A Igreja em tempo de espera
Faustino Teixeira
PPCIR-UFJF
A
Igreja Católica Romana viveu nesses dias uma situação inusitada com o anúncio
da renúncia do Papa Bento XVI, prevista para o dia 28 de fevereiro. Dentre os
argumentos apontados para esse gesto corajoso, destacou-se a princípio a
fragilidade da saúde do pontífice, mas crescem também os indícios de que
conflitos internos na Cúria romana, de “lutas fratricidas”, tenham contribuído
para a decisão de Bento XVI. Num pontificado marcado por turbulências, algumas
iniciativas tomadas em favor da transparência eclesial e da purificação de
posturas problemáticas, como as relacionadas à pedofilia na Igreja, provocaram
irritação nos segmentos mais conservadores, levando o papa a uma situação de
solidão e a um “tormento” interior que acabaram incidindo na sua tomada de
posição. Mas como sublinhou o vaticanista Marco Politi, citando Paulo VI, não
há como fugir da solidão no papado. A questão mais séria relaciona-se com a
escolha dos colaboradores e a eficiência das estratégias definidas. Nesse
ponto, como em outros, fraquejou o pontificado. Como sinaliza Politi,
“Ratzinger experimenta o fracasso de decisões que imaginava profícuas, dá-se
conta da ineficiência de quem na Cúria deveria sustentá-lo e assiste impotente
a uma revolta que se propaga nos meios de comunicação”. A renúncia do papa é
apenas sintoma de algo muito mais grave que ocorre no tecido eclesial, de
“crise de um sistema de governo e de uma forma de papado”. Com o gesto ousado
do papa, talvez sua “única grande reforma”, abre-se agora um campo novo para as
mudanças necessárias na vida da Igreja Católica, para que possa se reinventar a
partir do fermento evangélico. Trata-se do grande desafio que se apresenta para
o conclave que vai eleger o novo papa. Os caminhos de abertura estão embaçados,
pois na atual composição do colégio de cardeais que vai eleger o novo papa,
todos foram escolhidos nas gestões dos dois últimos pontífices: 51 no
pontificado de João Paulo II e 67 no de Bento XVI. E a grande maioria está bem
alinhada na dinâmica restauradora que marcou os últimos decênios. Mas tudo pode
acontecer num conclave que se anuncia complexo e demorado. A maior parte dos
eleitores procede do Norte, enquanto a maioria dos fiéis católicos encontra-se
no Sul. O desafio que se anuncia para o novo papa é de índole pastoral: saber
responder com dignidade, ousadia e profecia aos grandes reptos de nosso tempo.
Não faz mais sentido continuar na tradicional cantilena da defesa de princípios
não negociáveis. Há que saber ousar com criatividade e liberdade. Como bem
sinalizou Juan Arias, “o importante é que o sucessor de Bento XVI seja capaz de
entender que o mundo está mudando rapidamente e que de nada servirá à Igreja
continuar levantando muros para impedir que lhe cheguem os gritos de mudança
que provêm de boa parte da própria cristandade”.
(Publicado
no Jornal Tribuna de Minas – Juiz de Fora, em 17/02/2013)
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