Ismael e Isaac, dois irmãos do espírito
A minha leitura bíblica hoje pela manhã, 14 de outubro de 2024, fez destacar um traço do etnocentrismo presente no texto de Paulo, na carta aos Gálatas. A forma como o apóstolo trata de Ismael, reflete, na prática o jeito que certos israelitas vêem os seus herdeiros no mundo do Islã. O nome Ismael, é de beleza única, “isma-el”, ou seja: “Deus o escuta”.
Infelizmente, Paulo nesta carta, passa-nos uma imagem sombria de Ismael. O apóstolo diz, primeiramente, que Ismael é filho da escrava enquanto Isaac é filho da livre. O filho da escrava, diz a carta, “nasceu segundo a carne”, enquanto Isaac nasceu “em virtude da promessa”. E porque Ismael também não traz consigo uma bonita promessa? Paulo sublinha que Hagar gerou “filhos para a escravidão”. E a convicção paulina se firma em palavra que são duras: “Irmãos, não somos filhos de uma escrava; somos filhos da mulher livre”, e finaliza: “Não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão” (Gl 4)
Em tempos que anseiam por diálogo, ler essa leitura foi difícil para mim. Viva Isaac e Ismael, os dois com a mesma dignidade. Isaac não pode sobreviver em nós “amputado de um irmão”, e não de um irmão qualquer, mas de “um garoto decidido a procura-lo onde quer que esteja, debaixo da terra ou no céu”. Os dois devem estar juntos na vida e no coração de todos, e não apenas no momento do enterre de seu pai Abraão, aquele que os trouxe à vida.
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