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quarta-feira, 2 de julho de 2025

Do diálogo à doutrina: uma nova sinalização na conjuntura eclesial

 Do diálogo à doutrina: uma nova sinalização na conjuntura eclesial

 

Pensando aqui no momento atual do pontificado de Leão XIV. Ainda é cedo para avaliações mais precisas, mas fico preocupado com o acento que o novo papa vem dando ao termo “doutrina”, bem como “Unidade”. São duas expressões que marcam a sua entrada no pontificado. Penso que nós de Emaús devemos estar atentos ao que está por vir. Os núcleos conservadores, como o Centro Dom Bosco, estão radiantes de alegria com os primeiros indícios que se manifestam. Cito aqui a recente remoção de Vincenzo Paglia do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família. Em seu lugar veio nomeado o cardeal Baldassare Reina, que é vigário geral e Chanceler da Lateranense. Isso significa que Leão XIV está preocupado com os debates que aconteceram anteriormente, com Francisco, a respeito da família. Vale agora o seu novo mote: a família é fundamentada na “união estável entre um homem e uma mulher”. Como lembrou um dos “intelectuais” do conservadorismo católico no Brasil, “a remoção da Paglia é um gesto claro de que Leão XIV pretende restaurar a integridade moral e doutrinária dos organismos da Santa Sé”. Há também pressões para que mudanças também ocorram na secretaria geral e relatoria do Sínodo, bem como no Dicastério das Comunicações e no Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

Assim como tivemos, no passado recente, o debate em torno ao diálogo e anúncio, com Bento XVI sublinhando a prioridade do anúncio, temos agora a preocupação do novo papa em retomar o lugar da “doutrina” católica. A prioridade agora é com a doutrina, mais do que com o diálogo. Vimos isso com clareza em sua homilia na missa para os cardeais eleitores, quando firmou uma visão bem cristocêntrica, com ênfase na divindade de Jesus. Em discurso aos representantes de outras igrejas e comunidades eclesiais e de outras religiões, Leão XIV reiterou essa ênfase na doutrina. Chamou a atenção para a importância do “vínculo eclesial” quando se fala em encontro com a diversidade. Sinalizou com firmeza a ideia de unidade, que a seu ver “só pode ser a unidade na fé”. Mesmo reconhecendo que vai seguir a linha da sinodalidade de Francisco, Leão XIV vai, na verdade, priorizar a busca de unidade e não tanto de abertura plural. 

 

Ainda a respeito de sua preocupação com a doutrina católica, cito também aqui o discurso de Leão XIV aos membros da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, no dia 17 de maio de 2025. Em seu discurso, o papa Prevost sublinhou que as palavras diálogo e doutrina não são incompatíveis. O papa busca em seu discurso apontar para um outro significado de “doutrina”, agora com base na Doutrina Social da Igreja. Enfatiza que esse novo significado de doutrina, entendida agora como “ciência”, “disciplina” ou “saber”, mostra-se essencial no momento atual. Sem tal compreensão, o próprio sentido de diálogo “se esvazia”. A seu ver, a doutrina não é uma opinião, mas “um caminho comum, coral e até multidisciplinar rumo à verdade”.

 

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Do diálogo à doutrina: uma nova sinalização na conjuntura eclesial

 

Pensando aqui no momento atual do pontificado de Leão XIV. Ainda é cedo para avaliações mais precisas, mas fico preocupado com o acento que o novo papa vem dando ao termo “doutrina”, bem como “Unidade”. São duas expressões que marcam a sua entrada no pontificado. Os núcleos conservadores, como o Centro Dom Bosco, estão radiantes de alegria com os primeiros indícios que se manifestam. 

 

Cito aqui a recente remoção de Vincenzo Paglia do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família. Em seu lugar veio nomeado o cardeal Baldassare Reina, que é vigário geral de Leão XIV e Chanceler da Lateranense. 

 

Isso significa que Leão XIV está preocupado com os debates que aconteceram anteriormente, com Francisco, a respeito da família. Vale agora o seu novo mote: a família é fundamentada na “união estável entre um homem e uma mulher”. 

 

Vejo aqui um influxo, ainda que indireto, às pressões do cardeal Raymond Burke, do núcleo duro conservador, que sempre atacou Francisco nessa temática da família, e atual também no recente Conclave. Em dezembro de 2013, ele reagiu com firmeza contra uma entrevista de Francisco concedida à "Civiltà Cattolica".

 

Como lembrou um dos “intelectuais” do conservadorismo católico no Brasil, “a remoção da Paglia é um gesto claro de que Leão XIV pretende restaurar a integridade moral e doutrinária dos organismos da Santa Sé”. 

 

Há pressões para que mudanças também ocorram na secretaria geral e relatoria do Sínodo, bem como no Dicastério das Comunicações e no Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

Há também insatisfações bem precisas com respeito à vigência da carta apostólica de Francisco, "Tradutionis Custodes", de julho de 2021, que restringe a celebração da missa tradicional em latim. Passos distintos com respeito a tal decisão de Francisco já começam a ser visibilizados. O que existe é, de fato, uma saudade do moto proprio "Summorum Pontificum", de Bento XVI (2007), que facultava aos padres celebrar a missa tradicional em latim. Penso que isso vai começar a ocorrer, com inspiração nas duas primeira missão de Leão XIV, onde o latim foi consagrado.

 

Assim como tivemos, no passado recente, o debate em torno ao diálogo e anúncio, com Bento XVI sublinhando a prioridade do anúncio, temos agora a preocupação do novo papa em retomar o lugar da “doutrina” católica. A prioridade agora é com a doutrina, mais do que com o diálogo. 

 

Vemos aqui a força e o peso de sua herança agostiniana.

 

Vimos isso com clareza em sua homilia na missa para os cardeais eleitores, quando firmou uma visão bem cristocêntrica, com ênfase na divindade de Jesus. 

 

Em discurso aos representantes de outras igrejas e comunidades eclesiais e de outras religiões, Leão XIV reiterou essa ênfase na doutrina. 

 

Chamou a atenção para a importância do “vínculo eclesial” quando se fala em encontro com a diversidade. 

 

Sinalizou com firmeza a ideia de unidade, que a seu ver “só pode ser a unidade na fé”. Mesmo reconhecendo que vai seguir a linha da sinodalidade de Francisco, Leão XIV vai, na verdade, priorizar a busca de unidade e não tanto de abertura plural. 

 

Ainda a respeito de sua preocupação com a doutrina católica, cito também aqui o discurso de Leão XIV aos membros da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, no dia 17 de maio de 2025. 

 

Em seu discurso, o papa Prevost sublinhou que as palavras diálogo e doutrina não são incompatíveis. 

 

O papa busca em seu discurso apontar para um outro significado de “doutrina”, agora com base na Doutrina Social da Igreja. 

 

Enfatiza que esse novo significado de doutrina, entendida agora como “ciência”, “disciplina” ou “saber”, mostra-se essencial no momento atual. Sem tal compreensão, o próprio sentido de diálogo “se esvazia”. A seu ver, a doutrina não é uma opinião, mas “um caminho comum, coral e até multidisciplinar rumo à verdade”.

 

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