.025.470.000), com uma menor presença no Oriente Médio e África do Norte (0,2% - 1.720.000), e África Subsaariana (0,2% - 1.670.000). Os budistas têm melhor representação na Ásia-Pacífico (98,7% - 481.290.000), com presença mais modesta na América do Norte (0,8% - 3.860.000) e na Europa (0,3% - 1.330.000). As religiões étnicas ou regionais marcam sua presença mais decisiva na Ásia-Pacífico (90,1% - 365.120.000), bem como na África Subsaariana (6,6% - 26.860.000) e na América Latina e Caribe (2,5% - 10.040.000). As outras religiões têm também sua presença mais ativa na Ásia-Pacífico (89,2% – 51.850.000), bem como na América do Norte (3,8% - 2.200.000) e África-Subsaariana (3,3% - 1.920.000). Por fim, o judaísmo, que envolve 0,2% da população mundial, tem uma singular presença na América do Norte (43,6% - 6.040.000), mas também no Oriente Médio e África do Norte (40,6% - 5.630.000) e Europa (10,2% - 1.410.000).

            Em clássico texto, o sociólogo Peter Berger questiona a falsa suposição de uma decisiva afirmação da secularização em curso. Trata-se, na verdade, de uma posição que é alvo de debate. Para esse autor, o que ocorre de fato é uma singular e vigorosa “ressurgência” da religião, que ganha uma fisionomia particular nas pujantes presenças tanto da renovação islâmica como da irradiação evangélica, sobretudo pentecostal. Berger reage aos analistas que tendem a negligenciar o fator religioso em suas análises da contemporaneidade, e reitera a singularidade desse componente religioso, que pode operar mesmo fora das atividades de instituições ou grupos religiosos formais, mediante valores difusos.[7] Para ele, não há razão plausível que justifique a menor presença do dado religioso no mundo do século XXI[8].

            Mesmo a Europa, tida por Berger como uma exceção, em razão da presença de indicadores da secularização, “corre o risco de ser cada vez mais afetada pela nova onda religiosa”[9]. Em recente análise feita sobre “as mutações do religioso na França contemporânea”, Philippe Portier sublinha a presença de dois fenômenos simultâneos: a dessubstancialização da civilização católica e o reencantamento da civilização republicana. Se em 1952 cerca de 90% dos franceses se declaravam católicos, essa cifra sofre uma radical queda em torno de 2008, envolvendo agora não mais que 42% dos adeptos, sendo os praticantes regulares em torno de reduzidos 8%. Por outro lado, ocorre uma grande proliferação de religiosidade, de pluralização de denominações religiosas, abarcando em torno de 75% dos franceses. Cresce o circuito dos “neo-protestantes”, bem como a circulação pelos meandros da “nebulosa místico-esotérica” e da “espiritualidade leiga”. A  cosmovisão racionalista não tem a mesma força do passado, sendo agora permeada pelo clima de incerteza de uma sociedade pós-secularizada. Portier indica a vigência de uma peculiar situação, que é ambivalente, onde coexistem “a aspiração em favor da autonomia com a angústia da incompletude”[10].

            Em seu editorial sobre as “metamorfoses da fé”, o historiador das religiões Frédéric Lenoir indica como um panorama possível das religiões nas próximas décadas a manutenção do crescimento cristão, e em particular do evangelismo pentecostal e da irradiação islâmica, assim como a estabilidade de outras tradições religiosas como o hinduísmo, budismo e judaísmo. Lenoir sublinha que ao lado dessas tendências, e em concordância com outros analistas franceses como Jean-Paul Willaime e Raphaël Lioger, “as religiões continuarão se transformando e sofrendo os efeitos da modernidade, notavelmente a individualização e a globalização”. A tendência em curso indica a afirmação “de uma visão cada vez mais pessoal da religião”, dispondo os sujeitos de “dispositivos de sentido” singulares, seja pontuados pelo sincretismo ou pela bricolagem. As buscas identitárias e espirituais continuarão vigentes, salienta Lenoir, mas não mais “vividas como no passado, dentro de uma tradição imutável ou de um dispositivo institucional normativo”[11].

O campo religioso brasileiro e o censo

            No prefácio deste livro, Pierre Sanchis confirma essa “reemergência” do sagrado na vida social e na experiência pessoal, que se dá “ao lado e articuladamente com a secularização”. Constata ainda o crescente interesse pelo fenômeno religioso no âmbito da academia. Dentre as linhas de mudança apontadas por ele, destacam-se a emergência do indivíduo e a crescente desinstitucionalização. Em linha de continuidade com a análise procedida por Lenoir, Sanchis indica que o universo das experiências religiosas deixa de ser regido por estruturas sólidas e reguladoras, tornando-se mais fluido, pontuado agora por relações menos totalizantes entre os fiéis e as suas instituições religiosas de pertença. Fica assim, cada vez mais difícil, a afirmação rígida das declarações de pertença religiosa, exigindo do analista uma reflexão mais afinada para dar conta dessa complexidade.

            Isso tem uma direta repercussão no debate sobre o lugar e a importância do censo para aferir com exatidão o campo religioso brasileiro. Vários dos articulistas do livro tratam desse assunto, mostrando a complexidade nele envolvida. Há dois artigos em especial que abordam especificamente o tema, o de Clara Mafra e o de Renata Menezes. Como argumenta Sanchis, o censo não é senão “um instantâneo sobre a situação que ele visa” e o quadro que ele indica “é dependente das categorias escolhidas”, exigindo atenção do analista para aventar suas hipóteses[12]. Há muita riqueza nessa “memória acumulada” do censo, envolvendo 130 anos de história, desde 1872[13]. Ele traduz “uma fotografia da autodeclaração religiosa em determinado contexto”[14], ajudando no “refinamento do estudo da religião”[15]. Mas trata-se de um instrumento que necessita de “exploração qualificada”, de pesquisas qualitativas que possam agregar outras variáveis para a análise empreendida.

