terça-feira, 10 de junho de 2014

O diálogo como "paz artesanal"

O diálogo como “paz artesanal”

Há que buscar captar a teologia das religiões do papa Francisco. O teólogo italiano, Rosino Gibellini, busca fazer isso em artigo publicado no seu blog e também reproduzido hoje, 10/06/2014, no portal do IHU-Notícias[1]. Chamo a atenção para algumas coisas, todas recolhidas na linda exortação apostólica “Evangelii Gaudium”, publicada em novembro de 2013. Nota-se, em princípio, um tom de leveza e abertura. Francisco reconhece que “a diversidade é bela” (n. 230), sobretudo quando se disponibiliza para o exercício de reconciliação. As religiões têm um papel fundamental no empenho em favor da paz. O diálogo inter-religioso é não “condição necessária para a paz no mundo”, mas também “um dever para os cristãos” e os seguidores de outras comunidades religiosas (n. 250). Mas a paz, como lembra Francisco, é um exercício “artesanal”, envolve a paciência, mas também a ousadia de transformar as espadas em relhas de arado (Is 2,4). Gibellini enfatiza a riqueza desta expressão, “a paz é artesanal” (n. 244): usar essa expressão, lembra o teólogo, “significa confiar a paz a todos, para que cada um a implemente ´todos os dias` e com ´pequenos gestos`”. Francisco celebra felizes os pacificadores, retomando a passagem das bem-aventuranças. Essa abertura de Francisco visibiliza-se no seu diálogo com o judaísmo. Relembra o que tratou com ousadia João Paulo II: “Um olhar muito especial é dirigido ao povo judeu, cuja Aliança com Deus nunca foi revogada” (n. 247). Sublinha com energia que a fé do povo da Aliança está na “raiz sagrada da própria identidade cristã” (n. 247). Essa mesma delicadeza encontra-se na abertura ao islã, cujos fieís adoram com os cristãos o mesmo Deus misericordioso (n. 252). O diálogo é sobretudo uma conversa de amizade com os outros, pontuada pela abertura e acolhida, de partilha de suas alegrias e penas (n. 250). Para o seu exercício não se exige o recolhimento da fé, mas envolve a fidelidade às próprias convicções, mas sempre disponibilizada para o enriquecimento da alteridade (n. 251). O diálogo requer ainda, o vivo reconhecimento da liberdade religiosa. A liberdade religiosa, lembra Francisco, é um “direito humano fundamental”. Há que suscitar e celebrar “um sadio pluralismo”, que saiba respeitar a dignidade da diferença (n. 255).