            Com respeito aos dados sobre religião apresentados pelo Censo de 2010, diversas críticas foram tecidas por analistas, relacionadas à sua metodologia[16], à sua dificuldade para  captar a “dinâmica religiosa” do país[17], à sua imprecisão no afinamento do instrumental para compreender o campo protestante, bem como o fenômeno das múltiplas pertenças, dos fluxos e trânsitos religiosos ou os sincretismos menos visíveis[18]. Não há dúvida sobre a ajuda fornecida pelo censo para “visualizar as macrolinhas das transformações de uma década”, mas mostra-se limitado para “qualificar a mudança, ou entender suas nuances”. Só com a ajuda da abordagem qualitativa abre-se o acesso aos “processos mais sutis de transformações e combinações nas esferas dos valores e das crenças”[19].

            Apesar de seus limites, o Censo do IBGE apresenta dados que são muito importantes para sinalizar tendências no campo religioso brasileiro. Um dos traços que vem se delineando desde o Censo de 2010 é a progressiva pluralização e diversificação do campo em questão. Destaca-se também a intensificação do trânsito religioso, da provisoriedade da adesão e a dinâmica da privatização da prática religiosa. Em linha de continuidade com o censo anterior, verifica-se uma queda percentual católica, uma continuidade no crescimento evangélico e em ritmo menor, dos sem religião.

Católicos e evangélicos

            O catolicismo romano é ainda preponderante, mas perde a cada década sua centralidade, passando a se firmar como “religião da maioria dos brasileiros”, mas não mais a “religião dos brasileiros”. E pela primeira vez, no Censo de 2010, a queda percentual dos declarantes católicos refletiu-se em números absolutos, com o ritmo de crescimento menor dos católicos com respeito ao crescimento da população brasileira[20]. Sinalizam com razão, Ronaldo de Almeida e Rogério Barbosa, que essa nova situação do catolicismo foi um dos efeitos da pluralização em curso. Fragiliza-se o peso da tradição e vem reforçada a busca de alternativa individual no processo de afirmação da identidade religiosa[21].   

Mesmo assim, como mostrou Pierucci, apesar desse “declínio moderado, mas constante”, a presença católico-romana é ainda muito grande: “é católico que não acaba mais”[22]. O censo revela a presença de 123.280.172 milhões de declarantes católicos, ou seja, 64,63% da população total. A retração do catolicismo não reflete na diminuição do cristianismo, já que o crescimento dos evangélicos vem se acentuando a cada década. Mudanças são, de fato, visíveis no cenário religioso brasileiro, com sinais visíveis de pluralização, mas o traço da hegemonia cristã permanece aceso: “O Brasil não está deixando de ser um país cristão, embora seja menos católico, protestante tradicional ou ´evangélico de missão` em 2010”[23]. Somando os católicos com os evangélicos chega-se a uma porcentagem de 86,8%, quase 90% de toda a população brasileira declarante. Há que sublinhar também o traço peculiar do catolicismo brasileiro, com suas malhas largas e seu perfil plural. Um catolicismo que acolhe e convive com a diversidade, “em que Deus pode ter muitos rostos”. Sublinha-se que “talvez seja o exemplo mais fiel de uma tradição religiosa – dentro e fora do cristianismo – de um sistema de sentido pluri-aberto, multi-cênico e em constante transformação”[24].

A continuidade do crescimento evangélico esteve também evidenciada nesse Censo de 2010. Na avaliação de Cecília Mariz e Paulo Gracino Jr, em artigo neste livro, ocorreu um significativo incremento na presença evangélica nas últimas décadas, com um salto de 6,6% em 1980 para 22,2% da população geral em 2010[25]. Nada menos do que 42.275.440 milhões de evangélicos para uma população brasileira de 190.755.799[26]. Esse crescimento não se deve aos evangélicos de missão, que permaneceram quase estacionados na última década, na faixa dos 4% de declaração de crença[27]. Deve-se, sobretudo, aos pentecostais, que respondem por 13,3% da população brasileira, ou seja, 25.370.484 milhões de adeptos[28]. Num divertido exercício, Leonildo Campos assinala que os evangélicos conquistaram na última década cerca de 4.408 novos fiéis por dia, e os de origem pentecostal, cerca de 2.124 por dia, sendo a Assembleia de Deus responsável por 1.067 adesões diárias[29]. 

É extraordinário esse crescimento pentecostal em termos absolutos, na faixa de 17 milhões de fiéis entre os anos de 1991 a 2010. Mas os analistas advertem que o crescimento evangélico, incluindo os pentecostais, não pode ser muito otimizado, já que na última década, de 2000 a 2010, esse crescimento foi menor do que o ocorrido na década anterior. Como mostrou Paulo Ayres, o crescimento dos evangélicos entre 1991 e 2000 foi de 120%, enquanto na última década, de 2000 a 2010, esse crescimento foi de aproximadamente 62%[30]. Vale registrar, no campo pentecostal, o decréscimo de fiéis – em números absolutos - ocorrido na última década em igrejas importantes como a Congregação Cristã do Brasil, a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja do Evangelho Quadrangular. Incremento importante teve, por sua vez, a Assembleia de Deus, a maior do campo pentecostal – com 12,3 milhões de adeptos -, que registrou um aumento de 4 milhões de fiéis na última década[31].

A dificuldade de precisão analítica na apreensão correta dos dados sobre os evangélicos deve-se, em parte, ao significativo número de fiéis evangélicos classificados na categoria de “evangélicos não determinados”. Nada menos do que 9,2 milhões de pessoas, perfazendo 21,8% de todo o contingente evangélico, num patamar que envolve 5% de toda a população brasileira. Alguns analistas os identificam como “evangélicos genéricos” ou “evangélicos sem igreja”, indicando a afirmação de uma diversidade interna no campo evangélico, seja mediante caminhos diversificados de assunção da pertença evangélica, seja no exercício de crença fora das instituições, ou na múltipla pertença evangélica.  A inserção desse item classificatório no Censo de 2010 acaba dificultando a aferição analítica do real crescimento evangélico, seja dos evangélicos de missão ou dos evangélicos pentecostais[32].  Para o teólogo luterano, Walter Altmann, esse grande contingente de evangélicos não determinados “já alteraria substancialmente os números referentes a igrejas de origem pentecostal, mas extraordinariamente os referentes às igrejas de missão que muito possivelmente ficaram subcontabilizados”[33].

Sem-religião

Em artigo publicado em 2004, Antônio Flávio Pierucci buscava explicar o “declínio das religiões tradicionais no Censo de 2000”. Ao tratar do refluxo do catolicismo, justificava a situação com o clima instaurado nas sociedades pós-tradicionais, com a crise das filiações tradicionais:

“Nelas os indivíduos tendem a se desencaixar de seus antigos laços, por mais confortáveis que antes pudessem parecer. Desencadeia-se nelas um processo de desfiliação em que as pertenças sociais e culturais dos indivíduos, inclusive as religiosas, tornam-se opcionais e, mais que isso revisáveis, e os vínculos, quase só experimentais, de baixa consistência. Sofrem, fatalmente, com isso, claro, as religiões tradicionais” [34] .

            A crescente afirmação dos sem religião nos dois últimos censos pode encontrar uma pista de interpretação nessa abordagem de Pierucci. Os declarantes que se encaixam nessa categoria estão mesmo desencaixados de laços institucionais, situando-se, melhor, como peregrinos do sentido. São pessoas que, como bem expressou Sílvia Fernandes, estão “em redefinição de identidade”. Dentre os tipos predominantes de sem-religião encontram-se aqueles que se desvincularam de uma religião tradicional e afirmam sua crença com base em rearranjos pessoais; aqueles que passaram por diversos trânsitos mas que não se encontraram em nenhum deles; aqueles que mantêm uma espiritualidade leiga ou secular; aqueles que mantêm uma filiação fluida em razão da indisponibilidade de participação religiosa regular e aqueles que se definem como ateus ou agnósticos[35].

            No Censo de 2010, foram cerca de 15,3 milhões de pessoas classificadas nessa categoria de sem-religião, ou seja, 8% da população geral. E curiosamente, o grupo dos agnósticos ou ateus não é o mais expressivo dentre os declarantes, envolvendo respectivamente 124,4 mil (0,07%) e 615 mil (0,32%) pessoas. No artigo redigido para este livro, Regina Novaes destacou nessa categoria uma presença jovem, sendo a idade média em torno de 26 anos. Daí ter privilegiado esse recorte para o desenvolvimento de seu trabalho. São jovens que “vivem sobretudo nas cidades” embora não estejam ausentes no campo, com boa representação no Sudeste. A autora identificou em suas pesquisas a presença, entre os jovens, de “histórias de conversões e de desconversões, de trânsitos e combinações no interior de suas famílias multireligiosas”. Em sua pertinente análise, Regina reconhece que na trajetória dos jovens entrevistados pelo IBGE existem, de fato, experiências de desfiliação ou mesmo desafeição religiosa, mas que é problemático generalizações apressadas, pois para muitos jovens as instituições religiosas não perdem o seu valor de locus de agregação, motivação ou afirmação de sentido. O que ocorre, na verdade, é a redefinição de vínculos ou pertencimentos, que se firmam de outros modos, e nem sempre “por dentro dos circuitos institucionais, mas também fora e à margem”. Nesse sentido, “declarar-se ´sem-religião` pode ser um ponto de partida, um interregno entre pertencimentos ou um ponto de chegada onde se realiza sínteses pessoais combinando elementos de diferentes tradições religiosas e esotéricas”[36].

Espíritas e afro-brasileiros

            As taxas de crescimento nominal, no Censo de 2010, também vigoraram para a declaração espírita. Houve na última década um acréscimo vigoroso de adeptos do espiritismo kardecista, que passaram de 1,3% em 2000 para 2,02% em 2010. São hoje cerca de 3,8 milhões de seguidores do espiritismo no Brasil. Como mostra Bernardo Lewgoy, “o espiritismo brasileiro passou, nas últimas décadas, por um processo de transformação, de minoria religiosa perseguida para alternativa religiosa legítima, que oferece explicação de sucessos, conforto para aflições e cura espiritual de infortúnios, a partir de uma doutrina que se pretende simultaneamente científica e religiosa”[37].

A presença espírita na sociedade brasileira não consegue ser captada satisfatoriamente pelos dados do censo, que traduzem simplesmente um olhar de “superfície”. Lewgoy chama a atenção para “as dinâmicas e estratégias de mobilidade e afiliação religiosa concreta dos atores sociais” que só com o aporte de pesquisas qualitativas, com bons recursos hermenêuticos, conseguem ser delineadas. Ha que sublinhar, igualmente, um dado reiterado por analistas das ciências sociais a propósito da “impregnação espírita da sociedade brasileira”. Como mostrou Gilberto Velho, entre outros, o “transe, possessão e mediunidade são fenômenos religiosos recorrentes na sociedade brasileira”. E não só no espiritismo, mas também nas religiões afro, no pentecostalismo e outros grupos religiosos. Esse autor chega a sugerir que em torno da metade da população brasileira “participa diretamente de sistemas religiosos em que a crença nos espíritos e na sua periódica manifestação através dos indivíduos é característica fundamental”[38]. 

O sociólogo Cândido Procópio de Camargo, com base nos Censos de 1940 a 1960, sublinhava o papel singular do “gradiente Espiritismo-Umbanda” como “beneficiário” do processo de transição religiosa em curso no Brasil[39]. Reginaldo Prandi, em artigo deste livro, lembra essa previsão de Cândido Camargo, e mostra como ela, de fato, não se realizou. O que se destaca nos últimos Censos é um “declínio constante” do conjunto das religiões afro, sobretudo da umbanda, mantendo-se no reduzido patamar de 0,3% da população brasileira. Prandi reconhece que na última década houve uma “pequena reação da umbanda”, que passou de 397.431 adeptos, em 2000, para 407.331, em 2010. Mas adverte que “o fraco crescimento observado foi insuficiente para recuperar as perdas sofridas anteriormente”. Trata-se de uma perda que se revela progressiva, desde o Censo de 1991, quando a umbanda e o candomblé passaram a contar com estatísticas separadas. O mesmo não ocorre com o candomblé, que em 2000 contava com 139 mil adeptos e ganha um acréscimo de 28 mil adeptos em 2010, passando a 167 mil declarantes.

Mas assim como ocorre no aferimento da declaração dos espíritas, também com respeito às religiões afro-brasileiras há dificuldades precisas de detectar a real presença da umbanda e do candomblé no Brasil. Como indica Prandi, o Censo “sempre ofereceu números subestimados dos seguidores das religiões afro-brasileiras, o que se deve às circunstâncias históricas nas quais essas religiões se constituíram no Brasil e a seu caráter sincrético daí decorrente”. Continua vigente a tendência de adeptos das religiões afro-brasileiras camuflarem sua identidade registrando uma declaração de crença distinta, seja na rubrica católica ou espírita[40].

Numa abordagem mais otimista sobre os rumos das religiões afro-brasileiras, também presente neste livro, as pesquisadoras Luciana Duccini e Miriam Rabelo reconhecem que apesar de sua reduzida expressão numérica, essas religiões “jogam um papel importante em debates sobre formação da sociedade brasileira e na política identitária de segmentos desta sociedade”[41]. Na análise dessas autoras, o que o Censo de 2010 revela é “uma recuperação no crescimento dessas religiões, que até então vinham perdendo adeptos”. Se houve um crescimento negativo entre os anos de 1991 e 2000, os dados do último Censo revelam um “incremento de 12,5%”, sobretudo em razão do crescimento do candomblé, que foi da ordem de 31,2%, bem como da umbanda, na ordem de 2,5%.



Tradições indígenas e outras religiões

            Os dados indicados pelo Censo de 2010 com respeito às tradições indígenas no Brasil revelam um crescimento com respeito à década passada. Enquanto em 2000 os números indicavam 10.723 adeptos de tradições indígenas, no ano de 2010 esse número passou para 63.082. O tratamento dessa questão no presente livro ficou a cargo de Elizabeth Pissolato[42]. Uma importante observação feita pela autora em seu trabalho diz respeito à inadequação da utilização da categoria “raça ou cor” para favorecer o autoreconhecimento indígena para muitos dos adeptos que se autodeclararam indígenas, mesmo não reconhecendo tais critérios como indicativos dessa pertença. Isso denota um componente de “valorização cultural” implicado na inclusão da categoria “tradições indígenas” na pesquisa censitária a partir de 2000. Dentre outros destaques de sua interpretação vale registrar a presença significativa de indígenas que se autodeclararam sem religião, em torno de 14,5%; bem como o crescimento daqueles que se autodeclaram evangélicos (25%). Quanto aos que se autodeclaram católicos (51%), que é uma porcentagem alta, houve um decréscimo na última década, já que em 2000 eram 58,9%. A autora sublinha como um traço importante o “aumento extraordinário” ocorrido na última década, e destacado no Censo, das declarações de indígenas em favor da “tradições indígenas” como religião, de 1,4% dos declarantes em 2000 para cerca de 5,3% em 2010.

            Com base nos dados do Censo de 2010 não há como negar a força do referencial cristão na sociedade brasileira. Mas já se começa a perceber nele uma diversificação cada vez mais evidenciada. Junto com essa multiformidade interna ao campo cristão, verifica-se também  uma pluralização religiosa cada vez maior, com visibilização crescente. As outras religiões, que no Censo de 2000 concentravam 1,8% da declaração geral de crença, passam agora a responder por 2,7% dessa declaração[43]. Na presente obra, essas outras religiosidades foram abordadas em quatro frentes: religiões orientais, islamismo, judaísmo e circuito neo-esotérico.

            Os números relativos às religiões orientais foram trabalhados por Frank Usarski[44]. Nessa classificação estão envolvidas a tradição budista, hinduísta, as novas religiões orientais (igreja messiânica mundial e outras novas religiões orientais) e as outras religiões orientais. Como assinala o autor, essas tradições religiosas nunca alcançaram um “patamar quantitativamente significante” no Brasil. Permanecem como “minoria religiosa” no país, envolvendo a estreita parcela de 0,22% da população brasileira[45]. Dentre essas tradições, destaca-se o budismo, com 0,13% da população brasileira[46]. Segundo Usarski, “a adesão a uma das ´religiões orientais` é um fenômeno relativamente incomum entre brasileiros”, ainda que o cotidiano da nação seja penetrado por símbolos e técnicas culturais provenientes do Oriente. Esse envolvimento não vem, porém, traduzido em disponibilidade de adesão específica a determinada religião oriental. Com respeito ao Censo de 2000, houve um crescimento na adesão a uma das religiões orientais, expresso no aumento de 32.902 pessoas declarantes. Em termos de localização geográfica, estas tradições religiosas estão melhor representadas no Sudeste, envolvendo 78,5% dos budistas, 66,91% dos adeptos de uma das chamadas novas religiões orientais e 46,4% dos seguidores das outras religiões orientais. Na avaliação de Usarski, a sociedade brasileira, sensível à interlocução da alteridade, “oferece boas condições para a ´evolução` das ´religiões orientais`”, embora a afirmação dessa presença religiosa parece ainda improvável num futuro próximo, tendendo a manter sua condição de minoria religiosa. 

            Quanto ao islamismo, que tem uma pujante irradiação mundial,  encontra-se no Brasil com presença mais modesta. Há, porém, que destacar o seu crescimento no país entre os dois últimos censos. No Censo de 2000, o número de declarantes muçulmanos foi de 18.592, passando para 35.167 no Censo de 2010. Trata-se de um crescimento considerável, mas que no quadro geral da população brasileira representa apenas 0,02%. A análise destes dados foi desenvolvida no livro por Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto[47]. O autor sublinha que os dados apresentados pelo Censo não coincidem com os índices apresentados pelas instituições islâmicas presentes no Brasil ou suas lideranças, que indicam um número bem maior, estimado entre 1 a 3 milhões de adeptos. O que se observa, na verdade, indica o autor, é um real crescimento das instituições islâmicas no país, que chegam a quase 100 em 2012, com maior concentração nas regiões Sul e Sudeste. O islamismo no Brasil tem um traço bem urbano e um índice importante de presença masculina, com presença mais destacada em São Paulo (42% dos muçulmanos declarados) e Paraná (27%). Registra-se ainda outro dado importante, que é o aumento do número de conversões de brasileiros ao islã[48].

O tema do judaísmo foi desenvolvido por Monica Grin e Michel Gherman. Os dados apontados pelo Censo indicam a presença de 107 mil adeptos desta tradição religiosa[49], com um leve aumento com respeito a 2000, quando estavam representados por 101 mil seguidores. Os autores destacam a complexidade da identidade judaica, que não se esgota nos limites da religião, indicando que aqueles que se declaram judeus ao responderem ao censo não são “necessariamente ´praticantes do judaísmo`”. Sublinham que o traço característico do judaísmo no Brasil é a sua diversificação plural, abarcando desde o judaísmo ortodoxo, que vem aos poucos se consolidando, até comunidades mais inovadoras, influenciadas por práticas da New Age. Trata-se de um judaísmo “mais multifacetado em suas manifestações do que apenas uma religião monoteísta e de fronteiras tradicionalmente fechadas à conversão de não-judeus”[50].  A comunidade judaica no Brasil, que se destaca dentre as outras comunidades desta tradição nas américas do sul e central, concentra-se sobretudo nos grandes centros urbanos.

O Censo de 2010 sinalizou também a presença das tradições esotéricas no Brasil, com um registro minguado de 0,04 de declaração de crença, mantendo o mesmo patamar indicado no Censo de 2000, com um aumento reduzido: de 67 mil declarantes em 2000 para 74 mil em 2010. A abordagem desse circuito neo-esotérico ficou a cargo de Leila Amaral[51]. A autora mostra com pertinência a tendência hoje em curso para o aumento de disponibilidade dos indivíduos para a “experimentação religiosa, para além de seus limites institucionais”. Como parte dessa cultura religiosa errante, inserem-se aqueles que emigraram das religiões institucionais, aqueles de religiosidade não determinada ou núcleos daqueles que foram classificados entre os sem religião. Na visão de Leila Amaral, o número reduzido de declarações nesse campo tem também a ver com o fato de que as pessoas que se inserem no circuito neo-esotérico não se definem ou se reconhecem nessa rubrica. Ou seja, a classificação escolhida pelo IBGE para situar esse “circuito” religioso não dá conta de captar com precisão o fenômeno desses “buscadores da nova era”. Em tentativa de explicação, a autora arrisca-se a dizer que os adeptos desse circuito, com base nas pesquisas acadêmicas e qualitativas, estariam “pulverizados por entre as diversas categorias identificadas no Censo de 2010”. Para além de sua inserção no campo definido das tradições esotéricas, estariam também presentes entre os espiritualistas[52], os sem religião, e também entre aqueles situados nas tradições religiosas tradicionais, como as cristãs, e no catolicismo em particular. O traço peculiar dessa “cultura religiosa errante” é a experimentação e o trânsito. O que há nela de central “é a suspensão dos comprometimentos identitários que possam se apresentar como um obstáculo para a experimentação de sentido”.

A abordagem das religiões vem complementada com a reflexão de Ronaldo de Almeida e Rogério Barbosa em torno dessa temática do trânsito religioso no Brasil, mas privilegiando o processo de transmissão religiosa no âmbito familiar[53]. Partindo do pressuposto da importância dos domicílios como “espaços privilegiados” da reprodução religiosa, os autores lançam a hipótese de que a família vem perdendo o seu lugar na transmissão e propagação da religião. O fenômeno atual da pluralização religiosa repercute também nesse campo familiar, que passa a lidar com a complexidade das identidades fluidas e o recorrente trânsito religioso. Os autores buscam, com base nos censos, dimensionar em que ciclo de vida as religiões são mais frequentes e indicam:

“conforme a faixa etária aumenta, deixa-se de ser católico e começa-se a se declarar sem religião em um primeiro momento, que é seguido pela adesão aos evangélicos, principalmente os pentecostais. Mas conforme se direciona para o final da vida as pessoas ficam mais religiosas e se distribuem entre católicos e evangélicos”.

Imagem do Brasil

O livro conclui-se com o artigo de Renata Menezes e traz à baila uma série de reflexões e indagações sobre o Censo de 2010. Aborda inicialmente a grande repercussão e ressonância alcançada pela divulgação dos dados sobre religião em âmbito nacional. Lança algumas hipótese singulares sobre os números da religião apresentados no Censo e as incidências dos dados sobre as representações do Brasil. O Censo apresenta não só uma “autodeclaração religiosa”, mas também um retrato do país:

“a cada década, um novo censo traz consigo a tensão de apresentar uma imagem do país que pode nos surpreender e com a qual precisaremos nos acostumar e tentar interpretar. É como se a dinâmica de transformações do universo religioso estivesse continuamente redefinindo a cara da nação, ao redesenhar os contornos do pertencimento religioso de seu povo”[54].

            Com essa ampla apresentação do livro, busca-se incentivar o leitor a avançar com calma na leitura de cada um dos artigos presentes na obra, e armar-se de elementos para melhor entender esse complexo e dinâmico campo religioso brasileiro. Vai aqui o sincero agradecimento a cada um dos articulistas, que se dispuseram a atender com generosidade ao convite realizado. Os artigos trazem uma riqueza de reflexão que é inegável, favorecendo aos estudiosos, mas também ao público em geral um rico panorama dessa imagem do Brasil através dos dados sobre religião fornecidos pelo IBGE com o Censo de 2010. Vai também um agradecimento especial à Editora Vozes, pela acolhida da proposta e ao ISER-Assessoria, e em especial a Nevio Fiorim pela preciosa ajuda na revisão dos originais. Em nome de todos os autores que contribuíram para a realização dessa obra, a nossa sincera homenagem a Antônio Flávio Pierucci, a quem vai dedicado esse trabalho.´﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽seram a atender com gr mas tambtrazem uma riqueza de reflexada um dos articulistas, que se dispuseram a atender com gr

Publicado em: Faustino Teixeira & Renata Menezes (Orgs). Religiões em Movimento. O Censo de 2010. Petrópolis: Vozes, 2013 (apresentação geral do livro)
           



[1] Trata-se de um dos mais importantes centros de pesquisa de opinião pública dos Estados Unidos da América. Um think tank localizado em Washington DC, que presta “informações sobre questões, atitudes e tendências que estão moldando os EUA e o mundo”.

[2] Pew Research Center. The Global Religious Landscape. A report on the Size and Distribution of the World´s Major Religious Groups as of 2010. December 2012.
Cf. http://www.pewforum.org/global-religious-landscape-exec.aspx (acesso em 16/04/2013).
[3] E dentre os cristãos, os católicos ocupam a primeira posição, respondendo pela metade desse contingente de adeptos (50%), e na sequência, a tradição protestante, com a inclusão dos anglicanos e outras tradições evangélicas independentes, e igrejas não denominacionais (37%), bem como a Comunhão Ortodoxa da Grécia e da Rússia (12%).
[4] Como tradução de Religiously Unaffilliated, categoria que inclui ateus, agnósticos ou pessoas que não se enquadram em nenhuma das religiões indicadas na pesquisa. Destaca-se sua presença em países como a China, Japão e Estados Unidos. Com base nos dados de 2010, o já citado relatório do Pew Research Center indicou o envolvimento de 16,4% de toda a população americana nessa categoria. Mas segundo um survey mais recente do mesmo centro de pesquisa americano,  realizado em 2012, esses números cresceram, envolvendo agora 19,6% dos americanos adultos, dos quais 3,3% são agnósticos e 2,4% ateus:
[5] Nessa categoria incluem-se as religiões africanas tradicionais, as religiões populares chinesas, as religiões americanas nativas ou dos povos originários e as religiões dos aborígenes australianos.
[6] A categoria inclui as seguintes religiões:  baha´i,  taoísmo,  jainismo, xintoísmo, tenrikyo, wicca, zoroastrismo e outras.
[7] O importante crescimento dos não-afiliados (Unaffiliated) em âmbito mundial, como apontado nas recentes pesquisas do Pew Research Center, sinaliza uma distinta presença desse religioso, envolvendo também agnósticos e ateus. São nada menos do que 1,1 bilhão de adeptos, cerca de 16% da população mundial (uma em cada seis pessoas).
[8] Peter L. Berger. La désecularisation du monde: un point de vue global. In: _____. (Ed.). Le réenchantement du monde. Paris: Bayard, 2001, p. 28. Ver ainda p. 19-24.
[9] Fréderic Lenoir. Les metamorfoses de la foi. Le monde des religions, n. 58, septembre-octobre 2012 (L´editorial).
[10] Philippe Portier. Les mutations du religieux dans la France contemporaine. Social Compass, v. 59, n. 2, june 2012, p. 193-207.
[11] Fréderic Lenoir. Les metamorfoses de la foi.
[12] Pierre Sanchis. Prefácio. In: Faustino Teixeira & Renata Menezes. Imagens do Brasil. As religiões no Censo de 2010. Petrópolis: Vozes, 2013. A seguir, os demais artigos do livro serão sempre indicados apenas com a autoria e o título.
[13] Clara Mafra. O que os homens e as mulheres podem fazer com números que fazem coisas.
[14] Renata Menezes. Censo 2010, fotografia panorâmica da vida nacional. Cadernos IHU em formação, ano VIII, n. 43, 2012, p. 42.
[15] Silvia Regina Alves Fernades. Os números de católicos – mobilidades, experimentação e propostas não redutivistas na análise do censo.
[16] Walter Altmann. Censo IBGE 2010 e religião. Horizonte, v. 10, n. 28, out./dez. 2012, p. 1126; Reginaldo Prandi. As religiões afro-brasileiras em ascensão e declínio.
[17] Renata Menezes. Censo 2010, fotografia panorâmica da vida nacional, p.  44. Ver também: Jose Ivo Folmann. Trânsito religioso e o “permanente peregrinar”. Cadernos IHU em formação, ano VIII, n. 43, 2012, p. 14.
[18] Leonildo Silveira Campos. “Evangélicos de missão” em declínio no Brasil: exercícios de demografia religiosa à margem do Censo de 2010; Bernardo Lewgoy. A contagem do rebanho e a magia dos números: notas sobre o espiritismo no Censo de 2010; Ronaldo de Almeida. Transmissão religiosa nos domicílios brasileiros.
[19] Renata Menezes. Censo 2010, fotografia panorâmica da vida nacional, p. 42.
[20] Como mostrou Silvia Fernandes em seu artigo neste livro, os dados do IBGE indicam “que a população católica cresce a um ritmo sempre inferior ao crescimento populacional em cada região brasileira, ao contrário do conjunto de evangélicos que possui crescimento sempre acima da população”: Sílvia Regina Alves Fernandes. Os números de católicos no Brasil. Ver também: Marcelo Camurça. O Brasil religioso que emerge do Censo 2010: consolidações, tendências e perplexidades.
[21] Ronaldo de Almeida & Rogério Barbosa. Transmissão religiosa nos domicílios brasileiros.
[22] Antônio Flávio Pierucci. O crescimento da liberdade religiosa e o declínio da religião tradicional: a propósito do Censo de 2010. É o país, com a maior presença de católicos em âmbito mundial, seguido pelo México, Filipinas e Estados Unidos.
[23] Leonildo Silveira Campos. “Evangélico de missão” em declínio no Brasil: exercícios de demografia religiosa à margem do Censo de 2010. Isso também já tinha sido apontado por Antônio Flávio Pierucci: Cadê nossa diversidade religiosa? In: Faustino Teixeira & Renata Menezes. As religiões no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 50.
[24] Carlos Rodrigues Brandão. Catolicismo. Catolicismos? Em outro trabalho, Brandão sinalizou que “o catolicismo é uma religião do padre e da puta, do policial e do bandido, do fiel paroquiano da Renovação Carismática Católica” e de pessoas que como ele, na porta da igreja se perguntam: “´entro ou não entro?`,  `Comungo ou não comungo?` , ´Sou católico ainda já não ou mais?`”: Carlos Rodrigues Brandão. Combinando crenças e práticas. IHU-Online, Ano 4, n. 169, dezembro de 2005, p. 74. Essa categoria “transformação” é chave para entender não só o campo católico, mas todo o campo religioso mais amplo. Pierre Sanchis acentuou a sua importância para entender e explicar o “advento, desta vez inegável, da pluralidade religiosa” no Brasil: Pierre Sanchis. Pluralismo, transformação, emergência do indivíduo e suas escolhas. IHU em formação. Ano VIII, n. 43, 2012, p. 37.
[25] Em âmbito mundial, é o quarto país com a maior presença de evangélicos (protestantes) no mundo, depois dos Estados Unidos, Nigéria e China.
[26] Como indicam Mariz e Gracino Jr., levando-se em conta as últimas três décadas, o crescimento evangélico foi de aproximadamente 540%: de 7.886 milhões em 1980 para 42.275 milhões em 2010.
[27] Houve, na verdade, um pequeno decréscimo dos evangélicos de missão na última década, que passaram de 4,1% para 4% dos declarantes, ou seja, 7.686.827 milhões de adeptos.
[28] Em seu artigo, neste livro, Marcelo Camurça enfatiza a vitalidade dos pentecostais, e em particular da Assembléia de Deus, no sentido de “acompanhar a capilaridade da geografia social e a mobilidade e o trânsito de populações para lugares mais recônditos e inalcançáveis do país, através de organismos ágeis, múltiplos e funcionais”: Marcelo Ayres Camurça. O Brasil religioso que emerge do Censo 2010: consolidações, tendências e perplexidades.
[29] Leonildo Silveira Campos. “Evangélicos de missão” em declínio no Brasil. No caso do catolicismo ocorreu o contrário, com uma sangria diária na ordem de 465 adeptos por dia na última década. Daí se dizer, com acerto, que o catolicismo é um “doador universal”, o “principal celeiro” da arregimentação de adeptos pelos outros credos ou pelos sem religião: Paula Montero & Ronaldo de Almeida. O campo religioso brasileiro no limiar do século. In: Henrique Rattner (Org.). Brasil no limiar do século XXI. São Paulo: Fapesp/Edusp, 2000, p. 330.
[30] Paulo Ayres Mattos. A relevante queda de crescimento evangélico revelado pelo Censo de 2010. Cadernos IHU em formação, Ano VIII, n. 43, 2002, p. 30.
[31] Mas mesmo com esse incremento, houve um recuo no peso percentual com respeito ao grupo evangélico, como assinalaram Mariz e Gracino Jr, “passando de 68,65% em 2000 para 60,01% no último censo”: As igrejas pentecostais no Censo de 2010.
[32] Cecília Mariz & Paulo Gracino Jr. As igrejas pentecostais e o Censo de 2010.  Segundo Ricardo Mariano, em artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo, em 30/06/2012, “o inchaço da categoria ´evangélica não determinada` reduziu artificialmente o crescimento pentecostal” (Em marcha, a transformação de demografia religiosa do país ).
[33] Walter Altmann. Censo IBGE 2010 e religião, p. 1128.
[34] Antônio Flávio Pierucci. “Bye bye, Brasil” – o declínio das religiões tradicionais no Censo de 2000. Estudos Avançados USP, v. 18, n. 52, setembro/dezembro 2004, p. 19.
[35] Dentre os analistas que buscaram classificar os sem-religião cf. Sílvia Fernandes. “A (re)construção da identidade religiosa inclui dupla ou tripla pertença. Cadernos IHU em formação, ano VIII, n. 43, 2012, p. 24. E também Denise dos Santos Rodrigues. Os sem religião nos censos brasileiros: sinal de uma crise do pertencimento institucional. Horizonte, v. 10, n. 28, out./dez. 2012, p. 1137.
[36] Regina Novaes. Jovens “sem religião”: sinais de outros tempos.
[37] Bernardo Lewgoy. A contagem do rebanho e a magia dos números: notas sobre o espiritismo no Censo de 2010.
[38] Gilberto Velho. Projeto e metamorfose. Antropologia das sociedades complexas. 3 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p. 53-54. Ver também: Pierre Sanchis. O repto pentecostal à ´cultura católico-brasileira”. In: Alberto Antoniazzi et al. Nem anjos nem demônios. Interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994, p. 37.
[39] Cândido Procópio F. de Camargo. Católicos, protestantes, espíritas. Petrópolis: Vozes, 1973, p. 24.
[40] Reginaldo Prandi. As religiões afro-brasileiras em ascensão e declínio. Ver também: José Ivo Folmann. Trânsito religioso e o ´permanente peregrinar`. Cadernos IHU em formação, Ano VIII, n. 43, 2012, p. 14.
[41] Luciana Duccini & Miriam C.M. Rabelo. As religiões afro-brasileiras no Censo de 2010.
[42] Beth Pissolato. “Tradições indígenas” nos censos brasileiros: questão em torno do reconhecimento indígena e da relação entre indígena e religião.
[43] IBGE. Censo demográfico 2010. Características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. IBGE: 2012, p. 92. Há que sublinhar também os dados relativos à declaração de múltipla religiosidade no Censo de 2010, envolvendo 15.379 pessoas, ou seja, 0,01%. Já os dados relacionados às religiões não determinadas ou mal definidas, envolvem 628.219 pessoas, ou seja, 0,33%.
[44] Frank Usarski. As “religiões orientais” segundo o censo nacional de 2010.
[45] De forma pormenorizada: budismo (243.966 – 0,13% ), hinduísmo (5.675 – 0,003%% ), igreja messiânica mundial (103.716 – 0,05%), outras novas religiões mundiais (52.235 – 0,03%) e outras religiões orientais (9.675 – 0,005% )
[46] Com respeito ao Censo de 2000, houve um acréscimo de 29.093 adeptos.
[47] Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto. Islã em números: os muçulmanos no Censo Demográfico de 2010.
[48] Conversões que tiveram um extraordinário crescimento após 2001, em sintonia com a maior visibilidade alcançada pelo islã na sociedade brasileira, em razão de diversos fatores, entre os quais a novela O Clone. E isso pode ser visto, em diferentes proporções, sobretudo nas comunidades muçulmanas do Sudeste. Cf. Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto. Islã: religião e civilização. Uma abordagem antropológica. Aparecida: Santuário, 2010, p. 195-219.
[49] O que representa 0,06% da população geral.
[50] Monica Grinn & Michel Gherman. Judaísmo e o Censo de 2010.
[51] Leila Amaral. Cultura religiosa errante. O que o Censo de 2010 pode nos dizer além dos dados.
[52] Houve um crescimento na declaração de crença espiritualista na última década: de 39.840 declarantes em 2000 para 61.739 declarantes em 2010, e agora representam 0,03% da população geral.
[53] Ronaldo de Almeida & Rogério Barbosa. Transmissão religiosa nos domicílios brasileiros.
[54] Renata de Castro Menezes. Às margens do Censo de 2010: expectativas, repercussões, limites e usos dos dados de religião.

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